Quem curtiu gibi nas décadas de 1970 e 80 certamente se lembrará do recruta Zero e de toda a tropa do Quartel de Camp Swampy, os recrutas Quindim e Dentinho, o sargento Tainha. Tratava-se de uma sátira à rotina nos quartéis norte-americanos, em especial à rígida disciplina que o sargento Tainha tentava impor à tropa e às trapalhadas dos oficiais, em particular do general Dureza e do tenente Escovinha, sempre levando reprimendas do Pentágono.
A nota do comandante do Exército Paulo Sérgio de Oliveira, se curvando a Bolsonaro e fazendo de conta que não houve ato de indisciplina do general Pazuello, é algo digno do general Dureza. Episódio que vem pouco tempo após a “saída” do ministro da Defesa, do comandante Pujol do Exército e dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica. Afrontas de um ex-capitão “saído” do Exército, fazendo o Alto Comando das FFAA de gato e sapato.
Qual a razão de tamanha submissão e humilhação? Seria o desejo de garantir certos privilégios (Previdência, fim do teto salarial) ou a simples busca de boquinhas em cargos civis. O fato é que a reputação das FFAA está afundando junto com Bolsonaro. E já não cola a versão dos bolsonaristas de que militares são incorruptíveis, com os repetidos casos de corrupção envolvendo militares.
Entre outros: superfaturamento de obras pelo coronel Divério no Ministério da Saúde/RJ; o pedido do general Ramos para Salles se reunir com os contrabandistas de madeira; a “compra” do Centrão pelo mesmo general Ramos; as compras superfaturadas de artigos supérfluos (picanha, salmão, uísque) pelas FFAA; os quatro militares que transportaram cocaína em sete voos da FAB; enfim, a apuração pelo Ministério Público Militar de 60 denúncias de desvio de recursos nas FFAA nos últimos 10 anos, num total de R$ 191 milhões.
O argumento também não se sustenta para o período da ditadura militar: dinheiro da FIESP para o comandante do 2º Exército, Amauri Kruel, marchar contra Jango; propinas na construção da Ponte Rio-Niterói, Transamazônica, Angra I, Ferrovia do Aço, Polo de Camaçari, UHE de Tucuruí etc, a maioria sob a coordenação do coronel Mário Andreazza.
O fato é que as FFAA deveriam se preocupar com sua missão constitucional, a defesa do Brasil, embora pareça uma temeridade confiar a defesa do país nas mãos de generais medíocres como Pazuello, Villas Boas, Ramos, Augusto Heleno, Braga Neto etc. Felizmente, a última guerra de fato que o país enfrentou foi há 150 anos, a Guerra do Paraguai, considerando que a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial, há 76 anos, foi absolutamente marginal, com menos de meio milésimo das tropas envolvidas no conflito.
Fora isso, o que tivemos foi a Guerra de Canudos, a Guerra do Contestado, a “guerra” de 5.000 militares contra 80 guerrilheiros no Araguaia em 1969/74 e a “guerra” movida por 2.500 militares contra Lamarca e 16 guerrilheiros no Vale do Ribeira em 1970, com o “incrível” saldo de quatro capturados. Façanhas realmente dignas do general Dureza, tenente Escovinha e sargento Tainha.
Para finalizar, nossas saudações ao povo peruano, que está prestes a eleger para presidente o professor e sindicalista Pedro Castillo, rechaçando Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori e candidata da burguesia local. Que os bons ventos que sopram na costa do Pacífico da Latinoamérica tomem o rumo do Atlântico.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia