Chico Vigilante revela nesta entrevista ao Brasília Capital que tem o sonho de um dia governar Brasília. Mas não aceitou o desafio de concorrer este ano, embora aposte que o PT estará no segundo turno das eleições de outubro. Deputado federal por duas legislaturas, vai tentar o quarto mandato na Câmara Legislativa.
O petista aplaude o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) por desistir da pré-candidatura ao GDF após sofrer pressões de aliados para “não entregar a alma ao diabo”. E exorta-o a dar nome ao Coisa Ruim: “Quem são os diabos e o que queriam? Com certeza não era vela, nem reza e nem galinha preta. Conta, Frejat!”, desafia.
Ele destaca a importância de Érika Kokay se reeleger deputada federal: “Ela é necessária, fundamental para qualquer sociedade que se diga minimamente humanitária”. Ataca a pretensão do ex-governador-tampão Rogério Rosso suceder Frejat na disputa pelo Buriti – “ele deixou Brasília destruída”, e diz que o senador Cristovam Buarque (PPS) e o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) “cuspiram no prato que comeram” e “traíram o PT”.
Entrevista Chico Vigilante
O cenário político sofreu uma reviravolta semana com a desistência do ex-secretário de saúde Jofran Frejat. Qual sua visão quanto a essa decisão? – Como deputado distrital, militante e fundador do Partido dos Trabalhadores desde 1980, acho que a política no Distrito Federal vive um momento de muita incerteza. Temo que possamos ter aqui DF o maior índice de abstenção e voto nulo e branco da história. Os candidatos todos têm a responsabilidade de falar para Brasília do jeito que ela é. Está na hora de parar de fazer mentira e ficar inventando coisas. Eu vi, por exemplo, o senhor Rogério Rosso, que já foi governador de Brasília, dizendo que se for candidato a governador e ganhar a eleição, dará aumento para servidores no primeiro mês.
Isso seria possível? – Primeiro, ele tem que verificar como ele deixou Brasília nos nove meses que ele governou a cidade.
Como ele deixou Brasília? – Uma verdadeira capoeira. Buraco para todo lado.Na Esplanada dos Ministérios,a grama virou capim, com dois metros de altura. Os hospitais sucateados, as escolas caindo aos pedaços. Os nove meses do governo Rosso foram um desastre completo. O Agnelo (Queiroz, do PT), quando assumiu, em janeiro de 2011, em vez de ficar caçando culpado, foi governar. Tinha um posto de saúde em Planaltina que era alugado para uma igreja e estava sendo despejado.O padre entrou na justiça e conseguiu a reintegração do imóvel.
Mesmo sendo oposição ao governador Rollemberg, o senhor não admite que ele também assumiu e foi governar, inclusive num momento de profunda crise financeira? – Eu sou oposição ao Rollemberg porque ele mentiu no primeiro dia de governo.
Qual foi a mentira? – Ele disse que tinha encontrado apenas R$ 64 mil na conta do governo. No dia 5 de janeiro de 2015, eu provei que era mentira. Com um celular, usando minha senha no SIGO (Sistema de Gestão de Ouvidoria do DF), provei que o Rollemberg estava mentindo.
Quanto tinha na conta? – Tinha R$ 1,45 bilhão.Ele não sabia que só a Secretaria de Saúde, por exemplo, tinha 200 contas bancárias. Portanto, eu mostrei que o Fundo Previdenciário, o Iprev, que o Agnelo tinha assumido com R$ 200 milhões, em função de 36 mil servidores que ele contratou, tinha quase R$ 3 bilhões. Depois o Rollemberg usou esse dinheiro. Portanto, o Rollemberg mentiu quando disse que tinha encontrado o DF quebrado. E manteve isso nesses quatro anos.
A situação hoje, melhorou ou piorou? – Melhorou muito. Porque a Câmara Legislativa deixou o Rollemberg aumentar todas as taxas no DF.Inclusive ICMS de gasolina e óleo diesel. Aumentamos a capacidade de arrecadação do Distrito Federal em cerca de R$ 8 bilhões a mais para o Rollemberg. Dinheiro novo que entrou no caixa. A única coisa que nós não permitimos foi aumento de IPVA e IPTU.
Mas ele tem dito que um de seus legados será o reequilíbrio das contas do Distrito Federal… – Ele fica o tempo todo falando de uma herança maldita.Nunca provou a existência dessa herança maldita. Mas antes de assumir ele dizia de que dinheiro tinha, mas que faltava gestão. E tinha tanto dinheiro que ele queria dar 10% do Fundo Constitucional do Distrito Federal para o Entorno.
Hoje estamos prestes a começar outra campanha política. O PT,depois da prisão do Lula e do governo Agnelo,que sequer disputou o segundo turno, não tem candidato nem a presidente nem a governador… – O PT tem candidato a presidente, sim.Dia 15 de agosto de 2018 a candidatura do Lula será registrada com milhares de pessoas apoiando. E terá candidato aqui em Brasília. Eu, particularmente, estou apoiando o economista Júlio Miragaya. Ele foi presidente do Conselho Nacional de Economia e da Codeplan. Trata-se de uma pessoa com capacidade real para governar o DF.
E o Afonso Magalhães? – É pré-candidato. Eu apoio Júlio,e nós vamos ganhar no encontro do partido no dia 28 de agosto.
Pelo jeito, o PT terá uma chapa puro-sangue… – O PT vai sair sozinho. Muitas vezes é melhor estar só do que mal acompanhado.
Quem seriam essas más companhias? – É só verificar as companhias que nós tivemos.Você quer coisa pior do que o PT ter feito aliança com PMDB pro Temer depois trair a gente?
O PT também sempre esteve ao lado do PSB… – O Rollemberg foi deputado distrital, federal e senador graças ao PT. Depois chutou o PT. Ele é um sujeito mal agradecido.Cuspiu no prato que comeu.
Então, hoje, não tem nenhuma chance de o PT se aliar ao Rollemberg? – Em hipótese nenhuma, jamais faríamos aliança com o Rollemberg.
E com o PDT? – Com o PDT nós tivemos inicialmente disposição em fazer uma aliança. Estávamos realmente dispostos a apoiar uma candidatura que seria uma coisa nova na política do DF, que seria o Joe Valle. Infelizmente, o PDT não quis, e procurou outros caminhos. Se deu mal. Agora vai sair sozinho, também com um grande nome, um grande homem, que é o Peniel Pacheco.
Não teria acordo com o Peniel? – Não porque o PT já tem uma definição. Nós podemos conversar no segundo turno.
E quem vai para o segundo turno, o PT ou o PDT? – Nós esperamos passar pro segundo turno, mas se eles passarem a gente os apóia. O PT sempre teve no mínimo 20% dos votos. Com a pulverização dos votos hoje, não tenho dúvida de que é o suficiente para estarmos no segundo turno.
Dentro dessa linha do cuspiu no prato que comeu, o senador Cristovam Buarque (PPS), candidato à reeleição, teve a mesma postura em relação ao PT. Hoje, qual a relação do partido com ele?– Nós temos cinco pré-candidatos ao Senado e eu estou apoiando o deputado Wasny de Roure e o Marcelo Neves, professor da Universidade de Brasília.
Este tem o mesmo perfil do Cristovam. É para tirar mesmo votos dele? – Por coincidência, o Marcelo Neves também é pernambucano. Só tem uma diferença: Ele é professor de Direito Constitucional e características completamente diferentes do Cristóvão. Acredito que se ele for eleito não vai trair a gente igual o Cristovam traiu.
E essa atitude do Frejat? – Eu quero nesse momento aplaudir o Frejat. Pela primeira vez teve um candidato com a coragem de peitar, de não aceitar o jogo que sempre foi feito na política do DF. Esse gesto do Frejat é muito profundo. Quando da instalação da Cidade Digital, o Lula me mandou procurar o (Joaquim) Roriz para trazer o empreendimento para o Distrito Federal. Houve uma oferta do governo de Marconi Perillo para levar para Goiás. Rio de Janeiro e São Paulo também queriam. O Lula falou que seria em Brasília. Delegou ao Zé Dirceu, que me mandou conversar com o Roriz. Fui eu, o José Flavio e o Palhares, que era do Ibama. Roriz respondeu que aceitaria o empreendimento com o maior prazer. E reforçou sua admiração pelo presidente Lula. Disse que a Casa Civil mandaria o projeto para o Congresso modificando a poligonal do Parque Nacional de Brasília, que iria ganhar 36mil hectares novos, e desocupar o lugar que hoje ocupa a Cidade Digital com 160 hectares> Na saída, o Roríz colocou a mão no meu obro e disse: “Meu caro deputado., muito bom o que o senhor fez. Mas eu quero fazer um pedido: Que o senhor me ajude a me libertar de determinados deputados naquela Câmara Legislativa. São propostas impublicáveis que eles trazem aqui pra mim. Nunca trazem propostas iguais à sua. Portanto, essa pratica vem do tempo do Roriz.
