Não seria exagero dizer que não houve um único período tranquilo, estável, nesses quase três anos de desgoverno Bolsonaro. Nada mais apropriado para quem disse “eu não vim para construir nada, estou aqui para destruir”. Seja na área econômica, social, ambiental, político-institucional, todas as ações deste governo desastrado apontam para a destruição, a desconstrução de tudo que levou décadas para ser erigido.
Comecemos pela Economia. Há uma semana, o IBGE divulgou o PIB do 3º trimestre caiu 0,1% em relação ao trimestre anterior, que já havia caído 0,4% em relação ao primeiro. O fato é que o PIB deste ano apenas recuperará o que perdeu em 2020. Considerando que o crescimento em 2019 foi de 1,4% e que a previsão para 2022 é de crescimento zero, o acumulado em 4 anos será de crescimento médio de 0,3% ao ano, o que, em termos per capita, representa crescimento negativo de -0,4%. Desde a República, em 1889, pior apenas Collor em 1990/92. Já a dívida pública superou a marca recorde de R$ 7 trilhões, ou 83% do PIB.
A gestão econômica do “posto Ipiranga” é tão ruim que levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating em 78 países revelou que a Bolsa de São Paulo teve o 77º pior resultado, melhor apenas que a Bolsa de Caracas. Extrema ironia, é o bolsonarismo aproximando o Brasil da Venezuela. Desde janeiro deste ano, a Bolsa caiu 13,6% (21% desde março), enquanto as ações negociadas nas bolsas de valores de “potências” como Bangladesh, Cazaquistão e Sri Lanka tiveram valorização de 28,1%, 37,7% e 68,9% respectivamente. Na Argentina, tão criticada pelos bolsominions, aumentou 54,8%.
Fome
Na área social, o quadro é de terra arrasada: o contingente que passa fome grave atingiu 19 milhões de pessoas, que, somadas aos 24 milhões com fome moderada, totaliza nada menos que 43 milhões de pessoas na miséria. Nada surpreendente para um país com 25 milhões de desempregados (considerando os desalentados e os que migraram para a inatividade) e mais de 40 milhões com trabalho precário. De outro lado, a inflação está prestes a superar a de FHC, de 2002, e se tornar a maior desde Collor.
Na área ambiental, a destruição é total. Enquanto os órgãos de proteção são desmantelados, os pecuaristas e sojicultores continuam ampliando o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, e os garimpeiros vão despejando mercúrio nos rios amazônicos e envenenando os índios que se alimentam de peixes contaminados. Na área política/institucional, prospera a desmoralização das instituições e a cooptação descarada de parlamentares do Centrão mediante a farta distribuição de bilhões do orçamento público na forma de emendas do relator. Em suma, um quadro desolador aguarda o candidato que subirá a rampa do Planalto em janeiro de 2023.
BolsoMoro
O aprofundamento da crise econômica e social tem levado à patamares recordes a desaprovação ao desgoverno Bolsonaro. Pesquisas sérias já a situam na faixa de 60%, fazendo com que as intenções de voto no presidente-genocida tenham sido reduzidas para a faixa de 20% a 25%. Tal cenário tem provocado a migração de apoios à terceira via representada pelo “juiz ladrão” Sergio Moro. São os mesmos que apoiaram entusiasticamente a candidatura de Bolsonaro em 2018 – frações da burguesia, da grande mídia e até militares de alta patente – e que agora enxergam em Moro o candidato com maiores chances de derrotar Lula.
A conferir!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital