No dia 19 de agosto de 2020, Rafael Parente ficou sabendo que fora exonerado do cargo de secretário de Educação por intermédio de um repórter que lhe telefonou para repercutir a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB). “Um comportamento nada profissional”, avalia. dois anos e três meses depois, filiado ao PSB do ex-governador Rodrigo Rollemberg, se lança pré-candidato ao Buriti como primeiro adversário declarado à sucessão do atual chefe do Executivo.
Mas garante que não é um gesto de vingança. Nesta entrevista ao Brasília Capital, ele diz que seu desejo é trabalhar para devolver sonhos de dias melhores àqueles que vieram para Brasília com esta esperança.
“As pessoas estão muito tristes, desesperançosas. A gente precisa de paz. A minha promessa é que a gente vai entregar este sonho que os brasilienses querem e merecem”.
Parente descobriu a vocação pelo magistério aos 17 anos, dando aulas de inglês. Aprovado no vestibular para Economia na UnB, abandonou o curso para fazer aquilo que gosta: lecionar. Um projeto social no Varjão despertou nele o interesse pela política. “Vi que era meu propósito de vida trabalhar para a transformação social do nosso País e do DF por meio da educação”, diz.
Seu primeiro trabalho político foi como subsecretário de Educação do Rio de Janeiro no governo Eduardo Paes., reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Microsoft, na favela da Rocinha, como uma das 100 escolas mais inovadoras do mundo.
Rafael Parente: íntegra da entrevista
Como nasceu sua pré-candidatura ao GDF? Ela é pra valer? – A minha pré-candidatura é pra valer sim. Eu e meu grupo estamos trabalhando muito. Com a ajuda do ex-governador Rodrigo Rollemberg e de várias outras pessoas, estamos unindo, primeiramente, o PSB. Vejo um número crescente de pessoas acreditando na minha candidatura. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para vencer essa eleição para recolocar o DF num patamar de qualidade.
O senhor acusa o governador Ibaneis de ter provocado a sua saída da Secretaria de Educação. O que aconteceu? – Em duas ocasiões eu falei para o governador que não permaneceria se a situação não mudasse. Uma delas foi a militarização das escolas. A meu ver, deveria ter um debate para entender por que a necessidade das famílias de ter uma escola militarizada. Ao que esse modelo está relacionado? A uma questão de segurança dentro das escolas. Para os pais, o primeiro quesito é a segurança. A gente precisa realmente de mais disciplina, mais organização e de uma formação com valores, que forme cidadãos e pessoas que entendam a importância do respeito. Mas existem formas (de ensino) muito mais modernas e comprovadas cientificamente para uma formação melhor, contemplando esses requisitos. O que o cara ganha batendo continência? O que a gente precisa é de estimular o pensamento, o trabalho em equipe.
“Brasília vive hoje um caos na Saúde, um péssimo enfrentamento à covid-19”
Como soube da sua exoneração? – Recebi a ligação de um veículo de comunicação, à noite, dizendo que eu havia sido exonerado. Eu não sabia de nada. Comportamento nada profissional.
Se eleito, o que o senhor mudaria na Saúde do DF? – A primeira coisa seria fazer um governo integro e composto por técnicos e pessoas honestas que façam todo o possível para coibir a corrupção dentro do governo. Além disso, tem de ser inovador e estar sempre em busca de avanços tecnológicos e exemplos de boas políticas públicas. Brasília vive hoje um caos na Saúde, um péssimo enfrentamento à covid-19.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) foi criado na gestão Rollemberg e já dava problema. Então, as pessoas que estavam gerindo nessa época não eram honestas? – As informações que tenho não batem com sua leitura. Era um outro modelo de gestão e que vinha fazendo um bom trabalho. Tanto que as contas foram aprovadas e tem relatórios que falam que estava tudo certo. O número de pessoas trabalhando hoje no IGES triplicou. Várias delas não têm o mínimo preparo para exercer os cargos que ocupam. Virou cabide de emprego. Tem dívidas imensas. Agora, se você me perguntar se eu defendo esse modelo e se eu eleito vou continuar, não acho que seja o caso. Para se oferecer um bom serviço, você tem de criar políticas públicas e ter servidores bem formados e que sejam valorizados para se sentirem estimulados e desenvolverem um bom trabalho. Hoje falta o básico nos hospitais.
Os gestores que defendem o modelo do IGES alegam que é uma forma de fugir do engessamento da lei 8.666, a Lei das Licitações… – A 8.666 não resolve o problema da corrupção e nem da economicidade e não é eficiente. Devemos nos espelhar no que está funcionando em outras cidades, do País e do mundo. Como a gente pode trazer essas experiências para o DF? A primeira coisa é a valorização do servidor. Não pode faltar papel-toalha e luva numa Unidade de Terapia Intensiva. Não pode faltar o básico para um médico fazer o seu trabalho.
As pesquisas mostram que seu nome é desconhecido. Mas, até agora, nenhum político além do próprio governador se apresentou como candidato de fato. Essa largada na frente pode ser uma vantagem? – A gente vem fazendo “pesquisa de mineração” de dados nas redes sociais desde março e constamos que realmente boa parte da população precisa me conhecer. Mas o mesmo levantamento mostra que eu tenho potencial, porque tenho pouquíssima rejeição das pessoas que me conhecem. Além disso, tenho uma pontuação muito maior que a do Ibaneis e do Rollemberg quando as primeiras pesquisas em torno do nome deles foram feitas.
