O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou, em agosto, que a população brasileira somava, em 1º de julho deste ano, 212.583 mil habitantes. E que, em 2022, não era de 202.952 mil, conforme divulgado no início de 2023, mas de 210.862 mil (diferença de 7,9 milhões de habitantes).
Em 15 de julho de 2023, foi publicado neste Brasília Capital artigo meu intitulado “Censo 2022: negacionismo estatístico, resultados polêmicos” em que questionava os resultados apresentados pelo IBGE sobre o tamanho da população brasileira.
Disse à época que os resultados do Censo Demográfico suscitaram muitas dúvidas e que nenhuma responsabilidade deveria ser imputada ao corpo funcional do IBGE, super qualificado e comprometido. A responsabilidade pelos problemas recaía no governo Bolsonaro, que, após o adiamento em 2020, devido à covid, adiou o Censo em 2021 por não ter disponibilizado recursos suficientes para sua realização, o que comprometeu a seleção, contratação e treinamento dos pesquisadores.
O problema residiu também na hostilidade de boa parte dos entrevistados, expoentes do chamado “negacionismo estatístico”. Trata-se de uma parcela da população, em sua grande maioria de classe alta e média, ideologicamente de direita, que refuta a importância dos dados estatísticos porque rechaça todo e qualquer planejamento governamental voltado para a formulação de políticas públicas e implementação de programas sociais. Foram incríveis 4 milhões de domicílios (4,2% do total) em que houve recusa em responder ao Censo (em São Paulo, este percentual chegou a 8,1%).
Chamava a atenção no artigo para a enorme contradição entre o crescimento da população (6,5% em 12 anos) e do número de domicílios (34%), cinco vezes maior. Ou seja, 23,2 milhões de novos domicílios, mas apenas 12 milhões de novos habitantes.
Estranhamente o número de domicílios não ocupados teria saltado de 10 milhões para 18,1 milhões, aumento de 80%. Também sem precedentes teria sido a desaceleração na taxa de crescimento demográfico, caindo abruptamente de 1,17% ao ano entre 2000 e 2010 para 0,52% entre 2010 e 2022. E arguia à época: “Somos realmente 203,1 milhões ou houve subcontagem de nossa população? Organismos internacionais, como o FNUAP/ONU, e o próprio IBGE, projetavam a população brasileira entre 208 e 213 milhões de habitantes”.
Recomendava o confronto com alguns dados administrativos, como, por exemplo, a correlação entre contingente populacional e eleitorado registrado. De 2000 a 2010, a população aumentou em 21 milhões, ao passo que o eleitorado aumentou em 25,1 milhões, uma relação de 119 novos eleitores para 100 novos brasileiros. Mas, de 2010 a 2022 esta relação teria saltado para 170/100?
Tão inacreditável quanto os erros cometidos, que saltavam aos olhos, foi o fato de a nova direção do IBGE não ter alertado para tamanha inconsistência. Mas, finalmente o IBGE fez a correção. É importante frisar que uma subcontagem da população não é um problema trivial, pois gera problemas graves, como a redução de repasses a municípios e estados pelos Fundos de Participação dos Municípios (FPM) e dos Estados (FPE), assim como produz um falso dimensionamento da demanda por serviços públicos e gastos sociais.
Felizmente foi feita a correção.
Região Metropolitana de Brasília – A correção dos dados demográficos envolve também o Distrito Federal e sua periferia metropolitana (os 12 municípios goianos que o circundam). A projeção para 2024 aponta 4.304,6 mil habitantes na RM de Brasília, sendo 2.962,8 mil habitantes no DF e 1.341,4 mil nos 12 municípios, assim distribuídos: Águas Lindas (213,5 mil), Luziânia (218,9 mil), Valparaíso (213,5 mil), Formosa (120,5 mil), Planaltina (110,6 mil), Novo Gama (107,1 mil), Cidade Ocidental (99,0 mil), Santo Antônio do Descoberto (74,6 mil), Cristalina (65,7 mil), Padre Bernardo (36,7 mil), Alexânia (28,0 mil) e Cocalzinho de GO (26,6 mil). Números que a confirmam como a 4ª maior região metropolitana do País, atrás das RMs de São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
Mas, infelizmente, o IBGE erra de novo ao apresentar a população de 4.732,1 mil habitantes da “RIDE DF e Entorno” como população metropolitana. Com 94,6 mil Km², a “RIDE DF e Entorno” é uma região geoeconômica, e não metropolitana. Alguém conhece algum morador de Arinos (MG), a 250 Km de Brasília, ou de Cavalcante (GO), a 311 Km, que faça o movimento pendular diário para trabalhar ou estudar no DF?
Corrige também isso aí, IBGE!