Há um ano, em 24 de fevereiro de 2022, com a invasão do território ucraniano por tropas russas, começava a guerra na Ucrânia. O que parecia ser uma guerra com rápido desfecho, vem se prolongando sem previsão de término, até porque não se trata mais de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre a Rússia e os países que compõem a OTAN, capitaneados pelos EUA. Claro também já ficou que se trata de uma guerra provocada pela OTAN (na prática pelos EUA) no momento em que “seduziu” o governo da Ucrânia a pleitear a adesão à OTAN, numa clara provocação à Rússia, uma vez que colocaria mísseis norte-americanos a poucos quilômetros de importantes cidades russas. Com que objetivo? Provocar uma crise política na Rússia, derrubar o governo de Putin e retirar o país da órbita chinesa.
O capitalismo em seu estágio de senilidade não sobrevive sem guerras. As guerras travadas no planeta nos últimos 110 anos, desde 1912, causaram duas vezes mais mortes que todos os conflitos humanos nos 5 mil anos precedentes. E mais uma vez quem está pagando o preço desta guerra são os povos, a começar pelo povo ucraniano, que sofre constantes bombardeios, passando pelo povo russo, que sofre as agruras das sanções aplicadas pelos governos ocidentais e até mesmo os povos dos países da Europa Ocidental, que pagam o preço da elevação do custo da energia e outros bens.
E como fica o Brasil nesta guerra? Lula tem proclamado que o Brasil buscará outros países de peso, que não estejam, direta ou indiretamente, envolvidos no conflito, para propor a negociação da paz. Mas o comunicado de Lula e Biden, firmado durante a visita do presidente brasileiro a Washington, não ajuda neste propósito, pois, além das usuais “rasgações de seda” de declarações desse tipo, nele consta que “ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de parte de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura”.
Claro que seria inviável à diplomacia brasileira inserir no comunicado uma crítica à atuação da OTAN no conflito. Mas nada impediu que Lula pudesse, em suas posteriores declarações sobre a questão, também responsabilizar a OTAN pelo prosseguimento do conflito. O fato é que o fim da guerra fica cada vez mais difícil com o total alinhamento do governo Zerenski à OTAN e ao imperialismo norte-americano e sua política de supressão dos direitos ao uso da língua russa por parte dos milhões de russos étnicos que habitam a porção leste e sul da Ucrânia. Parece que a tarefa que Lula se propõe a realizar é um desafio muito além de suas reais possibilidades.
Carnaval – O retorno do carnaval após dois anos de pandemia foi marcado por mais uma tragédia trazida pelas chuvas de verão, desta vez no litoral norte de São Paulo, com dezenas de mortos e desaparecidos, soterrados pelos costumeiros deslizamentos das encostas dos morros indevidamente ocupadas por habitações. Segundo o IBGE, são 13 mil áreas de risco no país, localizadas em 1.421 municípios, com 1,2 milhão de habitações vulneráveis habitadas por 4 milhões de pessoas. Dessa forma, não surpreende que a cada verão sejam registradas centenas de vítimas fatais e milhares de pessoas desalojadas, invariavelmente pessoas de baixa renda.
E como o Brasil é o país da desigualdade, chamou também atenção a manchete do canal Uol na segunda-feira: “Gisele Bundchen ofusca desfile de escolas de samba no Rio”. Isso mesmo, a celebridade colocou uma blusinha da Brahma e durante o tempinho que ficou no camarote vip da cervejaria, recebeu o foco de todas as lentes e um cachê de US$ 2 milhões. Cachê que, segundo o Uol, chocou uma segurança do camarote, que receberia para trabalhar durante toda a noite e madrugada, R$ 200, cinquenta mil vezes menos. É o fiel retrato da mercantilização e desfiguração da maior festa popular brasileira.