Os brasilienses produzem, diariamente, mais de 9 mil toneladas de lixo. Essa montanha de resíduos é depositada a menos de 15km do centro da capital. O Lixão da Estrutural é o maior problema ambiental e social de Brasília e deveria ter sido fechado há pelo menos uma década. Mas, até hoje, os rejeitos contaminam o solo e a água do DF e atraem uma legião de miseráveis, que procuram a subsistência em meio ao chorume e ao mau cheiro.
Na semana passada, um garoto de 11 anos foi assassinado em uma vila de catadores vizinha ao lixão. O motivo do crime chocou a cidade: Maurício Costa perdeu a vida por causa de um videogame. Apesar de ser uma vergonha para o Distrito Federal, não há data para o fechamento do maior lixão da América Latina. As obras do aterro sanitário estão avançadas, e as operações devem começar ainda neste semestre. Mas os galpões de triagem nem começaram a ser construídos; por isso, o governo estima que a desativação completa da montanha de lixo que jaz na Estrutural não deve ser concluída antes de 2018.
Desde os anos 1960, mais de 30 milhões de toneladas de lixo passaram pela Estrutural. A área é vizinha ao Parque Nacional, a maior unidade de preservação do DF. Pesquisas mostram que o subsolo e os recursos hídricos da capital estão comprometidos pelos resíduos amontoados nas últimas décadas. A solução definitiva do problema é o novo aterro de Samambaia, em construção às margens da DF-180. O Correio visitou as obras do empreendimento, onde dezenas de tratores circulam todos os dias para acelerar a conclusão da primeira fase. A previsão era que o local entrasse em funcionamento até 30 de junho. O prazo não será cumprido, e o GDF evita marcar outra data. A promessa é inaugurar no segundo semestre.
O aterro sanitário de Samambaia tem capacidade para receber 8 milhões de toneladas de lixo, o que representa vida útil de 13 anos. Mas esse tempo de sobrevivência pode ser maior, caso cresçam as iniciativas de coleta seletiva na cidade. Ao contrário da Estrutural, que absorve lixo tradicional, material reciclável e até rejeitos da construção civil, a área receberá resíduos convencionais, que não podem ser reaproveitados. Ela será cercada e terá seguranças. A entrada de catadores será proibida, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O governo não investe na construção. O Executivo cedeu a área ao vencedor da licitação, o consórcio GAE/Construban/DBO, que ficará responsável pelas obras e pela operação. O acordo prevê repasses de R$ 82 milhões em cinco anos. Além disso, o governo firmou outros cinco contratos para obras como sede administrativa, instalação da balança de pesagem dos caminhões, iluminação, estação elevatória de chorume, além de uma nova escola de ensino fundamental, pois havia um colégio que precisou ser desativado. Essas construções somam mais R$ 30 milhões.
O diretor adjunto do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Silvano Silvério, explica que o novo lugar tem a classificação de aterro sanitário, já que segue determinações legais. “Além da proibição da presença de catadores, ele não terá a contaminação do solo nem emissão de gases de efeito estufa. Haverá uma cerca vegetal para impedir a propagação de mau cheiro”, diz Silvano. A preparação inclui a colocação de uma manta impermeável sobre 1,5 metro de argila compactada. Tudo para evitar que haja infiltração de chorume. Também serão colocados drenos verticais para a queima do gás metano.
Triagem
Das 9 mil toneladas de lixo produzidas diariamente pelos brasilienses, 2,9 mil são de resíduos convencionais que começarão a ser destinados para Samambaia. Mas, no início da operação, o aterro só receberá 300 toneladas por dia, ou seja, 10% do total. A intenção é aumentar aos poucos o montante enviado ao novo aterro. Um dos motivos da transferência gradativa é não acabar bruscamente com a fonte de renda dos catadores. Mais de 2,8 mil pessoas dependem do lixo para sobreviver.