A denúncia de misoginia na igreja Presbiteriana do Lago Sul de Brasília (IPLS), publicada com exclusividade na edição 516 do Brasília Capital, foi parar na mesa da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Regina Alves.
Ao tomar conhecimento do caso, Damares convidou membros da denominação religiosa e ofereceu apoio. Entre eles, o pastor Marcelo de Oliveira Morais, que revelou haver uma discriminação às mulheres dentro da IPLS.
Segundo ele contou à reportagem, há uma resolução interna da igreja que proíbe mulheres de subirem a qualquer púlpito da IPLS para se expressar, seja por meio de pregação ou apenas para dirigir uma palavra em qualquer dependência dos domínios da Igreja Presbiteriana do Lago Sul.
Pastora evangélica, a ministra se viu na pele das irmãs daquela denominação religiosa e classificou a conduta da igreja como “absurda.” É o que revela o pastor afastado da IPLS, Marcelo Morais.
Jezabel – “A ministra marcou uma audiência com a minha mulher. Eu a acompanhei juntamente com os presbíteros Bruno Henrique e Bruno Peixoto. Damares classificou o fato como absurdo. Ela colocou à nossa disposição a equipe de conselheiros jurídicos para nos auxiliar no processo na Justiça”, detalha Marcelo ao Brasília Capital.
O pastor conta que a ministra se mostrou bastante irritada com o fato. “Eu sou pastora e não sou Jezabel”, comparou ela, se referindo à personagem bíblica, que é descrita no Primeiro Livro de Reis como uma figura pagã, que casou-se com Acabe, rei de Israel, e corrompeu o seu coração, a ponto de o monarca promover orgias em seu reino e passar a cultuar outros deuses.
Foi dessa forma, aliás, citando a passagem bíblica, que um pastor da igreja fundamentou sua tese no processo de afastamento de Marcelo, que, na ocasião era o líder religioso da IPLS e descumpriu a proibição peremptória de mulheres prestarem culto ou fazerem qualquer tipo de pregação no âmbito da igreja Presbiteriana ao devotar eventos e espaços para as mulheres.
Para justificar o uso da citação bíblica no Tribunal Eclesiástico, o acusador Alberto Jaegher de Carvalho, que é diácono na igreja, comparou a mulher de Marcelo, que pediu para não ser identificada, à figura de alguém que seria a Jezabel, dizendo que ela estava ensinando os homens daquela igreja a prestarem esse culto sexual a outros deuses.
Salário reduzido – Com 20 anos de dedicação à igreja, Marcelo teve seu mandato como pastor da IPLS interrompido no início de 2019 em virtude da acusação de favorecer as mulheres daquele ministério, que assumiu em 2018, quando foi designado a substituir o antigo pastor.
“Agora, estou impedido de exercer meu ministério, recebendo um quarto do que recebia antes. Afetaram meu orçamento familiar”, lamenta.
Agressão com inseticida
Outro fato que também teria desagradado a ministra Damares Alves foi a agressão com inseticida sofrida por duas funcionárias da secretaria de igreja no Lago Sul.
A agressão ocorreu porque as funcionárias se recusaram a dar a Alberto um computador usado por Marcelo e que estava lacrado para a Justiça analisá-lo tão logo o processo fosse aberto.
“Alberto chegou perto delas e borrifou inseticida no rosto das mulheres. Uma delas é asmática e ele sabia disso”, conta Antônio Silva, vice-presidente da Associação de Membros, Fundadores e Amigos da Igreja Presbiteriana (Ami). “Vamos aguardar a Justiça e a investigação que fizemos na delegacia sobre os ataques que fizeram à minha mulher”, disse Marcelo.
A reportagem continua à disposição da liderança da igreja para, caso queira, se manifestar sobre as acusações. Até a publicação desta matéria, o Brasília Capital não havia recebido resposta do Pastor Cléber, responsável pela Igreja Presbiteriana, sobre os fatos narrados na edição anterior pelo pastor Marcelo Morais quanto à resolução do Colégio Eclesiástico de 2018 e a suposta agressão do diácono Alberto Jaegher de Carvalho às funcionárias.
(*) Ary Filgueiras – Especial para o Brasília Capital