Três anos depois de sua frustrada inauguração no último dia de governo de Agnelo Queiroz (PT), o Centro Administrativo continua sendo um gigantesco elefante branco de 182.000m² cravado na interseção entre Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. E tudo leva a crer que a situação não mudará até o final do ano. A tendência é de que aquele que deveria ser a sede dos principais órgãos do Governo de Brasília permanecerá vazio e sem qualquer utilidade para a população.
A reportagem foi ao Centrad na terça-feira (23), mas o acesso é proibido aos visitantes. Os vigilantes são orientados a não responder questionamento. Ao ser abordada, uma vigilante virou as costas e caminhou em sentido contrário. Outro profissional afirmou que nada é feito por ali e que está tudo parado.
O Brasília Capital perguntou ao GDF se havia encerrado o contrato com as empresas, se tem a intenção de usar o complexo e o que pode ser feito naquele espaço ao longo de 2018. A Secretaria de Comunicação respondeu que o Governo de Brasília não se pronuncia sobre o assunto. Mesma postura teve a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos.
Comerciantes reclamam de prejuízos
Na vizinhança do Centrad, a maior decepção pelo não funcionamento do complexo é dos comerciantes. São inúmeras as histórias de empreendedores que acumulam perdas e prejuízos em seus negócios.
À espera dos 13 mil servidores que ocupariam o complexo, vendedores da rodoviária de Taguatinga contabilizam investimentos mal-sucedidos, diminuição nas vendas, sujeira e falta de segurança.
Rejane Pereira investiu R$ 20 mil – entre produtos e reforma na barraca. “Tínhamos banquinhas de vidro e investimos para melhorar a estrutura à espera da mudança do governo para cá. Entretanto, a mudança foi para pior, pois a realidade é que diminuiu o número de clientes”, lamenta.
“Isso já era para estar funcionando há muito tempo. A antiga rodoviária ficava em frente à estação do metrô. Muita gente passava por aqui. Agora, nós temos um elefante branco ao nosso lado. À noite convivemos com a insegurança ao passar em frente ao Centro Administrativo, pois tem muito usuário de drogas por ali”, reclama a comerciante.
Vendedora de passagens para o Entorno, Milaynne Ferreira aponta que, com a diminuição do movimento, algumas empresas de ônibus saíram e cerca de 10 linhas pararam de operar na rodoviária. “Nossas vendas caíram 50%. Tem linhas para a rodoviária do Plano Piloto, Cruzeiro, QNL e Águas Claras que foram cortadas”.
Pesque-pague – A 100 metros do Centro Administrativo, o Pesque-Pague Taguatinga conseguiu manter a clientela nos últimos anos, com cerca de mil visitantes por fim de semana. Mas a expectativa era de que o número ampliasse no início da gestão de Rollemberg, com a previsão de início do funcionamento do complexo do GDF.
“Ficamos no vermelho em 2015. Felizmente, conseguimos nos reerguer e contratamos 15 funcionários a mais. Mas nossa receita não acompanhou o aumento da folha salarial com os atuais 60 empregados. Estamos aqui há 20 anos, por isso conseguimos resistir”, diz Gilberto Tashiro, dono do pesque-pague.
Auditoria apura nulidade do contrato
Em junho de 2016, o GDF formou uma comissão para verificar se há nulidade do contrato, seguindo a recomendação da auditoria feita pela Controladoria-Geral do DF.
A área de 182 mil metros quadrados do complexo é cercada por grades de ferro. A modernidade dos prédios do Centrad contrasta com estradas de terra que dificultam o acesso a um dos portões. Há outros dois portões com acesso pela pista asfaltada que separa o complexo e a rodoviária de Taguatinga.
O complexo é formado por 17 edifícios – dez de quatro andares e quatro de 15 andares – além do prédio da Governadoria, centro de convenções, estacionamento coberto e centro de convivência com restaurantes e lojas.
Pelo contrato, o GDF deveria ter ocupado o espaço a partir de janeiro de 2015, pagando um aluguel R$ 17 milhões mensais ao consórcio formado pela Odebrecht e Via Engenharia, responsável pela obra. Após 22 anos arcando com as prestações, o complexo passaria a ser propriedade do GDF. O montante final de investimentos chegaria a R$ 6 bilhões.
No entanto, nenhum pagamento foi feito pelo GDF até hoje. Em julho de 2015, a 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça cassou a liminar que suspendia os pagamentos à concessionária. O consórcio quer a rescisão do contrato e o pagamento de R$ 1 bilhão para quitar os empréstimos feitos junto à Caixa Econômica Federal e ao Santander.