O Brasil vive hoje a maior crise de sua história, resultado combinado da pior crise na saúde pública desde a gripe espanhola, de 1919; da precipitação de uma gigantesca crise econômica e seus perversos desdobramentos sociais e da maior ameaça à sua débil democracia desde 1964.
Embora o governo federal estime uma queda no PIB em 2020 da ordem de -4,7% e o mercado projete queda de -6,0%, não será surpreendente, caso a pandemia se prolongue por mais dois ou três meses, conforme previsto, que cheguemos ao final do ano com queda superior a -10,0%, o que seria o pior resultado econômico de nossa história.
Expliquemos: pela ótica da oferta, o único setor que deve se salvar, inclusive crescer, é o agropecuário, mas seu peso no PIB é pequeno, incapaz de neutralizar a gigantesca retração na indústria e em serviços. Pela ótica da demanda, é esperada uma enorme redução no consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB.
Por fim, pela ótica da renda, é inevitável a forte retração no rendimento dos trabalhadores, formais e informais, assim como nos lucros das empresas, aluguéis e impostos. Como efeito colateral, deveremos saltar dos atuais 18 milhões de desempregados, incluindo os desalentados, para mais de 25 milhões. Um recorde dramático.
No DF as consequências do covid-19 na economia deverão ser expressivas, embora com características distintas de outras Unidades da Federação em face às características peculiares de nossa estrutura econômica.
De um lado, o impacto na receita deverá ser menor, visto que o orçamento local é menos dependente de receitas vinculadas a atividades produtivas. De outro, a enorme presença de micro e pequenas empresas e o alto grau de informalidade nas relações de trabalho deverão ter impacto devastador nos níveis de desemprego, que já excede 330 mil.
Isto posto, a tendência é que a concentração de renda aumente ainda mais em Brasília, ela que já ostenta o mais elevado índice de gini para este indicador no Brasil. Enquanto o ultraliberal Paulo Guedes, fã de Pinochet, comemora ter colocado uma granada no bolso dos servidores públicos, defende dar dinheiro para os bancos e grandes empresas, e não para as pequenas, e prega que se privatize logo a “p.” do Banco do Brasil, o povo sofre e constata o quão perverso são os cortes sistemáticos nos gastos e investimentos públicos em saúde, quão espúria é a tese do Estado Mínimo e que o “velho” Estado é insubstituível no enfrentamento e superação da crise.
Que valha como lição!
(*) Ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia