Milhões de evangélicos atenderam ao pedido de jejum e oração pelo Brasil, feito pelo Presidente da República para este domingo (4). Em vídeo publicado sábado (4) no Facebook, Jair Bolsonaro reforçou o apelo pelo afastamento do novo coronavírus do País.
No dia seguinte, muitos de seus seguidores subiram “montes”, pagaram penitências e permaneceram sem comer, num misto de fé na providência divina e de obediência ao seu líder. Um pequeno grupo foi orar no gramado do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado brasileiro.
O que Bolsonaro não pediu, e nenhum simpatizante cobrou, foi uma atitude mais efetiva dos maiores líderes evangélicos do Brasil. Para enfrentar a pandemia e a crise econômica que já se instalou, com demissões de trabalhadores e falência de empresas, nenhum pastor milionário (alguns bilionários) se dispôs a pagar um dízimo para ajudar a salvar seu rebanho.
Segundo a revista americana Forbes, Edir Macedo, o manda chuva da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record tem uma fortuna acumulada de R$ 2 bilhões. Até onde se sabe, a única ação que ele fez foi insistir para Bolsonaro determinar o funcionamento normal de seus templos, onde arrecada milhões país afora a cada celebração.
“Religião sempre foi um negócio lucrativo.” Assim começa uma reportagemda Forbes sobre os milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil que aponta o pastor Valdomiro Santiago, com R$ 400 milhões, o segundo colocado, atrás de Edir Macedo. A lista continua com Silas Malafaia (R$ 300 milhões); R. R. Soares (R$ 250 milhões); e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia (R$ 120 milhões juntos).
Macedo, além de ser o pastor mais rico do Brasil, possui templos até nos Estados Unidos e um jato bimotor particular, modelo Bombardier Global Express XRS, estimado em R$ 90 milhões. Ele já vendeu 10 milhões de livros, alguns extremamente críticos à Igreja Católica e a algumas religiões africanas.
Na década de 1980, comprou a Rede Record, segunda maior emissora de TV do Brasil. Também é dono do jornal “Folha Universal”, que circula com 2,5 milhões de exemplares, e do canal de notícias Record News. Ex-pastor da Universal, Valdemiro Santiago rompeu com Macedo e criou Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem 900 mil seguidores e mais de 4.000 templos, onde costuma expor sua própria imagem.
Malafaia é líder da Assembleia de Deus, a maior igreja pentecostal brasileira. É o mais polêmico entre os pastores. Frequentemente se envolve em controvérsias com a comunidade gay e se declara o maior opositor ao casamento gay. Em 2011, o detentor de fortuna estimada em R$ 300 milhões, lançou uma campanha para arrecadar R$ 1 bilhão para a sua igreja. Dizia que criaria uma emissora de televisão global, transmitida em 137 países. Doações só a partir de R$ 1.000. Em troca, um livro.
O cantor, compositor e televangelista Romildo Ribeiro Soares, conhecido como R. R. Soares, é o mais multimídia. Fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, também é ex-membro da Universal e cunhado de Macedo. O“missionário” tem pelo menos R$ 250 milhões e um avião particular King Air 350que custa apenas R$ 10 milhões.
O “apóstolo” Estevam Hernandes Filho e sua mulher, a “bispa” Sônia, fundadores da Renascer em Cristo possuem mais de mil igrejas no Brasil e no exterior – várias delas na Flórida (EUA).
Com seus R$ 120 milhões, o casal foi manchete dos jornais internacionais em 2007, quando foi preso em Miami sob a acusação de transportar mais de R$ 100 mil não declarados. Algumas notas estavam escondidas em meio às páginas da Bíblia, segundo agentes norte-americanos. Os dois voltaram ao Brasil um ano depois, onde respondem por outros crimes, entre eles a queda do teto de um templo em São Paulo, em 2009, matando nove pessoas.
Diferente de muitas igrejas protestantes, que exigem que seus pastores tenham uma graduação, as neopentecostais brasileiras oferecem cursos intensivos para “criar” pastores com um custo de R$ 700 em poucos dias de aula. Malafaia chega a pagar salários de R$ 20 mil a seus pastores mais talentosos – mas também de poder, segundo a Forbes.
A reportagem diz, ainda que alguns desses pastores, especialmente os mais ricos, são cortejados por políticos em época de eleições. E lembra que, no Brasil, asigrejas são isentas de pagar impostos.Acrescenta, finalmente, que os evangélicos no Brasil cresceram de 15,4% para 22,2% da população na última década, em detrimento dos católicos, que hoje somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Já os evangélicos somam 42 milhões de um total de 191 milhões de pessoas.
Procurado pela Forbes, Malafaia afirmou que sua renda pessoal não é a informada pela revista. “Se juntarmos a receita da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que não é minha, mais a renda da Associação Vitória em Cristo, que não é minha, mais o faturamento da Editora Central Gospel, que é de minha propriedade, mais as ofertas voluntárias que recebo pelas palestras ministradas, chegaremos aproximadamente à metade do que foi anunciado pela Forbes como minha renda pessoal anual”, disse, em uma nota.
“Tudo o que tenho está declarado na Receita Federal. Não devo e não temo a nada”. Malafaia ainda destacou que “o que está em jogo é uma mensagem para criar na sociedade preconceito contra pastores e igrejas evangélicas”. Ele reiterou que não recebe “salário de igreja nenhuma” e informou que a Forbes “será inquirida judicialmente”.