Uma das características centrais do atual estágio do sistema capitalista, por alguns chamado de globalização, mas que prefiro tratar como senil, é a da extrema concentração da renda e da riqueza. A própria pandemia serviu como pretexto para a agudização desse processo, que tem como contraface o aumento do desemprego, da pobreza e da fome em escala mundial.
O agravamento nas condições de vida de bilhões de pessoas em todo o planeta e a imensurável acumulação de riquezas por parte de uma ínfima minoria de abastados provocou a mobilização sindical e de movimentos sociais e colocou na ordem do dia a luta contra a desigualdade social, além de um certo revigoramento de partidos políticos de esquerda e de centro-esquerda, que passaram a levantar a bandeira da luta contra a desigualdade e pela taxação dos mais ricos.
Eleições na Alemanha
O que ocorreu na Alemanha no domingo (26) foi resultado deste processo. Enquanto o Partido Socialdemocrata (SPD), com 25,7% dos votos, conseguiu se recuperar da derrota de 2017, retomando o mesmo patamar obtido em 2013, o Partido Democrata Cristão teve seu pior resultado em seus 72 anos.
Os 24,1% dos votos obtidos significaram recuo de 17,5 pontos percentuais em relação aos 41,6% registrados em 2013 – perda de quase 7 milhões de eleitores. Quem mais avançou foi o Partido Verde, de centro-esquerda, que obteve quase 15% dos votos e deve formar com o SPD a base do novo governo alemão.
O mesmo movimento que elegeu governos de centro-esquerda na Espanha e em Portugal e que fez com que os cinco países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia), após mais de meio século, voltassem a ter ao mesmo tempo governos socialdemocratas.
Trata-se, sobretudo, do repúdio às plataformas liberais. Às sucessivas derrotas da direita na Europa e à derrota de Trump nos EUA se somam as recentes derrotas da direita latino-americana no México, Argentina, Bolívia e Peru, e o avanço da mobilização social no Chile, Colômbia e Equador, processo que fatalmente será coroado com a derrota de Bolsonaro no Brasil em 2022.
Frustrações
Infelizmente a expectativa da classe trabalhadora e da massa de excluídos ao elegerem partidos de esquerda e centro-esquerda mundo afora tem sido frequentemente frustrada pelos dirigentes dessas organizações, que sucumbem às pressões das burguesias nacionais e do imperialismo, quando não são cooptados.
Não se dão contam de que o sistema capitalista e o imperialismo norte-americano nada mais têm a oferecer à humanidade que não seja guerra, miséria e deterioração do planeta. Que honrem seus mandatos para que a civilização possa vencer a barbárie!
O rabo do macaco
“Olha pro teu rabo, macaco”! Este provérbio popular diz respeito àquelas pessoas que apontam erros em outras, quando, na verdade, os erros são delas próprias. É o caso de todos os candidatos presidenciais da chamada terceira via: Doria e Leite (PSDB), Mandetta e Pacheco (DEM), Amoedo (Novo), Alessandro (Cidadania), Simone (MDB) e mesmo Ciro (PDT).
Todos acusam Lula e o PT de serem os responsáveis pela eleição de Bolsonaro. Ora, ora”! Enquanto o PT, Lula e Haddad enfrentavam Bolsonaro no 2º turno em 2018, o que faziam os seis primeiros? Pediam voto para Bolsonaro, ao passo que Ciro e Simone lavavam as mãos.
E quando Moro e seus asseclas da Lava Jato, com o apoio da grande mídia, despejavam seu repertório de mentiras, criminalizando e massacrando Lula e o PT, o que diziam os candidatos da terceira via? Simplesmente endossavam as mentiras. E agora vêm com essa conversa. Haja cara de pau!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia