Apesar de ser praticamente um neófito na política, o governador Ibaneis Rocha (MDB), que, com um discurso de outsider se elegeu na primeira eleição que disputou, tem se saído um político e tanto. O emedebista até já incorporou à sua personalidade uma prática deletéria dos políticos à moda antiga, que é a de não cumprir o que prometeu.
No ano passado, Ibaneis afirmou que entregaria neste ano mais sete Unidades de Pronto Atendimento (UPA) em Brazlândia, Ceilândia, Gama, Paranoá, Planaltina, Riacho Fundo e Vicente Pires. Todas já estão com mais de 70% das obras concluídas e com prazo de entrega para este ano.
A primeira unidade a ser aberta para a população seria a de Ceilândia. Seria. Se não fosse somente uma promessa. De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), a obra está 99% concluída. Realmente. A UPA está pintada e até com vigilância armada 24h. Mas este é único plantão que se encontra lá.
Para inglês ver
Até quinta-feira (16), quando a reportagem do Brasília Capital esteve lá, os equipamentos hospitalares não haviam chegado, tampouco equipes de médicos e enfermeiros. Ou seja, é uma obra para inglês ver. “Não tem nem previsão de abrir. Está faltando montar o laboratório, chegar médicos. Está até bonita”, elogiou um vigilante.
Mas nem só de vista bonita vive a população. A moradora da QNO 19 de Ceilândia, Érika Cristina, 42 anos, não vê o dia da UPA ser inaugurada, para evitar a longa viagem da sua casa para o Hospital Regional de Ceilândia. “Ter uma UPA perto de casa é um sonho. Ainda bem que não estou precisando, mas quem precisa fica chateado”, lamenta.
Para Jackcilene Pereira, 48, a espera é mais angustiante porque ela mora em frente à UPA. “Já tem dias que o governo está falando que vai inaugurar e até agora nada. Tem muito idoso aqui da rua precisando. Minha mãe mesmo é um deles. A esperança dela é essa UPA”, cobra.
Convite furado
O anúncio de inauguração ao qual se refere Jackcilene foi feito pelo Iges na quarta-feira (15), convidando autoridades e população a comparecerem à solenidade de entrega da unidade de Ceilândia às 9h daquele dia. No convite havia até a promessa de que Ibaneis Rocha estaria presente. O que não aconteceu.
O convite foi reforçado pela secretária-adjunta de Assistência à Saúde, Raquel Beviláqua. “A previsão de inauguração da UPA de Ceilândia é para a esta quarta-feira”, disse ela. Mas, novamente era um equívoco. E a unidade vai continuar apenas como um cartão postal da cidade.
Então, é melhor sentar e esperar. Como faz todos os dias o aposentado Francisco Soares, 75, que também mora em frente à UPA de Ceilândia. É da cadeira de balanço na porta de sua casa que o morador aguarda o grande dia da inauguração. “Está muito bonita. O governo caprichou. Acho até que ele tem de abrir quando tiver tudo lá dentro: médicos, enfermeiros, equipamentos. Mas está demorando muito mesmo”, disse.
Outro lado
Em nota, o Iges explicou que uma força-tarefa com mais de 30 trabalhadores está concluindo a instalação de móveis e equipamentos hospitalares e finalizando pequenas obras complementares para que a nova UPA possa entrar em operação.