“Ibaneis é uma fraude eleitoral. Ele prometeu muita coisa que sabia que não poderia cumprir”
Em setembro de 2017 o Brasília Capital fez a primeira entrevista com o então outsider Ibaneis Rocha, que acabou se elegendo. O senhor também se apresenta como alguém de fora da política? – Eu sou um técnico. Nunca fui candidato, mas tenho experiência. Participei de dois governos. Estive à frente da Secretaria de Educação com orçamento de mais de R$ 10 bilhões por ano. Ajudei a criar três empresas. Ou seja, tenho experiência em gestão pública e em gestão privada. Fui diretor executivo, fui diretor do terceiro setor. Fora isso, fui criado por aquele que é considerado um dos maiores gestores de crise do Brasil. Meu pai, Pedro Parente, geriu a crise do apagão em 1999 e ajudou a resolver o problema da Petrobrás em 2017. Aula de gestão foi o que eu tive a minha vida inteira.
Como convencer o eleitor a te dar um voto de confiança sendo do partido de Rollemberg, que nas últimas eleições teve um desempenho abaixo da expectativa? – Rollemberg teve 30% dos votos. Se a gente transferir parte disso, praticamente já me coloca no segundo turno. Em segundo lugar, foi um governo que pegou uma super dívida de R$ 6 bilhões, precisou arrumar a casa e teve muita responsabilidade fiscal. O governo atual não faria metade das obras que está fazendo se o anterior não tivesse arrumado a casa.
Vocês fazem autocrítica dos erros e acertos daquele governo? – Houve problema com relação aos servidores, à educação, à truculência da Agefis. Esta autocrítica está sendo feita constantemente. Eu não só falo com o Rollemberg, mas a gente está junto o dia inteiro. Estou aprendendo muito com os erros e acertos da gestão dele. Não sou o Rollemberg, mas estou aprendendo com os erros e acertos não só da gestão dele, como de todos os outros. A gente tem feito reuniões semanais com os ex-secretários.
Você está fazendo escada para Rollemberg ser deputado federal? – Não. Ele que está fazendo escada para eu ser governador [risos]. A gente está junto. Um time, para mim, é muito importante. Estamos criando uma equipe muito boa e que está muito animada.
Com quem vocês têm conversado em relação à composição partidária? – A gente conversa com todo mundo, mas a decisão será tomada em março. Muita coisa pode mudar. Até pouco tempo atrás, Bolsonaro estava fortíssimo e Lula preso. Hoje, a situação é completamente diferente. O que será que vai acontecer daqui a um ano? Será que isso vai continuar?
Mas sua candidatura vai permanecer? – A gente vai continuar e a gente vai ganhar.
Como concorrer com um candidato que tem a máquina na mão e está prestes a inaugurar obras importantes para a cidade, como o túnel de Taguatinga e o viaduto do Recanto das Emas, por exemplo? – É uma missão bastante difícil. Ibaneis não está sozinho. Ele tem apoio da família Arruda, da máquina estatal, recursos e estratégias de governo. Mas, quando a gente olha para as pesquisas sérias que fizemos, hoje ele teria, no máximo 24% dos votos. Não se reelegeria. Perderia para a oposição no segundo turno porque tem uma rejeição em torno de 55%.
Mas ele pode reverter isso? – Não é recuperável porque as pessoas já entenderam que Ibaneis é uma fraude eleitoral. Ele prometeu muita coisa que sabia que não poderia cumprir.
“Ibaneis é uma fraude eleitoral. Ele prometeu muita coisa que sabia que não poderia cumprir”
O que ele prometeu e não cumpriu? – Primeiramente, ele prometeu que não faria nenhuma privatização e já vendeu a CEB e anuncia que quer privatizar o Metrô e o BRB. Nós listamos que das 57 promessas feitas nas eleições ele cumpriu menos da metade.
Mas ainda falta mais de um ano de governo… – Eu acredito que não dá tempo. Até porque envolve casos como este da privatização. Outro exemplo é o Centro Administrativo, que ele chegou a dizer que reformaria com dinheiro dele. São algumas promessas pequenas e outras grandes, mas que as pessoas já entenderam que não será possível atender. Tem uma cultura no DF de comparar com outros entes federados. Então, se a pessoa promete e não cumpre, não é reeleita. É praticamente certo.
O que Brasília pode esperar caso troque um outsider como Ibaneis por um gestor jovem com experiência em Educação que vem com apoio do ex-governador que saiu mal avaliado, mas sem marcas de corrupção? – Nossa marca será que é possível ter um governo sério, inovador e eficiente. A gente vai entregar um sonho que nunca foi entregue no DF, que tem dois tipos de saudosismo: um que nós somos uma cidade do futuro, a capital da esperança. O sonho de Dom Bosco e de JK. E, segundo, o saudosismo de que já tivemos uma cidade muito melhor. A Saúde já foi melhor; a Segurança já foi melhor; a Educação já foi melhor; o transporte público já foi melhor. E os serviços foram decaindo ao longo do tempo. O que quero deixar para as pessoas é que nós vamos trabalhar para entregar de volta esses sonhos. As pessoas estão muito tristes, desesperançosas. Luto por conta da covid-19, inflação, fome, polarização e violência. A gente precisa de paz. A gente vai entregar este sonho que os brasilienses querem e merecem.