Neste 21 de abril, Brasília completa 65 anos. O tempo passa e não se vê, por parte dos sucessivos governos do DF e de Goiás, qualquer iniciativa ou estratégia para o aproveitamento de um de seus maiores potenciais: o Eixo Brasília–Anápolis–Goiânia.
Em 1999, a pesquisa “Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil”, realizada pelo IPEA/IBGE/Unicamp, identificou 12 sistemas urbano-regionais no Brasil. Um deles é Brasília-Goiânia. Os demais eram comandados pelas três metrópoles da região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte); duas da região Sul (Porto Alegre e Curitiba); quatro do Nordeste (Salvador, Recife, Fortaleza e São Luís); duas da Região Norte (Belém e Manaus) e Cuiabá, no Centro-Oeste.
No documento consta: “Brasília e Goiânia são dois núcleos urbanos importantes, relativamente próximos, que exercem funções complementares e não devem ser tratados separadamente, existindo uma relação peculiar entre a massa populacional (Brasília e seu entorno) e a potência de polarização (Goiânia). Esta particular forma espacial foi denominada de complexo territorial de Brasília-Goiânia”.
Segundo a pesquisa, a região polarizada por ambas compreendia o DF, Goiás, o noroeste de Minas Gerais, o leste do Mato Grosso além do Tocantins, oeste da Bahia e sul do Maranhão e Piauí, que viriam a formar o chamado MATOPIBA. Se estendia por cerca de 1 milhão de Km² e possuía, à época, 9 milhões de habitantes.
Tal situação chamava a atenção. Além da peculiaridade de se tratar do único sistema urbano-regional comandado conjuntamente por duas metrópoles próximas (200 Km), eram também as duas metrópoles com maior taxa de crescimento demográfico e econômico do país. No mesmo ano de 1999, num evento promovido pelo Sindicato dos Economistas/DF, que eu presidia, apresentei o Estudo “O Eixo Brasília-Goiânia como foco dinâmico da economia do Brasil Central”, logo rebatizado como “Eixo Brasília-Anápolis-Goiânia”.
Destacava que o Eixo formado pelas duas áreas metropolitanas, juntamente com a aglomeração urbana de Anápolis (importante centro industrial situado entre ambas), somava 4,7 milhões de habitantes. Ou seja, mais de 50% da população de toda a sua região de influência e cerca de 60% de seu PIB. E já era o 3º maior mercado consumidor do país.
Pela primeira vez era identificado o enorme potencial representado pela dimensão combinada das duas metrópoles que comandavam a região de mais acelerado crescimento econômico e demográfico do país desde a década de 1960.
Mas, no mesmo estudo, apontava que a estrutura econômica do “Eixo” era pouco diversificada em face de importantes lacunas em termos de infraestrutura de transporte e energia. Entre outras. O fato é que nunca houve uma ação articulada entre os governos do DF e de Goiás que propiciasse uma efetiva diversificação da estrutura produtiva da região e um crescimento econômico mais sustentável. O único passo dado nos últimos 25 anos foi a institucionalização, pelo governo de Goiás, da “RM do Entorno de Brasília”.
Na RM de Brasília, a baixa diversificação da estrutura produtiva é explicitada por seu mercado de trabalho, com a ocupação concentrada no setor público e em serviços de baixa complexidade e reduzida expressão do setor industrial. Em 2024, de 1,46 milhão de pessoas ocupadas no DF, segundo a PED/DF, apenas 48 mil estavam na indústria (pouco mais de 3%). No Entorno Metropolitano, eram 32 mil.
Já de acordo com o estudo “Cidades Industriais Brasileiras”, do Dieese, com base em dados do CAGED, a indústria do DF em 2021 gerou apenas 39 mil postos de trabalho com carteira. A título de comparação, em Goiânia eram 44 mil e 40 mil em sua periferia metropolitana. E em Anápolis, com população quase 8 vezes menor que o DF, eram 32 mil, tendo triplicado desde 2002.
Não surpreende, portanto, que a taxa de desemprego na RM de Brasília seja tão elevada (15,6%), com 366 mil desempregados e outros 730 mil na informalidade, na condição de assalariados sem carteira, autônomos, empregados domésticos ou familiares sem remuneração. Da PEA de 2,36 milhões na RM de Brasília, nada menos que 1,1 milhão (47%) estavam desempregados ou na informalidade.
Hoje a ampla região polarizada por Brasília e Goiânia comporta cerca de 16 milhões de habitantes e possui um PIB de quase R$ 1 trilhão. E o Eixo Brasília-Anápolis-Goiânia chega em 2025 a 7,6 milhões de habitantes, sendo 4,38 milhões na RM de Brasília (3,01 milhões no DF e 1,37 milhão no Entorno Metropolitano); 2,74 milhões na RM de Goiânia e 470 mil na aglomeração urbana de Anápolis.
É, com folga, o 3º maior mercado consumidor do país, só superado pelas RMs de São Paulo e Rio de Janeiro. Como cresce à razão de 100 mil habitantes/ano, chegará em 2030 a 8,1 milhões e em 2040 deverá girar em torno de 9 milhões de habitantes.
O que falta para se começar a trabalhar numa estratégia conjunta de desenvolvimento?