Mas nesse intervalo nós já tivemos dois governos do PT… – Passou por todos os governadores. O primeiro Mensalinho que houve no DF foichamado Anões do Cerrado. Os caras cobravam dinheiro para votar projetos na Câmara. Esta foi uma prática constante em todos os governos, inclusive no do Cristovam. Quando não era com dinheiro era com cargo. O Cristovam também pagou com cargo. Ou a Administração de Samambaia foi para Adão Xavier à custa do quê? Estou dando só uma coisa, mas eu sei demais. O Arruda, ele aguentou seis meses sem entrar no jogo efetivo. No dia que ele entrou no jogo eu estava na minha casa e falei pra minha mulher: “O Arruda vai cair”. Deu uma notícia no DFTV de que ele estava nomeando o Fábio Simão para ser o subsecretario que iria cuidar dos assuntos parlamentares na Câmara legislativa. E o Arruda caiu. O Agnelo negociou antes. Cada um dos partidos que apoiaram o Agnelo um já sabia de quem seria a Novacap, a CEB, o BRB… Deixaram os pepinos pro PT – Educação, Ação Social, Saúde. O desgaste ficou pra gente e o filé mignon ficou com os outros. Agora tentaram fazer a mesma coisa com o Frejat, que o conhece o jogo porque já participou quando foi secretário de Saúde. Deu um não. Deu um grito de libertação. Esse gesto dele é muito significativo para a política do DF. Eu acho que aquela frase que ele disse, que não iria entregar a alma pro diabo (que não é só um diabo), ele precisa dizer quem são os diabos e o que os diabos estavam querendo. Com certeza não era a reza. Quais eram as ofertas que os diabos queriam? Ele precisa completar o serviço. Até telefonei para ele para parabenizar pelo seu gesto.
Você perguntou os nomes dos diabos? – Não, não pedi. Estou pedindo pra ele agora, publicamente: Frejat, diga quem são os diabos e o que eles queriam de oferta! Com certeza não era vela, nem reza e nem galinha preta.
Você é tido como um deputado muito combatente, que no atual mandato também trabalhado junto às comunidades carentes. Quais são os problemas mais graves do DF hoje? – O problema mais sério em Brasília hoje é a Saúde, que está destruída. Em segundo lugar, a Segurança Pública. Eu tenho dito que o governo Rollemberg democratizou a violência. Antigamente, a violência era restrita a lugares como Ceilândia, Gama, Taguatinga. Hoje está generalizada. Vai do Sol Nascente ao Lago Sul, de Planaltina ao Lago Norte. A terceira situação mais grave é o emprego. Tem cerca de 400 mil pessoas desempregadas no DF. É o maior índice de desemprego do País. Sabe por que? Porque a burocracia tomou conta do Estado. Nós tínhamos deixado praticamente pronto o projeto de lei de ordenamento do solo, que vai destravar as coisas para voltar a gerar emprego no DF. Rollemberg deixou pra mandar o projeto este ano. Acredito que não vai ser aprovado. Até porque um dos maiores lutadores dessa causa era o Luiz Carlos Botelho, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil, que infelizmente faleceu há 15 dias. Eu, ele e o Joe Valle trabalhávamos juntos para aprovar o Código de Obras, que só saiu porque o Joe, a Telma Rufino e o presidente fomos para dentro do Sinduscon e garantimos que o processo seria aprovado. Por mais que tivesse deputado querendo atrapalhar,nós atropelamos todo mundo e garantimos que o projeto fosse aprovado. E isso é algo que me dá muito orgulho. Sou respeitado pela população mais pobre e pelo setor produtivo da cidade. Todo mundo me apoia porque sabe que se eu prometer uma coisa eu faço. Se não der pra fazer, eu falo na cara que não faço e não peço nada a ninguém.
Na falta de um nome de peso do PT para disputar o GDF, por que você não se apresentou? – Sou pré-candidato a deputado distrital. Muita gente me procurou querendo que eu fosse candidato a governador. Eu não topei esse desafio desta vez. Mas eu tenho o sonho de um dia ser candidato a governador. Mas antes da eleição eu quero apresentar, junto com meu programa de governo, todo o secretariado. Portanto, as pessoas vão votar em mim sabendo quem serão os secretários e administradores das cidades, exatamente pra não entrar no jogo da negociata depois.
