Júlio Miragaya (*)
No domingo (30), o Brasil realizará a eleição mais importante de sua história. Não está em disputa simplesmente se o governo será do PT ou do PL; de esquerda ou de direita; socialista ou liberal. O que está em jogo é se o Brasil voltará a trilhar o caminho de uma sociedade mais humana, solidária e civilizada ou apressará o passo rumo a uma sociedade egoísta, desumana, recheada de atos e práticas típicas da barbárie.
A vanguarda do ‘exército’ bolsonarista é formada pelos distintos extratos da burguesia brasileira: financeira, industrial, comercial e agrária. É secundada pela classe média alta (donos de empresas e propriedades agrícolas de médio porte, profissionais liberais, servidores do alto escalão etc), a cúpula das forças militares e policiais e das igrejas evangélicas. Trata-se de eleitores com grande poder econômico e político e que desde sempre repudiaram as forças políticas de esquerda – hoje o PT, mas antes, o antigo PCB e o PTB de Jango e Brizola.
É o “casamento” dos liberais com os conservadores, dos segmentos sociais que colocam em primeiro plano a preservação e ampliação de seus ganhos econômicos com os segmentos que priorizam a pauta conservadora de costumes, o que conflui para uma sociedade excludente, preconceituosa, em que a prosperidade sorri para poucos.
Exploram, de forma hipócrita, o lema “Deus, Pátria e Família”, pois pregam o ódio e a violência, a despeito do que versa a palavra de Cristo; desfraldam a bandeira verde-amarela, mas mandam seus filhos estudar nos EUA ou Europa e planejam férias em Miami ou Paris; e veneram a família, desde que seja a sua e de seus pares, rejeitando as demais que não se enquadram em seu estreito modelito.
A sociedade que aspiram deve ser dominada pelas “pessoas de bem”, notadamente homens brancos, “hetero” e economicamente bem sucedidos. Abominam os mais pobres e miseráveis; os favelados; os negros; os nordestinos; os membros da comunidade LGBT; os ateus, agnósticos e praticantes de religiões de origem afro e reservam às mulheres o papel de mero coadjuvantes.
Não lhes incomoda ter 33 milhões de pessoas, incluindo milhões de crianças, passando fome. Não lhes incomoda a destruição do meio ambiente. Não lhes incomoda a morte de quase 700 mil pessoas na pandemia. Eles estando bem, o resto que se exploda! E para manter os “desfavorecidos” e descontentes sob controle, basta recorrer à repressão e à violência.
Mas é importante frisar que sendo 60% dos brasileiros pobres ou miseráveis, residentes em domicílios com rendimento médio mensal de até 3 salários-mínimos, a direita, para realizar seu projeto de poder, tem que buscar eleitores neste segmento. E se Bolsonaro, mesmo minoritário, tem 1/3 deste eleitorado, significa que entre 40% e 45% do eleitorado bolsonarista é formado por pessoas deste extrato de renda.
Em sua maioria, são pessoas que não têm afinidade ideológica com o bolsonarismo, mas votam iludidas pelo “pacote de bondades” (Auxílio Brasil, Vale Gás etc) e/ou, no caso de evangélicos, convencidas pelo discurso do pastor da esquina ou da TV.
Domingo 30 é dia de derrotar a barbárie e trazer este povo pro lado de cá!
A serpente que saiu do ovo
O episódio da prisão do ex-deputado e dirigente do PTB Roberto Jefferson elucida bem o anteriormente exposto, o tipo de “gente de bem” gerado pelo bolsonarismo. Condenado por repetidas agressões ao STF e incitações à violência, foi colocado em prisão domiciliar, de onde desferiu um infame ataque sexista à ministra do STF Cármem Lúcia. Decretada sua detenção, recebeu os policiais federais, em Levy Gasparian (RJ), com tiros de fuzil e granadas. E mesmo tendo ferido dois policiais, recebeu tratamento vip por parte de um dos policiais, que, em vez de lhe colocar algemas e o conduzir para o camburão, lhe disse, sorrindo: “o que o senhor precisar a gente vai fazer”.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia