O último trimestre de 2021 prenuncia que a crise econômica e social do país tende a se agravar no próximo ano. Num momento em que o Brasil – por irresponsabilidade e incompetência do desgoverno Bolsonaro no combate à pandemia – alcança 21,5 milhões de contaminados (milhões com sequelas) e 600 mil mortos, percebemos que os flagelos que atingem o País vão muito além do coronavírus.
A inflação oficial (IPCA) superou a barreira dos 10%, e a chamada “inflação dos pobres” (a dos alimentos nos domicílios) está próxima de 20%, enquanto os salários são reajustados entre 5% e 8%, quando o são. E nem se falou aqui dos preços do gás de cozinha, combustíveis, energia e serviços.
O desgoverno Bolsonaro comemorou o leve recuo na taxa de desemprego, segundo dados do IBGE. Mas não há o que comemorar, pois a situação do mercado de trabalho é uma tragédia. A título de comparação, num total de 89 milhões de pessoas ocupadas, o número de trabalhadores com carteira assinada subiu para 30,65 milhões em julho.
Pandemia e a economia
Antes da pandemia, em dezembro de 2019, era de 33,65 milhões, e em dezembro de 2014, antes da sabotagem e deposição do governo Dilma, somava 36,5 milhões, quase 6 milhões a mais. Já o total de desocupados, incluindo a Força de Trabalho Potencial (desalentados e os que foram para a inatividade), que era de 10,95 milhões em 2014, aumentou para 19,4 milhões em dezembro de 2019 e hoje soma 24 milhões (21,2% da Força de Trabalho Ampliada).
A tudo isso se somam a crise hídrica (e possível apagão) – em parte decorrente da criminosa política ambiental de Bolsonaro –; a crise moral – com números alarmantes de casos de racismo, homofobia e feminicídio -; e o aumento da desigualdade social, com a expansão da pobreza e da fome em decorrência do aumento sem precedentes da fortuna dos ricaços. Desigualdade que sempre marcou de forma trágica nossa história.
Gilberto Gil
Lembremos Gilberto Gil, que completa 60 anos de uma brilhante carreira, e que, em 1967, com “Roda”, já dizia: “Quem tem dinheiro no mundo, quanto mais tem quer ganhar. E a gente que não tem nada, fica pior do que está”. E manifestava sua vã esperança: “Se lá embaixo (cova) há igualdade, aqui em cima há de haver”.
Em Madalena (1992), criticava a fome no paraíso do agronegócio: “(Madalena) comendo farinha seca, olhando a produção agrícola e a pecuária” e também a reação passiva do povo: “Vai na próxima capela e acende uma vela pra não passar fome”. Já em Procissão (1966), fazia uma crítica ao conformismo social pregado pelas religiões: “E Jesus prometeu coisa melhor, só depois de entregar o corpo ao chão”.
Salve o grande Gil!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital