Sindicato dos Professores no Distrito Federal repudia o ato
Na terça-feira (28), o artigo que traz a biografia do educador Paulo Freire na Wikipedia – enciclopédia livre e gratuita – foi alterado com informações que atribuem a ele a origem da “doutrinação marxista” nas escolas e universidades. Um grupo que monitora as alterações em páginas da Wikipedia identificou que as mudanças partiram de uma rede do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). No verbete editado, consta que Freire participou da última grande reforma da legislação educacional que resultou em um ensino “atrasado, doutrinário e fraco”.
Em nota, o Serpro, empresa de tecnologia da informação do governo federal, disse que a alteração não partiu de suas instalações, mas de um órgão público federal que não pode ter o nome divulgado por questões contratuais. O Serpro administra a rede que provê acesso à internet tanto em instalações do próprio órgão como em instituições públicas em todo o país.
Repúdio – A diretoria colegiada do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro) repudiou veementemente o fato, alertando que atitudes como esta representam um golpe à democracia. “O que há por trás disso tudo é a tentativa de grupos reacionários em amordaçar os docentes e desqualificar educadores, no sentido de instituir uma escola sem debates políticos, sem movimento estudantil, sem análise histórica, pluralidade de ideias, questionamentos e críticas dos estudantes. Querem voltar aos tempos da ditadura, além de comprometer de forma significativa a busca por uma escola pública de qualidade”, afirmam os dirigentes.
O Sinpro acredita, assim como Paulo Freire, que é a partir da pluralidade de ideias, de uma aula alicerçada em debates abertos e no respeito à democracia que teremos uma sociedade crítica, contextualizada e plural.
Obra – A principal obra do educador pernambucano Paulo Freire, “Pedagogia do Oprimido” (1968), é a terceira mais citada mundialmente em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento realizado no Google Scholar, ferramenta de pesquisa dedicada à literatura acadêmica. O pedagogo também é referência nacional nas pesquisas da área.
Para o diretor pedagógico do Instituto Paulo Freire (IPF), Paulo Roberto Padilha, esse tipo de ação é uma tentativa de doutrinar leitores que não conhecem a história do educador. “O que está publicado é um absurdo, uma aberração política e pedagógica, não corresponde à verdade. Paulo Freire queria uma educação que libertasse a pessoa, para que se tornasse uma pessoa crítica, capaz de questionar qualquer doutrinação”, afirma.