O organismo é a casa do ser humano. Portanto, é crucial cuidar bem dele para ter uma boa saúde. Entre os fatores que influenciam essa dinâmica está a alimentação. Nesse sentido, receber o acompanhamento de um profissional é importante., afinal, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), coordenada pelo Ministério da Saúde e divulgada nessa quinta-feira (25), o número de obesos no país aumentou 67,8% entre 2006 e 2018.
De acordo com o levantamento, mais de 50% da população brasileira está em condição de sobrepeso ou obesidade. Nesse quadro, 51,6% dos moradores do Distrito Federal têm excesso de peso. Pior: 18% estão obesos. O ministério entrevistou 2.092 pessoas na capital do país. Em 2017, segundo o levantamento, 47,6% de pessoas no DF tinham sobrepeso. E 15,3%, obesidade.
A Agência Brasília conversou com a nutricionista Carolina Rebelo, da Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal, para falar sobre dicas de alimentação, programas da secretaria, cuidados com o período de seca e os desafios para os profissionais da área em relação ao Distrito Federal. Confira:
Qual o primeiro passo que o cidadão do Distrito Federal deve dar caso queira receber a assistência de um(a) nutricionista na rede pública de saúde. Onde procurar?
Ele deve procurar inicialmente as unidades básicas de saúde (UBS). É onde eles vão ter um primeiro contato com as equipes de saúde da família. Esses nutricionistas vão prestar esclarecimentos sobre como conduzir o tratamento nutricional e como fazer atendimentos compartilhados com médicos e enfermeiros, quando necessário.
Há programas específicos destinados a crianças, idosos ou diabéticos, por exemplo?
Varia de acordo com as características de cada região. Os profissionais identificam qual o perfil daquela população e, a partir do perfil de doenças e necessidades, vão traçar as estratégias. Então, são formados os grupos de diabéticos e grupos de alimentação complementar, por exemplo. Em relação à nutrição existe a linha de cuidado do sobrepeso e da obesidade. Eles traçam qual deve ser o caminho do paciente dentro da rede pública. Não tendo resolutividade, eles analisam para onde o paciente deve ser encaminhado, muitas vezes envolvendo outras especialidades e médicos. Se o paciente não responde esses tratamentos ele chega à cirurgia bariátrica. Mas a ideia é que a menor parte precise passar por essa estratégia mais invasiva. O tratamento com alimentação, estilo de vida e comportamental deve fazer a diferença na vida desses pacientes.
A rede pública oferece esse tipo de procedimento (cirurgia bariátrica)?
Oferece. Temos um centro de referência e as cirurgias são realizadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Que tipos de campanha a Secretaria de Saúde promove na questão da nutrição?
As estratégias são feitas de acordo com o perfil da população. Cada Unidade Básica de Saúde (UBS) tem sua equipe de estratégia da Saúde da Família que faz o trabalho de verificar qual o perfil daquela população. Então, é feito um trabalho pontual. O Ministério da Saúde também lança vários materiais e nós encaminhamos para os nutricionistas trabalharem conforme as diretrizes do ministério.
Qual o grande desafio para os profissionais da sua área?
De um modo geral, o sobrepeso e a obesidade têm sido um grande desafio. Temos mais de 50% da população brasileira com excesso de peso. Nós saímos, décadas atrás, quando a preocupação maior era a desnutrição e, hoje em dia, para a população geral, inclusive a de baixa renda, a obesidade ou sobrepeso é bem marcante. Isso tem crescido em todas as faixas etárias e, inclusive, nas crianças. Por isso, a Secretaria de Saúde como um todo investiu muito nessa linha de cuidado para que todas as UBS saibam conduzir esses paciente da melhor forma possível.
De um modo geral, o sobrepeso e a obesidade têm sido um grande desafio. Temos mais de 50% da população brasileira com excesso de peso. Nós saímos, décadas atrás, quando a preocupação maior era a desnutrição e, hoje em dia, para a população geral, inclusive a de baixa renda, a obesidade ou sobrepeso é bem marcante.
Que dicas a pessoa que quer melhorar a alimentação deve seguir?
Fazer dos alimentos in natura e minimamente processados a base da alimentação. Procurar uma alimentação mais natural possível com menos produtos industrializados. Os minimamente processados são aqueles que passam por um processo simples de secagem e moagem, mas que mantêm o alimento íntegro. Essa é a principal orientação. Depois devemos consumir sal, açúcar, óleos e gorduras de forma controlada, sem exagerar nesses ingredientes. Consumir moderadamente os alimentos processados, aqueles enlatados ou em conserva, e evitar de forma mais rigorosa os ultraprocessados. Esses são aqueles industrializados que você reconhece pouco do alimento original ao ver a lista de ingredientes, geralmente ela vem com mais de cinco ingredientes. Eles não agregam e muitas vezes prejudicam a saúde.
Outra questão é fazer as refeições em locais tranquilos, dando o tempo que a alimentação precisa, valorizar as preparações culinárias em casa. Vivemos numa situação de pressa, de comer em restaurante e fast foods.
Resgatar essa questão do preparo do alimento em casa, com ingredientes naturais, de preferência adquiridos com produtores locais, em feiras, produtos orgânicos.
E recomendações para crianças e idosos?
É tentar ter uma alimentação mais natural possível. Com muitas frutas, legumes, verduras, grãos e cereais, principalmente os integrais. E variar. Porque às vezes a pessoa come verduras e frutas todos os dias, mas sempre as mesmas, então é tentar alternar o consumo, procurar os produtos da época.
Que tipo de sinais a pessoa pode ter para avaliar a necessidade de procurar um(a) nutricionista?
A gente sempre relaciona à mudança de peso, mas não é só isso. Essa alteração é um sinal de que o corpo não está funcionando bem, mas existem vários outros sintomas. É o caso do intestino que não funciona bem, quando está mais preso, com fezes ressecadas. É o cansaço do dia a dia, a indisposição de realizar tarefas e a má digestão. O sistema digestório é muito importante, e muitas vezes as pessoas mastigam mal, têm sintomas de má digestão, de refluxo. Se ela não tem uma boa absorção de nutrientes isso pode causar transtornos dentro do sistema digestório e até externamente. Pode acontecer uma anemia, um cansaço, o cabelo pode cair, a unha pode enfraquecer. Tudo isso pode estar relacionado à má alimentação e merece atenção.
Quais cuidados devemos tomar com a alimentação para sofrer menos no período da seca?
É fundamental ingerir muita água. Ela é importantíssima. Muitas pessoas não têm o hábito de beber água, mas aí pode se utilizar várias estratégias, como aplicativos de celular para lembrar de beber o líquido ou deixar uma garrafa com água em cima da mesa. Para as pessoas que não gostam tanto de água existem as saborizadas, que a gente pode fazer colocando casca de limão, de laranja, canela ou gengibre. É preciso tomar cuidado com outras bebidas como sucos e chás por conta do excesso de açúcar, então é dar preferência às bebidas sem açúcar.
É fundamental ingerir muita água. Ela é importantíssima. Muitas pessoas não têm o hábito de beber água, mas aí pode se utilizar várias estratégias, como aplicativos de celular para lembrar de beber o líquido ou deixar uma garrafa com água em cima da mesa.
Você poderia falar um pouco sobre a Terapia Nutricional Enteral Domiciliar (PTNED). Do que se trata?
Eu coordeno esse programa. É um programa de fornecimento de fórmulas especiais para pacientes que não conseguem se alimentar pela via oral. Existem pessoas que perdem essa capacidade por vários motivos, sejam motivos neurológicos ou câncer ou doenças que interferem na deglutição. A prioridade dele é fornecer o alimento específico para essas situações, mas, também, fornecer suplementos para alguns casos pontuados no regulamento, como os pacientes que possuem doenças como fibrose cística, erros inatos de metabolismo, câncer e lesões por pressão. Uma série de doenças que acometem o estado nutricional.