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O bloqueio de estradas por caminhoneiros que há seis dias atinge vários estados ameaça afetar o abastecimento do Distrito Federal nos próximos dias. Isso porque as mercadorias já começaram a atrasar em alguns segmentos do mercado, problema que poderá atingir o consumidor final em breve.
Entre os setores que estão apresentando demora no recebimento dos produtos está o da construção civil, revela o empresário do ramo e presidente do Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista), Roberto Gomide. Segundo ele, materiais como fios e cabos de cobre, que chegam da região Sul do País, estão presos nas rodovias. Além disso, o fornecimento de bebidas alcoólicas, principalmente vinhos, está na mesma situação.
Outro temor
No entanto, Gomide ressalta que os estoques ainda não apresentam desfalques. \”Hoje, não existe um desabastecimento, mas todos os setores já começam a se preocupar com o atraso das mercadorias. Se a greve se prolongar, em uma semana ou, no máximo, dez dias é fato que vai faltar. No segmento atacadista, os impactos da paralisação dos caminhoneiros costuma demorar mais, porém, já estamos prevendo os futuros problemas\”, diz.
Roberto Gomide revela também outro temor dos empresários: caso as reivindicações dos grevistas sejam atendidas, como o reajuste do frete, é certo que haverá aumento no preço de produtos.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Edson de Castro, a paralisação dos caminhoneiros é catastrófica, tendo em vista que o trabalho deles comanda o País em todos os setores. \”Essa greve gera um ciclo de impactos negativos, que, por enquanto, não chegaram ao DF, mas que já preocupam o comércio\”, assegura ele, lembrando, por exemplo, os possíveis reflexos na Páscoa.
De acordo com Edson, no ano passado, foram vendidos 1,6 milhão de ovos de Páscoa e a expectativa para este ano é de 1,7 milhão. No entanto, a previsão poderá sofrer com a crise, já que algumas lojas do ramo ainda não receberam tudo o que foi demandado. Ele diz também que a possibilidade de faltar alimentos nas prateleiras do comércio é grande por causa da greve.
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Grande teste para a Ceasa será na quinta
Nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa), os impactos da paralisação dos caminhoneiros podem aparecer já nesta semana, principalmente na quinta-feira, dia de maior movimento de cargas, assegura o chefe da sessão de estatística da Ceasa, Fernando Santos.
\”Por enquanto, não está faltando nada, pois a greve não está próxima ao DF e a maioria das mercadorias chega dos estados de Goiás e Minas Gerais, que possuem rotas alternativas. Nós seremos afetados de maneira imediata se a BR-060 e a BR-040 forem bloqueadas\”, afirma.
Santos explica que frutas como a banana, mamão e manga, que vêm do Norte, ainda não estão em falta. “Acreditamos que a paralisação não vai ter força para durar muitos dias\”, prevê.
Desabastecimento e safra comprometida
A paralisação dos caminhoneiros prejudica moradores de 12 estados, com bombas de combustíveis vazias, falta de alimentos em supermercados e açougues e a suspensão de aulas em escolas municipais e até da limpeza urbana.
No Paraná, a falta de combustível impediu a circulação dos ônibus escolares e fez com que a Prefeitura de Santo Antônio do Sudoeste, cidade com menos de 20 mil habitantes, suspendesse as aulas por tempo indeterminado.
De acordo com a prefeitura, 1.700 crianças são afetadas. As creches continuam abertas, mas sem o serviço de transporte para as mães.
O bloqueio já prejudica a produção de carne, soja e leite em Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná. Se prolongado, o cenário tende a afetar, inclusive, parte da exportação de culturas importantes para a balança comercial brasileira. Em Mato Grosso, que está em época de safra da soja, 50% da produção total foi colhida. Porém, o protesto dos caminhoneiros impede o escoamento dos grãos.
A soja é o carro-chefe da balança comercial no país e o Mato Grosso, um de seus principais produtores. O chamado \”complexo soja\” -que inclui grãos, farelo e óleo – rendeu em exportações cerca de US$ 30 bilhões em 2014.
Em Lucas do Rio Verde (MT), onde há cerca de 500 caminhões parados na rodovia e na entrada da cidade desde quarta-feira passada, há também cargas de soja, de acordo com Gilson Pedro Pelicioli, dono de três caminhões e vereador do município pelo PMDB. \”Mais três dias de paralisação e toda a carga de soja será perdida\”, disse.
Além disso, a colheita nas lavouras está sendo reduzida, já que os veículos começam a ficar sem combustível. Ferreira, da Aprosoja, disse que a situação tende a piorar caso as chuvas que estão atingindo a cidade nos últimos dias cessem.
Já em Santa Catarina, foi afetada a produção de leite. Toda a produção foi paralisada na segunda-feira e o setor calcula prejuízo de, no mínimo, R$ 10 milhões por dia.
Cerca de 70% da produção de leite de SC está na região oeste, onde faltam combustíveis e hortifrútis. Também no estado e no Paraná, as gigantes BRF e Aurora interromperam a produção nos setores de aves e suínos em 17 cidades. O viaduto de acesso ao porto de Santos (SP) também foi interditado pelos caminhoneiros.
Justiça manda liberar
Depois de decisão semelhante no Rio Grande do Sul, a Justiça Federal de Minas Gerais determinou a liberação de rodovias federais bloqueadas no estado devido ao protesto de caminhoneiros.
De acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU), responsável pelo pedido, a Justiça estabeleceu multa de R$ 5 mil por hora a cada motorista que bloquear a circulação nas estradas e R$ 50 mil às associações que descumprirem a decisão.
Mais cedo, a Justiça Federal gaúcha fixou o prazo de uma hora para a liberação de três rodovias federais ocupadas em protesto de caminhoneiros na região de Pelotas.
A decisão, em caráter liminar, estabeleceu o prazo de uma hora para que as BRs 293, 116 e 392 fossem liberadas. O prazo passaria a valer assim que ocorresse a notificação por meio de um oficial de Justiça, sob pena de multa de R$ 5 mil por hora a cada condutor que participasse do bloqueio.
Ao todo, o protesto contra a alta nos preços de combustíveis e pedágios atingia 12 estados ontem. Além de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a AGU também pediu à Justiça a liberação de rodovias em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina devido aos protestos. Além disso, apresentou nova ação em São Paulo, que também teve pistas bloqueadas durante os protestos. O movimento, que começou há uma semana no Paraná e em Santa Catarina, atingia sete unidades da Federação na segunda-feira. Municípios relatam problemas no abastecimento.