Stéphanie Habrich (*)
A introdução da Inteligência Artificial (IA) no jornalismo remete à transição vivida com a chegada da internet. No início da era digital, muitas redações demonstraram receio quanto ao impacto da nova tecnologia na produção e distribuição de notícias. Hoje, a internet é dominante e indispensável. E a IA segue esse mesmo caminho – desafiadora, mas repleta de oportunidades para aprimorar o setor.
Iniciativas internacionais, como a edição especial lançada pelo jornal italiano Il Foglio, já demonstram a aplicação prática da IA na produção jornalística, com artigos e imagens gerados por algoritmos. No Brasil, veículos como O Estado de S. Paulo e O Globo utilizam essa tecnologia para personalizar conteúdos e recomendar notícias conforme o perfil dos leitores, sempre com cautela e transparência.
Um aspecto fundamental dessa transformação é a ampliação do acesso à informação para todos os públicos. Embora o jornalismo tradicional seja voltado predominantemente para adultos, é vital que as novas gerações aprendam desde cedo como as notícias são produzidas.
No Brasil, a cultura de jornais para crianças ainda tem muito espaço para crescimento. Enquanto iniciativas como a dos jornais Joca e Tino Econômico se destacam, em muitos países publicações voltadas para o público infantil já são rotineiras e fazem parte da chamada educação midiática. A IA pode ser uma aliada nessa missão, permitindo a customização de conteúdos e contribuindo para que crianças e adolescentes desenvolvam uma compreensão crítica e interativa sobre a construção da notícia.
Além disso, a tecnologia também revitaliza o impresso. Ferramentas de automação e personalização estão sendo aplicadas na diagramação, na gestão de tiragens e na distribuição, tornando o formato tradicional mais eficiente e alinhado aos interesses do público e das empresas jornalísticas. A sinergia entre o digital e o impresso reforça a importância de uma abordagem integrada, onde a IA potencializa a capacidade dos veículos de se adaptarem a um mercado em constante transformação.
As novas ferramentas agilizam processos como a transcrição de entrevistas, a análise de grandes volumes de dados e a produção de conteúdos estruturados, liberando os jornalistas para investigações mais profundas e análises críticas. A entrega de notícias personalizadas, aumenta o engajamento dos leitores e facilita a checagem rápida de informações – fatores que reforçam a credibilidade do jornalismo.
Contudo, a implementação da IA impõe desafios éticos e profissionais, como a necessidade de treinamento especializado e a vigilância constante para evitar a disseminação de informações falsas. A transparência no uso dessa tecnologia é, portanto, essencial para manter a confiança do público e garantir a integridade do processo jornalístico.
Em síntese, a jornada de adaptação do jornalismo à era do ChatGPT e de outras plataformas semelhantes não só fortalece a produção de notícias para o público em geral, mas também abre caminho para uma imprensa mais inclusiva, educativa e integrada – tanto no digital quanto no impresso. Assim como a internet transformou a maneira de produzir e consumir informação, a IA, quando aplicada com sensatez, promete preparar as novas gerações para um mundo cada vez mais midiático.
(*) Fundadora e diretora-executiva do jornal Joca e Jornal Tino Econômico