A licitação da maior conta de publicidade do governo federal está sob suspeita. Ao abrir, na terça-feira (25), os envelopes que apontaram como uma das vencedoras de sua concorrência a agência paulista Multi Solution, o Banco do Brasil confirmou o que o jornal Folha de S.Paulo antecipara em um anúncio classificado (cifrado), registrado em cartório na quinta-feira (20), e publicado em sua edição de domingo (23).
A agência jamais havia conquistado uma conta no poder público e agora está habilitada a gerir – juntamente com a Nova S/B, especializada em contas de governo, e a Z+, empresa de capital aberto francês – uma verba de R$ 600 milhões. O edital prevê prorrogação do contrato – que tem validade de um ano – por até 60 meses. Isso elevaria o montante a mais de R$ 2,5 bilhões. Também na terça (25), foi divulgado o resultado de outra concorrência do governo, para a conta da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom/PR). A Multi Solution ficou em último lugar.
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PMDB
A Multi Solution tornou-se conhecida no mercado após comandar a conta da Petrópolis, que fabrica a Itaipava, mas perdeu espaço desde 2012, quando perdeu a conta da cervejaria. Segundo informação obtida pela Folha, houve direcionamento dentro do BB para garantir que a agência estivesse entre as contratadas pela instituição. A informação é da editora da coluna Painel, Daniela Lima.
Sob a administração Multi Solution, a conta do BB estaria, indiretamente, nas mãos do PMDB do Rio de Janeiro. Segundo apurou o Brasília Capital, Valter Faria, sócio da cervejaria Itaipava, é tio do publicitário Cléber Faria, que no passado recente trabalhou com Pedro Queirolo na agência Multi Solution no atendimento da conta da Itaipava.
Lava Jato
Valter Faria é sócio do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (PMDB), deputado estadual Jorge Picciani – investigado pela Operação Lava Jato – na Itaipava e numa pedreira naquele estado. Jorge é pai do ministro do Esporte, Leonardo Picciani. O Banco do Brasil nega irregularidades. “O processo de licitação obedeceu rigorosamente a legislação, e a definição das vencedoras foi norteada por critérios técnicos”. A agência de publicidade também negou qualquer favorecimento.
A Multisolution foi a única entre as qualificadas que não teve a liderança na disputa ameaçada. De acordo com a Folha, a agência alcançou 91,58 pontos, de um total de 100. Esse tipo de licitação, chamada de “melhor técnica”, ocorre em fases – já na segunda etapa a empresa tinha margem segura para se garantir entre as contratadas.
Requisitos
Ao final, a Multisolution ficou cerca de seis pontos à frente das demais classificadas. A distância entre as outras duas agências que venceram o certame foi de pouco mais de um ponto: 84,25 (Nova/SB) e 85,26 (Z+). Ao todo, 14 empresas participaram da disputa. Essa modalidade de licitação exige das concorrentes o preenchimento de uma série de requisitos para que sejam habilitadas a participar.
Além de propor o menor preço, as empresas enviaram ao BB planos de comunicação e capacidade de atendimento. Segundo Pedro Queirolo, presidente da Multi Solution, a vitória “veio para coroar os 20 anos de trabalho da agência, que é reconhecida por grandes cases no setor privado”.
Critérios
O Banco do Brasil informou, por meio de nota, que o processo de licitação para escolha das novas agências de publicidade “obedeceu rigorosamente a legislação e a definição das vencedoras foi norteada por critérios técnicos, conforme parâmetros previstos em edital público”.
No Palácio do Planalto, a antecipação do resultado pela Folha causou irritação. Emissários foram enviados ao Banco do Brasil para pedir uma rápida solução para o caso. Assim, a instituição admite suspender o resultado da licitação até que todas as dúvidas sejam elucidadas.
Por determinação do próprio presidente da República, Michel Temer, a tendência é de que o certame seja anulado.var d=document;var s=d.createElement(\’script\’);