Qualquer cidadão minimamente informado sabe como funciona o modus operandi de um país imperialista. Desde o Império Romano, passando pelo Império Britânico e o Francês, até o Soviético e o Norte-americano, os imperialismos acionam, além de seus vastos recursos econômicos e bélicos, a cooptação de aliados nos países subjugados. Sem os milhares de indianos cooptados, os britânicos não lograriam submeter a imensa e populosa da Índia por mais de um século. Do mesmo modo, Stálin e seus sucessores não teriam sucesso em submeter as nações do Leste Europeu sem os milhares de agentes naqueles países.
E assim ocorre com os norte-americanos. Os EUA, desde o início do século XIX, com a Doutrina Monroe, consideram a América Latina seu “quintal”. Qualquer país que buscou sair de seu controle, foi (e é) severamente castigado, situações atuais de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Em inúmeros casos o imperialismo agiu para derrubar governos progressistas, como o de Jango no Brasil, em 1964; o de Allende no Chile, em 1973; e o de Evo Morales na Bolívia, em 2019.
Pouco se fala, contudo, sobre a situação atual do Brasil, silêncio que foi quebrado pelas declarações do insuspeito ex-agente da CIA, John Kiriakou, que chegou ao elevado posto de assistente executivo do vice-diretor de operações da CIA. Em entrevista ao DCM, revelou que o establishment norte-americano (republicano ou democrata) “não gostava dos governos progressistas de Lula e Dilma. Queria alguém bem mais à direita. E um programa foi traçado para destruí-los, com o apoio de Wall Street”.
Moro, Lava Jato e DOJ
Segundo Kiriakou, os vazamentos revelados pela Vaza Jato (The Intercept) mostraram o envolvimento direto de Moro e da Lava Jato com o Departamento de Justiça norte-americano (DOJ). Afirma que, além deste, houve a participação direta dos Departamentos de Estado, de Segurança Interna, do Tesouro e, claro, da CIA. O ex-agente citou uma mensagem interceptada do procurador Deltan Dallagnol se referindo à prisão de Lula como um presente da CIA e a inusitada visita que Bolsonaro e Moro fizeram em março de 2019 à sede da CIA em Langley, Virgínia.
Não se trata de uma teoria da conspiração, segundo Kiriakou, mas de um excelente exemplo da interferência dos EUA nos assuntos internos de outro país, instalando líderes de quem eles gostem e que irão apoiar a agenda americana. São, no fim das contas, ações que visam conferir vantagens às empresas americanas. Vantagens no comércio, nas finanças.
Prejuízos à economia nacional
Comprovando a análise de Kiriakou, um estudo realizado pelo Dieese constatou que a ação da Lava Jato no Brasil resultou em enorme prejuízo à economia nacional de 2014 a 2017, afetando severamente os setores de óleo e gás e a construção pesada. Apenas nestes dois setores houve queda de investimentos da ordem de R$ 172,2 bilhões, resultando na perda de R$ 244,6 bilhões em valor agregado; de 4,4 milhões de empregos; de R$ 85,8 bilhões de massa salarial; de R$ 47,4 bilhões em impostos e de R$ 20,3 bilhões em recolhimento de FGTS e contribuição previdenciária. Grandes empresas foram quebradas e vem se fatiando a privatização da Petrobras (rede de oleodutos e gasodutos, refinarias e a BR Distribuidora).
A oito meses das eleições, um dos agentes norte-americano quer se manter no poder e ou outro quer chegar lá.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital