Durante a ida do presidente Lula ao Rio Grande do Sul para tratar das ações conjuntas para salvar vidas e socorrer milhares de desalojados, o governador Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), se apressaram em dizer que não era o momento de se buscar responsáveis pela tragédia. De fato, não é. E eles têm razões de sobra para adiar tal discussão.
Mas, passado o momento mais crítico, duas questões deverão ser respondidas: Por que os desastres climáticos têm sido tão frequentes e intensos? Por que as medidas protetoras e mitigadoras não têm sido implementadas?
A recorrência de desastres climáticos deriva da irresponsabilidade que os agentes econômicos conduzem suas atividades, desde industriais que poluem a atmosfera e os rios nas áreas urbanas até a turma do agronegócio, que desmata e envenena o solo (e o subsolo e os rios) a seu bel prazer.
Preferem ignorar, por exemplo, que o mais baixo nível da história do rio Paraguai em 2023 é decorrência da decuplicação nos últimos 20 anos do cultivo de soja, milho e cana nas bacias hidrográficas que formam o outrora caudaloso rio.
Especialistas afirmam que os gastos com a recuperação das áreas atingidas por desastres climáticos são mais de dez vezes superiores aos gastos com a prevenção de acidentes. O orçamento do governo federal destinado à prevenção de acidentes despencou de R$ 8,6 bilhões em 2014 (governo Dilma) para R$ 1,5 bilhão em 2021, com Bolsonaro.
Lula elevou para R$ 2,6 bilhões em 2023, mas ainda é apenas 30% do valor de 2014. Segundo a FSP, a Prefeitura de Porto Alegre aplicou em “Melhoria no sistema contra cheias” míseros 142 mil reais em 2022 e zero em 2023.
Já o governador Leite aplicou não mais que 0,2% do orçamento estadual em prevenção e combate às cheias, pois sua preocupação maior é privatizar empresas públicas ou fechá-las. E, no sábado (11), o governo estadual estimou em R$ 30 bilhões o custo para mudar o local das moradias dos habitantes dos municípios Roca Sales, Cruzeiro do Sul e Muçum, localizadas em áreas baixas, do vale do rio Taquari, passíveis de serem novamente alagadas.
Os três municípios possuem um total de 26,6 mil habitantes. Mesmo que sejam construídas novas habitações em áreas altas para todos os habitantes, inclusive os residentes na área rural, seriam cerca de 9 mil moradias. Gastos de R$ 30 bilhões significaria o custo médio de R$ 3,3 milhões por moradia. Seriam casas populares ou mansões? Com que propósito Leite superestima tanto os gastos com a reconstrução do estado?