Um verdadeiro esquema de vendas paralelas de sucata metálica de propriedade do Poder Público veio à tona na Estrutural. Ele envolve seis empresas de ferro-velho, trabalhadores terceirizados, servidores de instituições do GDF, do Governo Federal e até militares. Veio à tona a partir de queixas de catadores do lixão da Estrutural. Denunciam que sucatas metálicas (o filé mignon dos catadores) não estavam sendo despejadas no lixão e que iam direto para as empresas que compram e vendem ferro velho.
Documentação fotográfica feita pelo presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas da Estrutural – Ampec/Scia, Alexandre Amaral Bedran, flagrou a comercialização de metais recicláveis de diversos órgãos públicos. A meta de Bedran não era denunciar o desvio de patrimônio público. A preocupação era mostrar o prejuízo dos catadores. Segundo ele, esse esquema de receptação de sucata pública representaria cerca de R$ 18 mil a cada dois dias. Ao longo do mês, seriam quase R$ 300 mil, já que o negócio não parou nem durante o Natal. Os recursos não iriam para os órgãos públicos.
Bedran flagrou caminhão do Exército, veículos com logomarcas da Caesb e da Novacap, do Ministério do Planejamento e da própria Valor Ambiental, contratada pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Somente o Exército reconheceu o ocorrido e disse que tomaria as medidas necessárias. Nas fotos, o material comercializado seriam ferraduras velhas do Regimento de Cavalaria de Guarda, mas em nota, a Comunicação do Exército afirma tratar-se de “material inservível” recolhidos no interior do Setor Militar Urbano numa ação de prevenção da Dengue.
“Imediatamente, ao tomar ciência do fato, o Comando da Unidade determinou que o valor arrecadado, R$ 183,00, fosse recolhido ao Fundo do Exército, como regem as leis e normas que regulam esse tipo de ação. O Comando do Regimento, também, determinou a elaboração de orientações sobre como proceder em ações dessa” disse em nota.
Os demais órgãos não assumiram responsabilidades. O Ministério do Planejamento sequer respondeu à consulta formulada. A Novacap alegou tratar-se de caminhões terceirizados e que já não mais prestavam serviço a empresa, embora ainda estivessem portando “irregularmente” adesivo da empresa. Na Caesb, que teve registrada a ação de uma Kombi e de um caminhão, nos dias 23 e 24 de dezembro, a história foi parecida. A Kombi é terceirizada e a empresa pediu que a contratada apurasse o ocorrido. O caminhão portaria “descarte de entulho de obra”, mas que à luz das imagens irá investigar. O SLU disse que a venda de sucata pela Valor Ambiental fere as normas internas e que “os resíduos recicláveis são encaminhados pelas empresas contratadas, de forma exclusiva e gratuita, às cooperativas de materiais recicláveis cadastradas no SLU”. Mas não explicou por que isso não acontece.
Enquanto o Poder Público fechar os olhos, os reis da sucata vão enriquecendo.
} else {