Faltam pouco mais de 2 meses para as eleições nos Estados Unidos e, praticamente, todas as pesquisas eleitorais têm apontado a vitória do candidato democrata Joe Biden. Embora seja tradição nos, EUA, a reeleição do presidente, a situação de Donald Trump é muito complicada: a economia se encontra em recessão, o desemprego alcança mais de 20 milhões de norte-americanos e seu governo é apontado como o principal responsável pelos mais de 6 milhões de infectados e quase 200 mil mortos pela covid-19 naquele país.
A questão é: caminhará Trump, passivamente, para uma desenhada derrota eleitoral ou buscará uma “bala de prata”? E que “bala” seria? Claro, um confronto com um inimigo externo. Tal alternativa tem sido recorrente para presidentes norte-americanos melhorarem sua situação em disputas eleitorais: Johnson (Vietnã), Reagan (URSS) e Bush pai e Bush filho (Iraque). E a bola da vez seria o Irã.
Os Estados Unidos têm o costume de rotular como ditadura os países que não se dobram a seus desígnios, casos atuais de Cuba, Venezuela e Irã. O curioso é que os dois últimos seguem o modelo de democracia ocidental, realizando eleições presidenciais e legislativas a cada 4 anos, diferentemente, do que ocorre, por exemplo, na Arábia Saudita, monarquia absolutista, há 94 anos comandada pela família Saud, conhecida por suas práticas sanguinárias, mas que é amiga e protegida dos EUA.
Assim como são amigas e protegidas as outras cinco monarquias do lado ocidental do Golfo Pérsico (Emirados Árabes Unidos, Koweit, Catar, Bahrein e Omã), onde também não se vota, as mulheres não têm direitos e os trabalhadores não podem se sindicalizar.
Até 1979, o Irã era comandado pela truculenta ditadura do Xá Reza Pahlevi, amigo dos EUA, que foi deposto por uma enorme rebelião do povo iraniano, comandada pela liderança islâmica. Uma das primeiras medidas do novo governo foi nacionalizar as imensas reservas de petróleo e gás do país, e, claro, virou inimigo dos EUA.
Essa é a regra do “Império”: se está alinhado comigo, é meu amigo, e assim o foram ditadores, como Pinochet (Chile), Suharto (Indonésia), Batista (Cuba) e os generais brasileiros de 1964 a 85. Mas se não estão alinhados, são meus inimigos.
O fato é que a provável derrota de Trump, maior expoente da extrema direita no mundo, é motivo de preocupação para diversos presidentes direitistas, fascistas, monarcas absolutistas e ditadores espalhados pelo planeta, incluindo Bolsonaro, que poderá perder seu principal ponto de apoio. Mas isso abordaremos no próximo artigo.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável (UnB), ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia