Júlio Miragaya (*)
Na campanha eleitoral de 2018 para o GDF, em um dos debates na TV, o então candidato Ibaneis Rocha foi por mim indagado qual era sua proposta para combater o grave problema do desemprego em Brasília. Respondeu que, nos seis primeiros meses de seu governo, caso eleito, seriam gerados 100 mil empregos com carteira assinada.
Repliquei que isto seria impossível, pois, dos 1,3 milhão de pessoas ocupadas no DF, menos da metade (570 mil) tinham carteira assinada (no setor privado). Seria, portanto, um crescimento de 17,5% no contingente empregado em seis meses, e que isto só seria possível com um ritmo de expansão da economia da ordem de 30% a 35% ao ano, absolutamente distinto do que vivíamos então, com crescimento anual do PIB em torno de 1%.
Dei-lhe a oportunidade de corrigir a aberração, mas, para minha surpresa, ele confirmou a demagógica promessa de criar aqueles 100.000 empregos em apenas seis meses. Claro que isto não aconteceu. Na verdade, houve redução no número de pessoas com carteira em junho de 2019.
Ficou evidente que se tratava de alguém que não tinha (e não tem) compromisso com a verdade, que não estava ali para debater racionalmente as soluções para os problemas de Brasília, mas, impulsionado por milhões de reais, buscava vencer a eleição a qualquer custo. Fazia parte de sua estratégia eleitoral enganar o eleitor, momento em que lhe conferi a alcunha de Inganeis.
Aquela foi apenas uma das mentiras arrotadas por Inganeis. Para ficar somente em outros dois casos, ele disse também que não privatizaria a Companhia Energética de Brasília (CEB), o que o fez em 2020/21, e que sustaria o processo de “privatização” do Hospital de Base, levado a cabo pelo governo Rollemberg. Porém, expandiu a privatização, criando o Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (IGES), abrangendo o HBB, o Hospital de Santa Maria e seis UPAS, que absorvem cerca de 30% dos recursos da saúde do DF.
O DF é a mais rica dentre as 27 unidades federativas do Brasil. Tem o maior PIB per capita, a maior arrecadação e a maior renda domiciliar per capitas, mas, com Inganeis, são 250 mil brasilienses (8% da população) na extrema pobreza. Não logrou atrair um único investimento de peso para o DF, de forma que a taxa de desemprego permanece como uma das mais altas do País e os empregos criados, em sua grande maioria, são informais e precários.
No atual processo eleitoral, Inganeis mais uma vez engana, fazendo de conta que apoia Simone Tebet, a candidata de seu partido, o MDB, à presidência, mas de forma cínica, se colocou a serviço de Bolsonaro. Este, “estimulou” seu ministro do STF ‘terrivelmente evangélico’ André Mendonça a anular uma das condenações de Arruda, notório corrupto brasiliense (quem não se lembra do vídeo em que Durval Barbosa repassava propina a ele na sede da Codeplan), prenúncio de uma possível recuperação de elegibilidade, ameaçando a reeleição de Inganeis.
Este, então, trouxe para sua chapa Flávia Arruda, esposa do ex-governador, como candidata ao Senado. Com a desistência de Reguffe, seis candidatos se apresentam contra a reeleição de Inganeis, sendo dois de esquerda – Leandro Grass (PV/PT) e Keka Bagno (PSOL); dois de centro: Leila Barros (PDT) e Rafael Parente (PSB); e dois de direita: Izalci Lucas (PSDB) e Paulo Octávio (PSD).
As pesquisas apontam uma larga vantagem de Inganeis, com apoio ainda mais amplo que em 2018, abarcando quase todos os mafiosos políticos e expoentes empresariais de Brasília. Mas é possível derrotá-lo, ainda que seja no 2º turno. Para tanto, é crucial desmascará-lo como um dos maiores embusteiros do povo brasiliense, legítimo sucessor dos ardilosos Roriz e Arruda.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia