Em 1988, fez grande sucesso o filme “Um Príncipe em Nova York”, de John L|andis, em que Akeen, interpretado por Eddie Murphy, é um príncipe de um país africano que, para fugir de um casamento arranjado por seu pai, circula por Nova York à procura de uma noiva. Trinta e três anos depois, Bolsonaro andou por NY procurando holofotes e espalhando mentiras. Diante do destrambelhado e vexatório discurso de 15 minutos na sede da ONU, fica a dúvida se Bolsonaro é louco, cínico, vive num mundo paralelo ou é tudo isso.
Por incrível que pareça, a única verdade dita está em sua primeira frase: “O Brasil mudou, e muito, após janeiro de 2019”. Só não disse que pra pior, muito pior. Em seguida, afirmou: “Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em TVs”. E lançou uma profusão de mentiras sobre os mais variados temas.
Economia
Sobre economia: “Tivemos um dos melhores desempenhos entre os países emergentes”; “meu governo recuperou a credibilidade externa”; “tivemos o barateamento da produção de alimentos” (mas não dos preços); “estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso de corrupção”; e, pasmem, “concedemos um auxílio emergencial de 800 dólares (o auxílio de R$ 250 equivale a US$ 47). E concluiu confessando a entrega do Brasil: “Leiloamos 34 aeroportos e 29 portos”. Esqueceu-se de citar a entrega da Eletrobras, da Transpetro, da BR e dos Correios.
Sobre a questão ambiental: “reduzimos o desmatamento em 32%”; “84% da floresta Amazônica está intacta” (esqueceu-se de dizer que sob forte ameaça de seu governo); “nossa agricultura sustentável alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo (mentira já aqui desmascarada); e “destinamos 110 milhões de hectares para nossos 600 mil índios” (que outros governos destinaram e que ele tenta confiscar).
Delírio comunista
Não podia faltar o discurso anticomunista: “estávamos à beira do socialismo”; “nosso BNDES era usado para financiar obras em países comunistas” e “recepcionamos foragidos da ditadura bolivariana”. Tampouco o afago à máfia de fundamentalistas religiosos: “o Brasil tem um presidente que acredita em Deus” (sic); e “vamos conceder vistos humanitários para cristãos afegãos” (sic). E concluiu: “Em 7 de setembro, milhões de brasileiros foram às ruas em defesa da liberdade e da democracia” (sic).
Único chefe de Estado do G-20 não vacinado, destilou um rosário de sandices sobre a covid: “Sempre defendi o combate ao vírus”; “somos contra o passaporte sanitário ou qualquer outra obrigação relacionada à vacina”; “apoiamos o tratamento precoce”; e, tentando justificar o fracasso de seu governo, disse que “as medidas de isolamento social deixaram um legado de inflação e desemprego”.
Ao vermos alguns brasileiros não imunizados entrando nos EUA; o ministro da saúde “dando o dedo médio” para manifestantes; a comitiva se reunindo com o fascista presidente polonês Andrzej Duda e a patética foto de Bolsonaro, Queiroga, Ramos e mais meia dúzia de pulhas comendo pizza numa calçada da Big Apple, nos lembramos de outro filme. Este, de Martin Scorsese: “Gangues de Nova York”.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia