Nilva Belo de Morais (*)
Em 1909, o médico, cientista, pesquisador e sanitarista brasileiro Carlos Chagas descobriu que o inseto barbeiro era hospedeiro do protozoário trypanosoma cruzi, transmissor da doença de Chagas. Mais de 100 anos depois de sua descoberta, a Chagas ainda compõe o rol de doenças negligenciadas do século XXI. Não existe vacina e tampouco cura. No máximo, ela pode ser controlada.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença de Chagas é um problema de saúde pública e endêmica em vários países da América Latina e em outras partes do mundo. Elamata, todos os anos, mais de 12 mil pessoas no Planeta. No Brasil, é a 4ª causa de mortes. Sãocerca de 4.500 pessoas vítimas, anualmente, por transmissão vetorial, oral, congênita e por transfusão de sangue.
Em Goiás, as estatísticas sobre a doença de Chagas mostram que ela leva a óbito mais de 750 pessoas por ano, e estima-se que há de 200 mil a 300 mil pessoas infectadas. Isso porque, depois do controle parcial do vetor, o barbeiro, e a falta de continuidade de programas sobre a doença, restou apenas uma população formada praticamente de idosos, que carregam um coração chagásico e sobrevivem à chaga do poder público, sem assistência do Estado.
Pessoas que morrem no silêncio da invisibilidade, por falta de informação, diagnóstico tardio, falta de acesso ao tratamento e ao conhecimento sobre a doença de Chagas.
O 14 foi abril foi instituído como o Dia Mundial dos Portadores de doença de Chagas pela OMS, e todos os anos, em vários países onde ela é endêmica, acontecem eventos, campanhas e movimentos para mudar o cenário.
No Brasil não é diferente. Nosso País conta com a parceria da Federação Internacional de Doença de Chagas (Findechagas), com sede no México.Contudo, no caso do estado de Goiás, as pessoas acometidas por esse mal esbarram na regulação em seus municípios de origem, na distância ao acesso ao tratamento – o tratamento de referência oferecido pelo SUS é feito no Hospital das Clínicas, em Goiânia Ou seja, é gratuito, mas difícil de conseguir.
Em Goiás está em curso a institucionalização da AGPDC (Associação Goiana dos Portadores de Doença de Chagas), sem fins lucrativos, de caráter filantrópico e assistencial, cuja finalidade é acolher e atender pessoas acometidas pela doença no estado.
Embora de forma lenta, devido aos membros residirem longe, à falta de sustentabilidade da instituição e de uma sede própria, a associação é um sonho de médicos militantes em prol das pessoas acometidas e daquelas que são portadores e nem sabem.
Todas as pessoas acometidas pela doença de Chagas têm direito ao acesso à sorologia para a doença de Chagas, e ao acesso ao tratamento gratuito pelo SUS. E conclamam por sensibilidade do Poder Público e da sociedade para colaborar com mobilização dos agentes políticos para colocar a doença de Chagas nas prioridades e mudar o cenário de um mal centenário, carregado de preconceitos sociais, psicológicos e econômicos.
A doença de Chagas não pode continuar matando em silêncio!
(*) Presidente da Associação Goiana dos Portadores de Doença de Chagas (AGPDC)
Contato: (62-99671-4646
E-mail: agpdc2020@gmail.com
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