Júlio Miragaya (*)
Há anos se observa que tanto o GDF quanto os governos de Goiás e Federal “tiram o corpo fora” quando se trata de assumir responsabilidades quanto aos investimentos no Entorno Metropolitano, quando, na verdade, tais responsabilidades deveriam ser compartilhadas.
Tornou-se comum dizer que a solução dos problemas dos municípios metropolitanos é responsabilidade do governo de Goiás, pois eles fazem parte do território goiano. Mas trata-se de uma meia verdade.
Se o DF alega, com razão, que a área fica fora de sua jurisdição, também com alguma razão, Goiás argumenta que, se não fosse a criação de Brasília, a área que hoje forma o Entorno provavelmente continuaria sendo eminentemente rural e escassamente habitada.
Em 1960, a população total dos 5 municípios existentes à época (Luziânia, Formosa e Planaltina, que deram origem ao DF, mais Alexânia e Cristalina) era de apenas 73,7 mil habitantes (20,9 mil na área urbana), e, no ritmo que vinham crescendo (e em que cresceram outros municípios do nordeste goiano), teriam hoje cerca de 150 mil habitantes, e não 1,3 milhão.
Isto demonstra que todos têm suas alegações, mas nenhum tem razão ao abdicar de enfrentar o problema, inclusive o governo federal, que alega ter constituído a RIDE, que não serve para coisa nenhuma.
Deve-se destacar que este elevado contingente é resultante do processo de “expulsão” de grande parte da população de baixa renda do DF para a periferia, em virtude, especialmente, do elevado custo da terra e de moradia na Capital Federal.
Portanto, os problemas da periferia metropolitana de Brasília são também de Brasília. Temos em nossa área metropolitana as maiores disparidades entre núcleo e periferia metropolitana entre as 15 maiores metrópoles do País. Tal situação é insustentável.
Esses municípios não podem ficar condenados a serem eternamente cidades-dormitório do DF. Têm que ter condições de se desenvolver e, para tanto, precisam de recursos financeiros que permitam substantivos investimentos em infraestrutura urbana: água tratada, esgotamento sanitário, captação de águas pluviais e equipamentos para propiciar melhores condições educacionais e de saúde pública.
Ucrânia
Lucien Gauthier, do Partido Operário Independente da França, na palestra “A guerra na Ucrânia e suas consequências na Europa”, em SP, afirmou: “Trata-se de uma guerra que confronta os interesses dos imperialismos (EUA, União Europeia, Japão) e os da oligarquia russa, uma guerra cuja principal motivação é a busca do lucro e a conquista de mercados. E o verdadeiro alvo do imperialismo dos EUA é a China”. E concluiu “A Ucrânia e seu povo são tomados como reféns numa disputa que não lhes diz respeito”.
Análise similar faz o economista Sergey Glazyev, da Academia Russa de Ciências: “por trás de tanques e caças, está em curso uma guerra velada, pela qual os EUA lutam para manter sua hegemonia econômica global frente à ascensão da China”.
Glazyev teceu fortes críticas à presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina: “Sua política monetária segue as recomendações ortodoxas do FMI, em benefício dos especuladores internacionais, que têm sido devastadoras para a economia russa. O congelamento de US$ 400 bilhões das reservas cambiais russas pelos EUA e UE foi desastroso porque o próprio BCR estimulou reservas em dólares e em euros, ao invés de ouro – do qual a Rússia é o 2º maior produtor mundial – vendidos no mercado de Londres.
Mas ainda pior foi o desvio, pelos oligarcas russos, de mais de US$ 1 trilhão para paraísos fiscais ocidentais”. Como se vê, o “buraco é mais embaixo”, e nem os oligarcas russos e tampouco Putin, seu chefe, têm relações assim tão hostis com a banca internacional e o imperialismo agressor.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia