“Ou os governantes tratam com respeito os operantes da segurança pública ou vão brincar de ser o chefe, e os policiais vão brincar de ser mandados.”
O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) propôs a policiais militares que faltem ao trabalho no período da Olimpíada como forma de pressionar o governo por reajuste salarial de 27,9% e melhorias no plano de saúde da corporação.
“Agora, independente de anunciar greve, independente de qualquer coisa que a gente possa deixar a sociedade apavorada, nós podemos anunciar um dia de não comparecimento ao quartel (sic). A maioria aqui já está bem idoso, já está bem crescido. Alguém aqui terá qualquer dia de problema se no dia 4 de julho, 5 de julho, que no dia da Olimpíada a gente não vai trabalhar?”, indaga o deputado na gravação.
Ele confirmou ao G1 o encontro e as declarações, mas negou que estivesse incitando uma greve da categoria. “A gente não pode fazer greve. Eu não sugiro greve. Digo que, já que não podemos fazer greve, a gente se manifeste um dia faltando o serviço, que cada um resolva faltar ao serviço. Alguém pode impedir isso? Todo mundo fica doente”, ironizou.
O presidente da Associação dos Oficiais da PMDF, Fábio Barbosa Pizetta, criticou a sugestão de Fraga. Ele disse que a entidade, que representa 1,5 mil servidores, não participou do encontro, que aconteceu na Câmara dos Deputados, em 20 de junho, e durou seis horas. O DF tem 7,8 mil bombeiros militares e 13,6 mil policiais militares.
\”A associação atua dentro da lei. Greve e paralisações são crime. Incitar também é crime\”, afirmou Pizetta. Policiais militares são impedidos de fazer greve, segundo o Código Penal Militar. A pena pode chegar a três anos de prisão, por motim e insubordinação.
“A gente não pode fazer greve. Eu não sugiro greve. Digo que, já que não podemos fazer greve, a gente se manifeste um dia faltando o serviço, que cada um resolva faltar ao serviço. Alguém pode impedir isso? Todo mundo fica doente”, afirmou o deputado federal ao G1. “Chega de ser pisoteado, execrado, sacrificado.\”
Em outro trecho da gravação, Fraga diz que o Exército chegou a discutir uma alternativa a uma eventual greve da PM em Brasília durante os Jogos Olímpicos. O Exército negou que estude o uso de tropas no DF caso os PMs cruzem os braços. A Olimpíada acontece de 5 e 21 de agosto. Brasília é uma das seis cidades a sediar jogos de futebol – sete partidas do masculino, incluindo os dois primeiros confrontos da seleção brasileira, e três do feminino.
Reivindicações – Fraga disse que, caso Rollemberg não se posicione até o início de julho, policiais militares farão assembleia para decidir que ações adotar. Entre as possibilidades estão uma operação tartaruga e faltas ao trabalho. O GDF informou que Rollemberg não comentaria as declarações do deputado.
Questionado sobre a possibilidade de prejuízos à segurança da população com uma eventual paralisação de policiais, o parlamentar afirmou: “Ou os governantes tratam com respeito os operantes da segurança pública ou vão brincar de ser o chefe, e os policiais vão brincar de ser mandados.”
A secretária de Segurança Pública, Márcia de Alencar, disse não ver risco real de paralisação. Porém, descartou a concessão de aumento salarial. “Nesse momento o governo não tem como fazer ajuste para as polícias de forma geral em função da Lei de Responsabilidade Fiscal. Embora o dinheiro venha do Fundo Constitucional, entra para as contas do Estado.”
Em relação ao plano de saúde, ela declarou estar negociando melhorias junto às secretarias de Planejamento e Fazenda melhorias. Por causa de dívidas do governo que se arrastam desde 2014, parte dos hospitais rompeu os contratos que tinha com o plano de saúde da Polícia Militar.