Havia programado para esta semana um artigo sobre a atuação criminosa do desgoverno Bolsonaro na gestão da pandemia no Brasil, nos levando à macabra marca de 500 mil mortes pela covid-19. Mas, não poderia deixar de prestar uma homenagem a uma pessoa que poderia ter sido mais uma vítima do desvario bolsonarista: o camarada Jacy Afonso, presidente do PT/DF. Uso o termo camarada, pois retrata bem a natureza do Jacy.
Camarada vem do grego Kamara. Significa dormitório, ou seja, refere-se àqueles que compartilham o mesmo local de dormida, de alimentação. Carrega o sentimento de amizade, solidariedade e, sobretudo, lealdade. Não por acaso seu uso inicial se deu no século XVI, na Espanha e na França, entre os soldados da infantaria, onde a lealdade e a solidariedade são valores cruciais.
Posteriormente, foi adotado na onda revolucionária que varreu a Europa, em 1848; pelos militantes da Comuna de Paris, em 1871; pelos militantes dos sindicatos e partidos social-democratas europeus, no fim do século XIX; e consagrado entre os bolcheviques, na Revolução Russa de 1917. O termo camarada continuou a ser usado na caserna e ficou muito associado à burocracia stalinista, que usurpara o poder na URSS, razão pela qual a esquerda anti-stalinista o tenha substituído por companheiro (a), que vem do latim companio, aquele que divide o pão.
Mas o termo camarada tem uma vantagem: não faz distinção de gênero. E Jacy é um autêntico exemplo de camarada, um sindicalista raiz, da safra que emergiu no Brasil no fim dos anos setenta e início dos oitenta, para os quais o sentido de coletividade se sobrepunha aos interesses pessoais. Presidiu o Sindicato dos Bancários/DF e foi tesoureiro da CUT Nacional.
Com o camarada Jacy, compartilhei as dificuldades da campanha ao GDF em 2018, momento em que o antipetismo grassava no DF e em que defender a inocência de Lula e criticar as manipulações de Moro era refutado pela grande maioria dos eleitores, e visto com ceticismo até mesmo por militantes e dirigentes do Partido. Dele, entretanto, tive toda a solidariedade.
Foi do camarada Jacy que recebi total apoio nos dois anos de dificuldades na vida profissional pelas arestas deixadas pela campanha de 2018, enquanto algumas lideranças do Partido se esquivavam. Jacy superou a ameaça de morte no mesmo hospital onde há nove anos vivi dez angustiantes dias, com minha filha Ana Laura na UTI infantil, nascida prematura com parcos 1,8 Kg. Com ele compartilho também a tristeza de ver o Gigante da Colina ao lado de seu Cabuloso das Gerais na Segundona. Jacy tem sido incansável no comando do PT-DF. Voluntarioso sem ser voluntarista; determinado, sem ser intolerante.
O número de óbitos pela covid diminui no mundo inteiro, dos EUA ao Irã, do México à Itália, mas voltou a aumentar no Brasil de Bolsonaro, superando a média de 2 mil mortes diárias. Embora o País abrigue apenas 2,7% da população mundial, atualmente nada menos que 25% dos mortos são brasileiros. Nesse ritmo, há o risco real de fecharmos o ano com 800 mil óbitos.
Triste o país em que patifes, como Bolsonaro e sua corja de milicianos, perduram, enquanto milhares padecem. Que o povo brasileiro refute, de forma categórica, os sentimentos mesquinhos e egoístas personificados pelo genocida e que frutifiquem os fluidos de solidariedade e camaradagem, tão bem representados por nosso Camarada Jacy.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia e candidato do PT ao GDF em 2018