A morte é um fenômeno da vida com o qual é difícil lidar. Na minha opinião, isso se deve à nossa dificuldade de compreendê-la. Por isso, o primeiro passo é refletir sobre ela e buscar um modo de olhá-la de maneira a dar sentido para a nossa existência.
Ainda na faculdade, participei por dois anos de um projeto de fibrose cística, uma doença crônica que levava crianças e jovens para a morte até, no máximo, 18 anos de idade. Como estudante de psicologia, atuava como psicóloga dirigindo dois grupos de pais. Ali pude ver com clareza que a forma como entendemos a morte é a mesma como conseguimos dar um lugar para ela na nossa vida.
Em um dos grupos, os pais se mostravam revoltados, culpados e desconsolados. Nesse grupo era mais difícil encontrar uma explicação ou algo que os confortasse, pois eles viam a morte como castigo, punição e como o fim. Neste grupo, precisamos ressignificar o conceito de morte para ajudá-los no decorrer do tratamento dos filhos.
O outro grupo de pais, por coincidência mais religiosos (de várias tendências), conseguia compreender a morte como um fenômeno natural da vida, como uma passagem para um mundo melhor, como um encontro com Deus. E com esses pais, embora a dor da provável perda existisse, existia algo que ia muito além.
Essa forma de encarar a perda lhes abria inúmeras possibilidades, tanto para quem partia do mundo terreno, quanto para aqueles que ficavam. E de uma forma estranha, essa esperança de que a morte fosse uma coisa possivelmente boa confortava os seus corações e os encorajava a seguir.
Para todos nós que estamos vivos, a morte é uma certeza. Como? Quando? Não sabemos. Mas ela é certa para todos nós. Resta-nos viver o nosso melhor a cada dia, buscarmos solucionar todas as questões mal-resolvidas que impedem boas noites de sono, dizermos aquilo que sentimos de bom para os que nos são caros, perdoarmos e pedirmos perdão quando necessário.
Dessa forma, estaremos em paz quando a morte bater à nossa porta. Precisamos confiar na força divina e no amor divino e entregar àqueles que se foram para esse caminho de luz e verdade. Entregar, sabendo que quem deixou uma história, jamais morrerá: viverá para sempre em nossos corações. E é desse amor que nossa alma se alimenta para prosseguir.
(*) Psicóloga, psicodramatista, neuropsicóloga, terapeuta sexual, especialista em EMDR, Brainspotting e palestrante.
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