Mario Pontes
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No modelo de sociedade que hoje agrupa boa parte dos habitantes do planeta, um traço negativo – aliás muito presente – é a existência de muros de vidro destinados a barrar a participação dos cidadãos na vida política. Por toda parte, mais aqui, menos ali, o obstáculo é compensado pela oferta de teatro barato. E não é necessário ser erudito para saber que tal atitude é simples retomada – em medida estreita e nível quase sempre muito baixo – da política pela primeira vez explicitada por Tibério, um imperador romano para quem o povo podia e devia ser governado mediante a oferta de panem et circenses: pão e circo, comida e espetáculo.
Tibérios há muitos neste admirável mundo do áudio, que insufla a estridência, e do visual, que sacraliza o narcisismo. E se você esqueceu, lembro que o desvio psicológico assim batizado origina-se numa figura negativa da mitologia grega: Narciso. Um cara que se achava lindo, e passava os dias a admirar a própria imagem, refletida nas águas de uma lagoa.
Contudo, há uma diferença entre Narciso e seus descendentes. Ele só fez mal a si mesmo. Os herdeiros da atual geração, alguns dos quais habitam nosso espaço político, já não se limitam a contemplar a própria imagem; usam-na como isca em suas manobras de poder… Mas, como registram os melhores tratados de psicologia, é comum que narcisistas não resistam ao peso do próprio egocentrismo e da enorme vaidade que os domina e acaba por esmagá-los.
A propósito: lembram-se como findou-se aquele sujeito de bigodinho triangular e fala esganiçada, que em nome dos seus delírios de grandeza (queria construir um Império de mil anos) destruiu um continente inteiro e deixou dezenas de milhões de mortos pelo caminho? Com um tiro no ouvido. Disparado por ele mesmo.
(*) Jornalista, escritor e tradutor. Ex-editor do Jornal do Brasil
Ah, esses gregos gastadores!
Antes de Colombo
Carbono e Vinho