Da Redação
Quando se pensava que a situação dos Centros de Referência de Assistência Social tinha chegado ao fundo do poço, descobriu-se mais um andar abaixo. Segundo dados da própria Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), estima-se que o número de pessoas aguardando atendimento para receber os benefícios do GDF por intermédio dos Cras ultrapassa a marca de 270 mil.
Apesar de o dado ser preocupante, a titular da pasta, Mayara Noronha Rocha, resolveu varrer a informação preocupante para debaixo do tapete. Contrariando até o Ministério Público do DF, a Sedes determinou à canetada que fosse reorganizado o processo de trabalho vinculado ao Cras com a publicação da Instrução 1/2022.
O documento, editado no dia 5 de junho, traz entre as mudanças propostas a adoção de senhas para os cidadãos e cidadãs interessados em serem atendidas nos Centros, eliminando, desta forma, as ligações de pedido de cadastro feitas pela Central 156.
Com isso, a Secretaria argumentou, no mesmo documento, que o usuário poderia procurar o Cras mais próximo ou de sua preferência e ser atendido enquanto tiver senha disponível na unidade.
Camuflagem
Para o auditor federal Marivaldo de Castro Pereira, o gesto da Sedes é nada menos que uma camuflagem do problema, que está assombroso, uma vez que a quantidade de 270 mil pessoas à espera do primeiro atendimento não foi e nem será resolvido.
“Essa normativa tem como objetivo desaparecer com o número. É jogar para debaixo do tapete essa fila com a criação do sistema de senhas. Acabou a fila. Entrei com uma ação popular para revogar esse procedimento que adotaram”, disse Marivaldo.
Para a fraude não ficar tão escancarada, a Sedes incluiu uma pequena determinação que Marivaldo acha impossível de ser cumprida, mesmo sendo irrisória a percentagem. “Fica estabelecido que o quantitativo de vagas será disposto de 80% para o atendimento da demanda espontânea e 20% para o atendimento agendado pela Central 156”.
O que se sabe é que, desta forma, a Sedes irá mesmo zerar a fila dos 270 mil que estão à espera de atendimento nos Cras. Mas de uma maneira até imoral. Ocorre, porém, que moralidade parece nunca ter sido uma vertente importante para o atual governo, que não parece se incomodar de ver pessoas dormirem numa fila para tentar conseguir um prato de comida.