Carlos Fernando (*)
Esta semana, um noticiário de TV matutino mostrou uma reportagem sobre a falta de atendimento aos pacientes que procuram Unidades de Pronto Atendimento (UPA) no Distrito Federal. Várias coisas chamaram a atenção nessa reportagem.
A primeira foi a situação da paciente moradora de Ceilândia encaminhada de uma Unidade Básica de Saúde para uma UPA, onde foi dito que não teria atendimento. Depois de uma peregrinação por outras unidades de saúde, ele só conseguiu atendimento no Novo Gama, em Goiás.
É só dar uma olhadinha no Google e a gente vê que, em 2020, o governador do DF quis barrar moradores de Goiás nas unidades de saúde do DF. No entanto, o SUS é um sistema universal. Barrar pacientes, sejam eles de onde forem, é inconstitucional.
Além disso, esse movimento de brasilienses buscarem atendimento nas cidades do Entorno e até na capital goiana, tornou-se rotina. É mais um fato que atesta a incompetência do GDF na gestão da saúde.
A segunda situação foi a recorrente falta de resposta da direção do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde, o IGESDF, às queixas apresentadas pela reportagem. As repostas do IGES têm sido assim, desde que ficou mais próximo o período eleitoral: ou dizem que o prontuário do paciente é sigiloso (ainda que a questão não diga respeito ao prontuário – que de fato, é sigiloso) ou desmentem a denúncia, ainda que as imagens e depoimentos mostrados as confirmem.
A terceira questão mostrada, mas não criticada na reportagem, é a do uso da “bandeira vermelha” para restringir o acesso dos pacientes aos serviços de saúde. É uma prática administrativa que precisa ser revista, no mínimo dando-se aos pacientes alternativas para obter a assistência que buscam.
O que ocorre atualmente é que o atendimento é negado e os pacientes são obrigados a peregrinar de porta em porta até encontrar socorro em algum lugar – mas nem a informação de para onde devem ir eles recebem do GDF.
É outra prática que só serve para maquiar a deficiência da gestão da saúde: as emergências ficam mais vazias, porque os pacientes estão no meio da rua, batendo nas portas de duas, três, cinco unidades de saúde diferentes, ou a caminho do Entorno, onde veem outros pacientes brasilienses conseguir atendimento.
Por último, a tentativa de calar a imprensa. É uma atitude que não serve à preservação da privacidade dos pacientes e servidores da saúde. É, na verdade, um meio de censura, para que o caos na saúde não pese negativamente na hora que cada cidadão brasiliense tiver seu encontro com a urna, em 2 de outubro próximo.
O que vemos hoje é um governo que busca esconder a situação caótica e os desmandos na gestão da saúde pública do DF – ao custo de medidas administrativas que deixam pacientes na rua, profissionais acuados e de tentativas de calar denúncias. Mas não vamos nos calar: nem pacientes nem profissionais de saúde.
E, como profissionais da saúde e cidadãos, nossa esperança é um dia termos um governo que chegue ao fim do mandato orgulhoso de mostrar o funcionamento do sistema público de saúde. A vergonha não é o SUS, com qualquer deficiência que tenha, mas a má atuação de governantes e gestores na gestão da saúde pública.
(*) Vice-presidente do Sindicato dos Médicos do DF