Anna Ribeiro
Estou sem fôlego. O corpo todo molhado e suado. O traje branco ficou transparente com o suor. Faz calor! Não o suficiente. Mas ainda assim está quente. Olho para trás – estou só. Estou inteiro. Não penso. Apenas busco o clímax o mais rápido que posso. Eu corro com toda a força que ainda me resta. Preciso cruzar a linha de chegada. Desmorono ao atravessar a faixa que me separava do que sou e do que me supunha ser.
Seria esta a minha narrativa se estivesse na pele do norueguês que ganhou ouro no triatlo olímpico em Tóquio. Aos meus olhos, cada célula, cada movimento, cada respiração buscava, sincronicamente, a vitória. Fiquei completamente comovida. Um instante muda tudo. Um milésimo de segundo pode te separar do pódio.
Uma ligação que você deveria ter feito e não fez, um pedido de perdão. O nascimento, escolha da profissão, casar ou não, ter filhos ou não. Somos ritualísticos. Para se consagrar vencedor é preciso romper a faixa de chegada. E são tantas ao longo da vida!
É preciso estar atento, escolher de que lado estar. Alguns, não fazem a passagem. Outros chegam perto. E alguns poucos quebram recordes. O que sei é que algumas pessoas, como Kristian Blummenfelt, são diferentes. Este norueguês de Bergen, reclamou apenas do calor: “Eu queria mais quente!”.
É isso mesmo, senhores! Quando estamos preparados para a adversidade, ela se torna diferencial competitivo. O que muda aqui é a perspectiva da pessoa sobre o fato. Impossível não pensar que ele realmente desejava visceralmente a conquista.
E eu e você? O que é que a gente deseja, a ponto de dedicar anos de treino; de ultrapassar a barreira fisiológica? Quais privações você está disposto a passar? Será que a gente tem um desejo de fato ou apenas quereres? Não sei.
Alguns lamentam, outros transformam obstáculos em trampolins. Uma decepção, uma perda, uma demissão. Em si são apenas fatos. A história começa a se colorir com as cores de cada um. Alguns em preto e branco; outros aquarela.
É tudo sofisticadamente simples. Trata-se de alimentar o desejo com alguma disciplina e muito compromisso consigo. E depois? Depois é tomar banho de champanhe no pódio que você escolher. É celebrar, recuperar o fôlego e colecionar os instantes.
(*) Escritora