Na série “mitos e mentiras”, abordamos na última semana o mito de que o “agro é pop”, expressão que tenta passar a ideia de que os latifundiários brasileiros são um bem para o País, e, quiçá, para o mundo, o que não passa de uma deslavada mentira. Neste artigo, trataremos de outro mito, muito difundido nas eleições gerais de 2018, de que os militares são incorruptíveis.
As Forças Armadas Brasileiras são formadas por cerca de 350 mil militares, e sua imensa maioria é constituída por soldados, cabos, sargentos e oficiais subalternos. O problema não está aí, mas na cúpula: oficiais generais, superiores e intermediários. A grande maioria dos militares (da ativa e da reserva) que ocupa milhares de “boquinhas” civis no desgoverno Bolsonaro, assim como a totalidade dos envolvidos em casos de corrupção no Ministério da Saúde, não é de baixa patente. São coronéis, tenentes-coronéis, majores e capitães, além do general-ministro. Foi a esses que o senador Aziz se referiu como “banda podre”, e que os comandantes das FFAA se apressaram em defender.
É esta mesma cúpula que até hoje defende a ditadura militar, que por 21 anos, apoiada numa brutal repressão sobre os sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, praticou o maior arrocho salarial de nossa história, para satisfação das burguesias financeira, industrial e agrária. Que reprimiu, torturou e matou, e que, contrariamente ao falso mito difundido, chafurdou na corrupção. E nem a censura impediu que viessem à tona escândalos nas obras da Transamazônica, Ferrovia do Aço, Ponte Rio-Niterói, Angra I, Polo de Camaçari etc.
Junto com o mito de incorruptíveis, caiu também o mito de que militares são nacionalistas. A atual geração se revela mais subserviente ao imperialismo norte-americano que a geração da ditadura. Por incrível que pareça, empresas estatais estratégicas, como Petrobras, Eletrobras, Vale e Banco do Brasil, que se mantiveram públicas durante o regime militar, hoje vão sendo privatizadas sem uma única voz de desacordo na cúpula militar.
A própria Embraer, gestada no ITA, foi privatizada e ia ser vendida à Boeing, com a aquiescência militar. Desgraçadamente, a maior parte dessa geração de Augusto Heleno, Braga Neto, Ramos, Mourão, Pazuello e Bolsonaro é também de oficiais entreguistas, vendilhões da pátria.
Cuba – Os protestos de sábado último contra o governo do presidente cubano Miguel Díaz-Canel. Não é novidade que Cuba passa por enormes dificuldades econômicas. Isso evidentemente provoca a insatisfação de parcela de seu povo, notadamente a parcela que não associa essas privações com o criminoso bloqueio econômico promovido contra a ilha pelos EUA. Há duas semanas o bloqueio voltou a ser condenado na ONU por 184 países e defendido por apenas cinco, os EUA e quatro governos vassalos (Israel, Brasil, Colômbia e Ucrânia).
O fato é que, desde 1962, os diferentes governos dos EUA, sejam republicanos ou democratas, tentam, com o boicote econômico, derrotar a Revolução Cubana. Para frustração de setores da esquerda brasileira que alimentam ilusões em Biden, este, ignorando cinicamente o boqueio, declarou de forma hipócrita que “os protestos decorrem de décadas de sofrimento econômico aos quais o povo cubano é submetido pelo regime de Cuba”. Mais claro, impossível, na defesa do Império, não há diferenças entre ele e Trump.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia