Este é o terceiro e último artigo no Brasília Capital em que trato de mitos que não passam de deslavadas mentiras. Já falei aqui dos mitos de que o agronegócio é uma dádiva para o Brasil e de que membros da cúpula militar são incorruptíveis e nacionalistas. Os fatos desmentem tais teses. Outros mitos poderiam ser citados, como o de que o aumento do salário mínimo provoca inflação (pretexto para manter o salário arrochado) e de que não se deve comer manga com leite (pretexto usado por escravocratas para coibir o consumo escondido de leite pelos escravos).
Tratarei aqui de um outro que tem embalado manifestações da direita mundo afora há muitos anos. Sempre que o povo se mobiliza em torno de suas reivindicações, logo é tachado pela direita de comunista e são levantados os lemas de defesa “da pátria, da família, da liberdade e da propriedade”, tudo em nome de Deus. E, aqui no Brasil, clamando pela intervenção dos militares para garantir tais bandeiras. Mas o mito de que a direita defende a pátria, a família e a liberdade não passa de desavergonhada mentira.
Para a direita, o significado de pátria não vai muito além da bandeira, hino e camisa da seleção de futebol. Pouco importa se a maioria de seu povo está empobrecido, milhões famintos, as florestas sendo destruídas, os serviços e o patrimônio público dilapidados. Quanto à família, deve ser patriarcal, reservando às mulheres o papel de meras reprodutoras e cuidadoras dos filhos e da casa.
Já o conceito de liberdade é evocado para atacar, caluniar e difamar os que pensam diferente, apelando à liberdade de expressão para clamar pela volta do AI-5, instrumento que baniu a liberdade de expressão e de organização no país durante a ditadura militar.
A propriedade privada e a riqueza são veneradas, mesmo que acumuladas com base na superexploração do trabalho alheio, na sonegação de impostos, na invasão de terras públicas ou geradas por leis que os favoreçam. A extrema desigualdade social em nada os incomoda. Usam e abusam do conceito de meritocracia, como se as oportunidades fossem iguais para todos.
Em nada se distinguem dos nazistas e dos patéticos membros da Ku Klux Klan. Defendem o ideal supremacista do homem branco, misógino, racista, xenófobo, homofóbico e religiosamente intolerante. Dois anos e meio no poder foram suficientes para colocar a nu esta banda podre do povo brasileiro, felizmente minoritária.
O recente episódio de corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde revela o perfil dessa turma, envolvendo diversos coronéis lotados no MS, um pastor evangélico e um tal Instituto Força Brasil, comandado por direitistas e militares investigados no processo das fake news.
Finalizo com Cuba. Depois da manifestação de alguns milhares de cubanos contra o regime, realizada em 10 de julho, no último sábado as ruas de Havana receberam mais de 100 mil cubanos mobilizados pelos Comitês de Defesa da Revolução (CDR), além de atos em diversas cidades do país. Essas manifestações foram quase ignoradas pela grande mídia, ao contrário do ato contrarrevolucionário, quando vários carros foram incendiados e dezenas de lojas saqueadas e depredadas.
O que no Brasil receberia o rótulo de vandalismo, em Cuba é visto como atos de heroísmo. E na condenação do regime cubano estiveram lado a lado a grande mídia, Bolsonaro e…. Ciro Gomes.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia