O empresário José Carlos Daher, de 71 anos, foi solto na madrugada desta sexta-feira (7) após ser preso em flagrante por posse ilegal de uma pistola \”ponto 45\”, de uso restrito do Exército e das polícias Federal e Militar. A arma foi encontrada durante buscas da segunda fase da operação Mr. Hyde, que investiga o envolvimento do hospital Daher em um esquema conhecido como \”máfia das próteses\”.
A decisão de soltura veio do desembargador plantonista Fernando Antonio Habibe Pereira. Não havia possibilidade de pagamento de fiança na delegacia. Segundo o advogado dele, Paulo Maurício Siqueira, foram pagos cerca de dez salários mínimos para a liberação.
\”Foi tudo um mal-entendido. É uma arma muito antiga, que ele recebeu há mais de 40 anos de presente de um parente. Não tinha bala, não tinha nada. Era um bem que ele guardava por afeto\”, disse Siqueira.
A pena por posse de arma varia de três a seis anos de reclusão. A arma foi encontrada na casa do empresário, na quadra QL 8 do Lago Sul, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão.
O Ministério Público do DF e a Polícia Civil afirmam que Daher teve participação ativa no esquema da \”máfia das próteses\”, e que acabava lucrando com a colocação de órteses e próteses – superfaturadas e sem necessidade – em pacientes.
\”Há uma participação direta do chefe do Daher no controle do pagamento. No final, quem ganha com o esquema é o dono. Conseguimos pegar documentações internas do hospital e vimos que tudo era feito sem censura\”, afirmou o promotor Maurício Miranda, em coletiva na manhã desta quinta.
O MP chegou a pedir a prisão de Daher pelo suposto envolvimento na máfia, mas a solicitação foi negada pela Justiça. Nesta quinta, durante a segunda fase da Mr. Hyde, a Polícia Civil cumpriu mandados de condução coercitiva – quando o alvo é levado a prestar depoimento – e de busca e apreensão contra o empresário.
O advogado do hospital negou as acusações relacionadas à \”máfia das próteses\”. \”Não temos dúvida de que os procedimentos do hospital são todos corretos. O Daher não sabe de nenhum envolvimento. As cirurgias são realizadas pelos médicos\”, continuou Paulo Maurício Siqueira. A assessoria de imprensa do Daher informou que colabora \”ativamente com as solicitações realizadas\”.
Mr. Hyde
Além de José Carlos Daher, outros funcionários do centro médico foram alvos da operação desta quinta. A superintendente Maria de Lourdes da Silva Pinto também foi conduzida coercitivamente, após ter o pedido de prisão temporária negado pela Justiça.
Os policiais levaram para a delegacia a chefe do setor financeiro, Wirlane Rubens da Silva; o médico responsável técnico do hospital, José Wilson do Bonfim Lopes, o diretor comercial Marco Aurélio Silva Costa e a funcionária Patrícia Bezerra Mendes. A ex-funcionária Ana Maria Monteiro Machado não tinha sido encontrada até as 13h.
Uma clínica que funcionava ao lado do Daher, no Lago Sul, foi interditada. Segundo o MP, eram realizados procedimentos médicos no local, sem autorização. O lote também abriga o RH e a parte administrativa da unidade.
Como funcionava
De acordo com os investigadores, o hospital lucrava ao cobrar de planos de saúde e recebia comissões por indicar um grupo de fornecedoras de próteses já determinados. Parte do lucro, que girava em torno de 15%, acabava sendo divido com os médicos. O MP informou que ainda vai calcular quanto o esquema teria movimentado. Pelo cálculo deles, era cobrado preço entre 800% e 1.000% maior do que realmente a prótese custaria no mercado.
Segundo o delegado Luiz Henrique Sampaio, suspeitas sobre o Daher foram levantadas ainda na primeira fase da operação. O nome do hospital aparecia em algumas escutas telefônicas interceptadas no inquérito. No entanto, a segunda etapa foi motivada pelo recebimento de e-mails e outros documentos que comprovavam a prática da suposta máfia.
Os responsáveis pela investigação afirmam que computadores do hospital chegaram a ser formatados. Questionados, os funcionários relataram que houve um ataque de vírus nos equipamentos. A suspeita, no entanto, é de que haja tentativa de ocultação de provas.
\”Sem o hospital, nao existe esquema. Está armado entre o hospital, as distribuidoras e os médicos. A situação só funciona quando os três atuam\”, declarou o promotor Maurício Miranda.
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