Semana passada, o presidente Biden convocou e coordenou uma conferência internacional sobre o clima, marcando o retorno dos EUA ao debate mundial sobre mudanças climáticas. Para além das renovadas promessas dos líderes sobre redução das emissões de carbono, o que mereceu destaque foi a fala de Bolsonaro. Inicialmente, por ser relacionado como o 21º orador, atrás, além dos líderes das potências mundiais, também de países como Bangladesh, Argentina, África do Sul e Ilhas Marshall, escancarando a atual irrelevância do país no cenário mundial. E também para o corolário de mentiras proferidas, prometendo o máximo esforço no combate ao desmatamento ilegal, e eliminá-lo até 2030, para no dia seguinte cortar em 30% os recursos da fiscalização ambiental.
A mentira descarada, todos sabem, é a marca de Bolsonaro e de seu governo. Seus ministros mentem impavidamente em entrevistas na mídia local e nos eventos internacionais, negando cinicamente a falta de combate à pandemia, à ocorrência da fome e o avanço do desmatamento. Aliás, a mentira e a disseminação de notícias falsas, sustentadas pelo dinheiro de ricos empresários, foi o método que possibilitou sua eleição em 2018. Foi um verdadeiro festival de fake news, muitas inescrupulosas – como a de que o filho de Lula era o dono da JBS e a de que Haddad distribuía mamadeiras na forma dos órgãos genitais masculinos – lamentavelmente não combatidas pelo TSE e vergonhosamente não investigadas pelo Congresso Nacional.
Passados 60% do mandato, o governo Bolsonaro é um desastre completo, mas embora a aprovação a seu governo tenha caído, ainda se mantém entre 25% e 30%, percentual suficiente para levá-lo ao 2º turno em 2022. E, conforme me alertou um velho amigo do Senado, é aí que “mora o perigo”, pois o que viria seria o vale tudo. De fato, bastou Lula assumir a dianteira nas pesquisas eleitorais para as fake news ganharem fôlego: a jornalista bolsonarista Leda Nagle tuitou a falsa notícia de que a Polícia Federal tinha detectado um plano de Lula e de membros do STF para assassinar Bolsonaro; este declarou no “chiqueirinho” que Lula incentiva beijo entre homens em público e circulou nas redes uma capa forjada da Veja com Lula ameaçando Fachin, do STF. Isto para ficar em apenas três casos.
O cinismo bolsonarista é tão acintoso que até o conservador “Estadão” – que junto com O Globo e Folha de S.Paulo tanto se empenharam em derrotar o PT – manifestou em editorial seu espanto com o 01, Flávio “Rachadinha”, alertando que a CPI presencial seria um risco para senadores e funcionários do Senado “pela promoção de aglomeração” (sic). O bolsonarismo não tem programa, não tem propostas para a resolução dos graves problemas do País, não passa de um amontoado de militares e civis oportunistas que se dispõem a atender, de forma anacrônica, os interesses imediatos das burguesias financeira, industrial e agrária. Bolsonaro não terá o que apresentar em 2022 – afinal, acumula fracassos – ou o que dizer, pois é incapaz de articular o mais simples argumento. Assim, como não deverá ocorrer outra facada que o “salve” dos debates na campanha, só lhe restará as mentiras, as calúnias e as falsas notícias, que é o campo em que sabe e gosta de jogar. É preciso detê-lo!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia