Eleito senador em 2018 com 399.297 votos (15,33% dos votos válidos), Izalci Lucas (PSDB), 64 anos, não esconde o desejo de ser governador do DF. Mas acha que ainda é muito cedo para discutir 2022. “Antecipar o debate das eleições não é bom para Brasília”, pondera ele, nesta entrevista ao Brasília Capital.
O senador elogia iniciativas do governador Ibaneis Rocha (MDB), como a transformação do Instituto Hospital de Base (IHBDF), criado pelo ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), em Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGES), expandindo-o para o Hospital de Santa Maria e para algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Favorável à militarização das escolas, uma proposta do governo federal encampada pelo GDF, o senador defende a política de segurança pública do presidente Jair Bolsonaro (PSL) – de quem é vice-líder no Senado – comandada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. E vê coerência no discurso do presidente brasileiro na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), terça-feira (24), em Nova Iorque.
O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso contundente da ONU, mantendo uma linha de confronto com potências como a França e a Alemanha. Como parlamentar da base do governo, qual a sua avaliação da postura do presidente? – Eu acho que ele foi muito autêntico. É o jeito dele. Deixou o recado que ele sempre deu no sentido de soberania nacional, deixando claro que há algumas colocações que a gente vai ouvindo e daqui a pouco vira verdade, como a de que a Amazônia é patrimônio da humanidade, quando na realidade é um patrimônio nosso. Tem muita gente morando lá com dificuldade, passando fome, em cima de muito minério, nióbio, ouro, diamante e petróleo. Então essa política tem que ser desenvolvida pelo Brasil, e o Bolsonaro deixou isso claro. Ele defendeu o que defendeu na campanha.
Por falar em campanha, a impressão é de que o presidente ainda não desceu do palanque… – É evidente que depois de 14 anos de governo do PT, ele está mostrando o que disse na campanha, no sentido de mudar completamente o destino que estava sendo encaminhado pelos governos anteriores. Ele é autêntico. É o jeito dele. Evidente que atrapalha um pouco as articulações. Aqui no Congresso a situação é difícil. Mas ele foi eleito com esse discurso.
E o senhor concorda com esse discurso? – Ele defende o que ele pensa e o que disse na campanha, e ganhou a eleição com esse discurso. É o que a população quer. Agora, algumas coisas são fundamentais para o País, como as reformas da Previdência e tributária e o pacto federativo. E acaba que a gente tem dificuldade na aprovação, em função das articulações. Mas acho que está caminhando. A tendência é a gente aprovar as reformas e fazer mudança na educação.
O senhor é a favor da militarização das escolas? – Apoio completamente, em função de que o mundo real hoje é difícil. Não existe mais respeito pelo professor. Os alunos não aprendem nada. Acho que pelo menos disciplina e hierarquia é fundamental para organizar o modelo.
O senhor foi pré-candidato ao GDF e acabou se elegendo senador. E agora tem trabalhado para trazer recursos para Brasília, com gestões junto ao governo federal e por meio de emendas parlamentares. É a sua pré-campanha para 2022? – Não. Está muito cedo para discutir 2022. Antecipar as eleições não é bom para Brasília, embora a gente perceba que tem muita gente do próprio governo que tem contribuído com isso, buscando esse confronto, discutindo esse assunto. Eu estou ajudando Brasília, independentemente de estar no governo ou não. Tudo que é bom para o DF, independentemente da questão partidária ou de governo, a gente vai apoiar.
Quais são os maiores méritos, até o momento, do governo Ibaneis? – Eu acho que qualquer coisa que está sendo feita já é melhor do que os governos anteriores. O Agnelo foi um desastre, destruiu e desestruturou o DF. O Rollemberg não fez nada e acabou mantendo o caos. Qualquer coisa que o Ibaneis fizer já melhora em relação ao passado.
Delimite um pouco esse “qualquer coisa”, porque qualquer coisa é muito amplo. – Por exemplo, a própria questão da escola, da gestão partilhada, já é uma sinalização de mudança na educação. Alguns projetos de obras estão em andamento, porque nós perdemos muitos recursos por falta de projeto. Pelo menos o governo agora está acompanhando. A gente cobra, todo dia, a questão das nossas emendas de 2016. Se você for computar as emendas individuais, são quase 500 milhões de emendas pendentes para serem executadas.
O Ibaneis disse que acabaria com o Instituto Hospital de Base. Mas reavaliou essa posição e na verdade ampliou o modelo para o Hospital de Santa Maria e para algumas UPAs. O senhor acha que essa política é boa? – A gente poderia consertar a Saúde independente disso, porque o problema da Saúde é gestão. Óbvio que quando ele viu o Instituto funcionando melhor que o sistema tradicional ele decidiu manter. Mas é que o sistema tradicional não foi trabalhado. O GDF tem muito recurso. O governo poderia buscar uma solução diferente. Por exemplo, hoje não temos um sistema integrado de tecnologia. Ninguém sabe o que está acontecendo nos hospitais de forma integrada, como o controle de estoque de medicamentos, por exemplo. Nós temos hoje 598 grupos de Saúde da Família. Se houvesse cadastrado no Ministério da Saúde, o GDF poderia ser ressarcido disso. Só tem duzentos e poucos cadastrados. O governo não tem ainda cadastrado no Ministério da Saúde. Os nossos hospitais e os médicos não cadastram os procedimentos adotados. Então é muito recurso perdido.
E quanto à execução das emendas parlamentares? – Não é de agora que o GDF não consegue executar nossas emendas. Nós quase perdemos a emenda do Hospital do Câncer. Só agora a gente conseguiu ampliar mais seis meses. O prazo foi prorrogado em função do trabalho que fizemos junto à Caixa Econômica. Eu fui pessoalmente à Liderança do Governo. Com isso, a gente conseguiu ganhar um prazo para começar a licitação e começar as obras. São mais de R$ 80 milhões dos hospitais que ainda não foram executados para a infraestrutura hospitalar, como instalações de ar-condicionado. Temos o viaduto lá do Recanto das Emas que não foi feito até hoje com uma emenda de 2017. Existem emendas individuais que não foram executadas. Então, ainda falta muita coisa.
Mas o senhor disse anteriormente que muita coisa já melhorou… – De fato. A gente percebe que o governo pelo menos está preocupado com isso. Na última reunião que tivemos com a bancada, praticamente todos os secretários participaram. Foi uma sinalização de que o governo quer, de forma diferente dos governos anteriores, trabalhar com a bancada no sentido de buscar mais recursos e executar as emendas.
Na questão da Segurança Pública, o Brasil e o DF têm registrado alguns crimes bárbaros. No Rio de Janeiro, a morte da menina Ágatha Félix, de oito anos, repercutiu internacionalmente. Inclusive, trouxe para o Senado o debate sobre o excludente de ilicitude contido no pacote do ministro Sérgio Moro. Em Brasília, ocorreu o assassinato do padre Kazimierz Wojno. O senhor acha que a segurança melhora com a política de a polícia enfrentar os criminosos abertamente no meio das ruas? – Nós temos em Brasília a melhor polícia do País, diferente do Rio de Janeiro. Aqui, o que está faltando é contingente. Estamos com a metade do contingente, tanto na Polícia Civil quanto na Militar. O DF já poderia estar bem mais amparado se usasse tecnologias já existentes. Assim como na Saúde, ainda não existe uma integração. Só agora está começando um modelo de integração entre a PM, a Civil e o Corpo de Bombeiros. Então, não há compartilhamento de informação. Não tem um banco de dados único. Não tem um processo de monitoração.
Então, a tecnologia deve ser aplicada em todas as áreas do governo… – Lógico. A inteligência é fundamental em qualquer área e a gestão só será eficiente se estiver bem aparelhada, inclusive na Educação. Deve ser um sacrifício imenso para essa meninada de hoje chegar numa sala de aula que não tem tecnologia nenhuma. Hoje todo mundo tem celular, tem acesso à internet. E chega na escola não tem acesso a nenhuma tecnologia. Então, é preciso investir muito nisso ainda.
Qual a mensagem o senhor deixa para a população do DF após os primeiros oito meses de mandato no Senado e fazendo um balanço dos governos local e federal? – As coisas estão melhorando. Os jovens tendo uma participação maior na política, o que eu considero muito importante. Afinal, a atividade política é a mais nobre que existe, porque ela muda a vida das pessoas. Mas para isso tem que saber escolher. Então, eu acredito que é preciso acompanhar, participar mais, ver qual é a proposta. Perceber que há uma diferença muito grande entre o mundo virtual e o mundo real. Durante a campanha todo mundo promete tudo. Eu nunca vi um político dizer que é contra a educação, contra a saúde, contra a segurança. Mas, na prática, no mundo real, é diferente. Então a população precisa perceber o que é isso. Como realmente pode contribuir para a melhoria da cidade, participando mais. O que falta no Brasil é política de Estado, os bons programas têm que ter continuidade. Hoje, cada governo que entra começa tudo do zero. Não tem uma política de Estado. Eu acho que é disso que estamos precisando.