Pela cláusula de barreira, o cargo mais importante para os partidos é o de deputado federal. Por que os nomes mais fortes do PT não disputam a Câmara dos Deputados? – A gente tem uma deputada excepcional que é a Érika Kokay. A deputada Erika é necessária, é fundamental para qualquer sociedade que se diga minimamente humana. Ela entra em setores que ninguém mais entra. Ela vai em segmentos da sociedade que ninguém vai. Só ela tem capacidade de ir. É uma obrigação da gente reelegê-la. A gente tem uma serie de outros nomes, como o Antônio Sabino que é morador de Taguatinga, o Expedito Veloso, funcionário do Banco do Brasil e já chegou a ser diretor do banco.
Mas os principais caciques vão concorrer para a Câmara Legislativa… –Exatamente. Serão candidatos a distrital a companheira Alerte Sampaio, o Geraldo Magela, o Roberto Policarpo e outros. Mas eu vou lutar muito para a eleição da Érika como deputada federal. Se outros nomes fortes optaram por não sair para federal é uma questão de cada um. Não foi o partido que determinou. Cada um fez o que achava melhor.
Talvez pela facilidade, por serem mais vagas para distrital? – Olha,as pessoas se enganam. A eleição de deputado distrital é muito mais difícil do que de federal. Serão mais de mil candidatos. Ai é um fenômeno que eu quero chamar atenção do leitor. Muitas vezes, a pessoa tem o pastor da sua igreja, o padre da paróquia, o compadre da sua rua,e vota nessas pessoas. Só que elas vão ter 100 votos, 2000 votos, 3000 votos. Aí, o eleitor termina votando naquela pessoa e elegendo quem não queria que fosse eleito. Portanto, tem que ter cuidado nessa questão para ver qual é o partido, quem são os caciques daquele partido, pra indiretamente não eleger quem não queria que fosse eleito. A pessoa vota no Joaquim, que é ficha limpa, excelente em tudo, e elege uma pessoa que nunca gostaria que ele eleita. Por isso que eu defendo uma reforma política no Brasil onde cada voto vale ativamente. Se são 24 deputados distritais, os 24 mais votados serão os eleitos. Valeria o mesmo para os oito mais votados para federal, como já funciona para a disputa pelo Senado.
Mas o constituinte de 1988 adotou o voto proporcional para valorizar os partidos, as ideologias… Mas hoje, com 36 partidos, qual a ideologia da maioria deles? O que justifica o cara dizer que é de centro-esquerda e se juntar com o PSDB. Eu quero muito mais: Que a pessoa vote e saiba quem está elegendo. Outra coisa fundamental que eu venho defendendo há três anos é uma constituinte exclusiva, que dotaria o Brasil de uma nova legislação, uma nova Carta Magna. Com um detalhe: Esses constituintes eleitos nunca mais disputarão um voto para nada. A missão deles será fazer a Constituição e no dia da promulgação encerrou a carreira política. É a única maneira de dotar o Brasil de uma legislação moderna e que efetivamente funcione. O Brasil precisa de uma nova Constituição para ter um novo Judiciário, porque esse que está aí não me agrada; ter um novo Ministério Público; democratizar os meios de comunicação, porque não é lícito três ou quatro famílias dominarem as empresas de comunicação do Brasil, serem mantidas pelo Estado e trabalharem para desinformar a população.
Entre os problemas do DF você não incluiria a questão da mobilidade? – No governo Agnelo, nós tínhamos o projeto dos corredores de ônibus. Deixamos pronto. Na parte norte, ligaria Planaltina à rodoviária do Plano Piloto. Do outro lado, sairia do Sol Nascente, passando pela Avenida Comercial de Taguatinga até a rodoviária. No caso de Ceilândia, Águas claras e Guara ainda teriam linhas alimentadoras do metrô. O Rollemberg parou tudo.
Não seria melhor investir em transporte sobre trilhos? – É muito mais caro é mais difícil de se fazer. Temos que arrumar uma solução rápida. Não pode continuar essa situação que estamos vivendo. Dependendo do salário que a pessoa ganha, está gastando um terço do salário com locomoção. Tem gente deixando de comer pra andar de carro, porque o transporte público não presta.