Zilta Marinho e Orlando Pontes
Na sexta-feira (3), Michel Temer completou 21 dias como presidente interino. Golpista por uns e representante da esperança para outros, Temer tomou decisões que mudaram a rota do plano do governo Dilma, vencedor das eleições de 2014. Tais medidas repercutiram imediatamente, dentro e fora do país. Não se sabe de Dilma Rousseff voltará, mas a única certeza é de que o país navega por outras águas.
Os 39 ministérios foram reduzidos a 21, com a fusão de algumas pastas. Mas, inconformados com a fusão do ministério da Cultura com o da Educação, artistas e lideranças de movimentos culturais fizeram muito barulho nas redes sociais e nas ruas. Temer recuou e nomeou ministro o então recém-indicado secretário da Cultura, Marcelo Calero. Os que não concordaram com essa decisão travaram uma batalha virtual conta a Lei Rouanet, que acabou ganhando CPI no Congresso.
O economista Henrique Meirelles, agora ministro da Fazenda, selecionou nomes que juntos foram considerados a “equipe dos sonhos”, que está identificando despesas e receitas, passadas, presentes e futuras. O time de Meirelles anunciou um rombo de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas de 2016. O Congresso, após rápida negociação, aprovou a nova meta fiscal, embora tenha resistido vários meses a votar o projeto anterior de Dilma, que previa um déficit bem menor, abaixo dos R$ 100 bilhões.
Petrobras
Indicado por Temer, Pedro Parente teve seu nome aprovado pelo Conselho Administrativo da Petrobras para comandar a empresa. Com uma dívida enorme, a estatal passa a ser dirigida por um homem de mercado, que já anunciou a venda de ativos e a internacionalização da exploração do pré-sal, causando indignação entre os funcionários da estatal. Defensor da ideia e aliado do ministro das Relações Exteriores, José Serra, o líder de Temer no Senado, Aloísio Nunes (PSDB-SP), foi hostilizado por um grupo de sindicalistas no aeroporto de Brasília.
O presidente interino também foi atacado por não ter nomeado uma só mulher para o primeiro escalão. Para driblar essa crítica, indicou Maria Sílvia Bastos Marques para presidir o BNDES. Depois vieram Flávia Piovesan para a Secretaria de Recursos Humanos e a ex-deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) como secretária de Políticas para Mulheres.
O apoio do Congresso
Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Temer sabe como conversar com os parlamentares. E tem cuidado pessoalmente de negociar com o Congresso e os 32 partidos lá representados. Sua prioridade óbvia é sair da condição de interino para a de presidente efetivo.
Para isso, tem negociado com os senadores a acelerarão do julgamento do impeachment de Dilma. Na quinta-feira (2), a Comissão Especial chegou a aprovar a antecipação em vinte dias da sessão que definirá o futuro da presidente. Mas a bancada fiel a Dilma protestou e o presidente do colegiado, Raimundo Lira (PMDB-PB), adiou a decisão para a tarde de segunda-feira (6).
A pressa de Temer e seus aliados se baseia em dois aspectos: a queda vertiginosa da aprovação do governo interino – medida por pesquisas para consumo interno do Palácio do Planalto – devido à adoção das duras medidas de ajuste fiscal e de corte de investimentos (inclusive sociais), e o temor dos novos desdobramentos da operação Lava-Jato.
Em menos de duas semanas, Temer perdeu dois ministros – Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência) – flagrados em conversas pouco republicanas com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em tramas para esvaziar os trabalhos da força-tarefa comandada pelo juiz Sérgio Moro. E o presidente interino sabe que existem muitos parlamentares envolvidos em denúncias, além de gente que integra sua equipe.
Some-se a isso a situação instável do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na quinta-feira (3), o STF recusou seus argumentos e o processo contra o parlamentar suspenso deve ser votado nos próximos dias pela Comissão de Ética. Cunha representa um perigo, uma vez que detém informações privilegiadas sobre a metade do Parlamento, e, acuado, pode incendiar o mundo político. A começar pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que responde a vários processos e está prestes a também ser afastado.
Movimentos sociais
Acusado de golpista, Temer é rejeitado por movimentos como o MST, UNE e CUT, que espalham manifestações país a fora contra sua permanência no cargo. Todos exigem a volta de Dilma. Enquanto isso, na gangorra de Temer o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, recuou em algumas declarações, assim como Ricardo Barros, da Saúde. Ricardo Melo, exonerado do comando da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), foi reconduzido pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, criando uma saia justa. O indicado do presidente interino, Laerte Rimoli, vai ter que esperar mais um pouco para assumir o cargo.
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