A mudança na divisão das áreas do conhecimento cobradas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que passará a ser aplicado em dois domingos a partir deste ano, foi criticada por educadores.
O Ministério da Educação (MEC) anunciou nesta quinta-feira (9) que as provas ocorrem nos dias 5 e 12 de novembro. Agora as disciplinas serão separadas basicamente entre humanas e exatas. No dia 5, os candidatos respondem a questões de linguagens, ciências humanas e redação, com cinco horas e meia de duração. No dia 6, será a vez de matemática e ciências da natureza, com quatro horas e meia de duração.
Nos anos anteriores, a divisão era a seguinte: ciências humanas e ciências da natureza no primeiro dia; e matemática, linguagens e redação, no segundo dia.
Erik Hörner, coordenador pedagógico do ensino médio do Colégio Humboldt, diz que achava positiva a estratégia do MEC de não sobrecarregar o aluno com um único estilo de prova no mesmo dia, por isso criticou o novo reagrupamento das áreas.
“Aqui no colégio não fazemos duas grandes avaliações das ciências da natureza no mesmo dia para não esgotar o ‘mesmo lado do cérebro’ digamos assim.” Para ele, esse novo arranjo de cobrança das disciplinas pode “diminuir o benefício da divisão do exame em dois fins de semana.”
Edmilson Motta, coordenador geral do Etapa, também criticou a divisão de áreas escolhida para o segundo domingo de Enem que reúne matemática e ciências da natureza. “Antes já faltava tempo para as 45 questões de matemática e agora junta com ciências da natureza que também exige cálculo. Quatro horas e meia vai ser pouco tempo, vai ser muito desafiante para o aluno.”
Hélcio Alvim, coordenador pedagógico do Ensino Médio do Colégio Mopi, concorda que o segundo dia Enem tende a ser mais pesado, principalmente aos candidatos que têm mais afinidade com a área de humanas.
\”Acredito que essa nova distribuição é mais pesada aos alunos, principalmente, aos de humanas que, no segundo domingo, terão de responder a muitas questões complicadas em apenas quatro horas e meia. Sendo assim, gosto mais da divisão anterior. Esta é uma pequena ressalva diante da maioria das mudanças, que classifico como muito positivas.\”
Entretanto, as mudanças não desagradaram a todos. Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógico do Colégio Franciscano Pio 12, aprovou o nova distribuição.
“No modelo antigo os alunos ficavam muito desgastados e não dava para fazer toda a prova, principalmente no segundo dia. Com as matérias mais pesadas separadas, os alunos têm mais chance de concluir.”
César Marconi, diretor pedagógico do Colégio Mary Ward, acha que será um benéfico cobrar a redação no primeiro dia do exame – antes era no segundo, pois o candidato estará mais descansado. \”Acho que a reorganização das disciplinas foi acerto.\”
O gerente pedagógico e professor de Geografia do Descomplica, Claudio Hansen, diz que a nova divisão já provoca reações diferentes entre os alunos, muitas vezes motivadas por afinidade com uma das áreas de concentração.
\”A maior preocupação aparente é o tempo de realização do primeiro dia, no entanto, essa questão sempre aparece em relação do dia que era realizada a redação\”, afirma.
Dois domingos seguidos
A mudança do exame para dois domingos foi elogiada pelos especialistas. Eles acreditam que o intervalo de uma semana entre uma prova e outra vai garantir que o candidato descanse e tenha um melhor rendimento.
“Vai ser bem melhor para o estudante, trará um respiro e deve até impactar o resultado”, diz Edmilson Motta.
Paulo Moraes, diretor de ensino do Curso Anglo Vestibulares, endossa a opinião. “Foi uma mudança positiva, democrática, atendeu a solicitações dos estudantes. Antes era uma maratona, um desgaste grande. Agora o rendimento vai ser melhor.”
No entanto, Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, faz uma ressalva. Ele lembra que é importante que o aluno não pense que ganhou uma semana a mais para estudar. “Essa semana de intervalo entre uma prova e outra é para o aluno relaxar, serve para descansar e não para estudar de última hora.”
Fim dos rankings
Outra mudança do exame é que as notas não serão mais divulgadas por escolas, o que vai inviabilizar a criação dos rankings. A medida foi comemorada entre os especialistas.
“Eu, como educadora de raiz, sempre fui contra aos rankings. O Enem não nasceu para medir a escola, e sim, os alunos. Mas acabou virando estratégia comercial de algumas escolas”, diz Viviane Paiva.
Gilberto Alvarez afirma que os rankings geravam uma distorção. “Não é porque não era ‘top’ no Enem que não tinha um bom projeto pedagógico.”
Paulo Moraes, do Anglo, também considerou positiva a decisão do MEC de não divulgar os dados. “É uma medida saudável porque deixará de existir a manipulação do processo feita por algumas escolas.”
Apesar de, nos últimos anos, os dados passarem a ser divulgado com ressalvas e filtros que permitiam diversas comparações mais equilibradas entre diferentes perfis de escolas, o MEC afirma que os dados eram usados de forma equivocada pelas instituições. As empresas chegavam a montar salas com alunos de elite para obter bom desempenho no Enem e usar os dados como propaganda.
A partir deste ano, as escolas que oferecem o terceiro ano do ensino médio passarão a ter o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Ideb é um indicador criado conciliando os resultados da Prova Brasil com alguns dados do censo escolar. Na Prova Brasil os estudantes respondem itens de língua portuguesa, com foco em leitura, e matemática, com foco na resolução de problemas. Ela será aplicada a 2,4 milhões são alunos do 3º no do ensino médio público e privado no segundo semestre do ano.
Edmilson Motta, do Etapa, vê com preocupação esse novo instrumento de avaliação. “O Enem é fruto de uma maturidade, de erros e acertos discutidos. Já a Prova Brasil não tem muita visibilidade e discussão.”
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