O pequeno auditório na cobertura do simpático edifício Ana Carolina, na quadra 504 Norte de Brasília, botava gente pelo ladrão no final da tarde de quinta-feira (27). Ao microfone, discursos mornos como as coxinhas e risoles sobre a mesa. Na parede, o quadro fotoshoppado do anfitrião, pessoalmente bem mais envelhecido do que o retrato emoldurado acima de sua cabeça.
Roberto Jeferson, o ex-deputado que denunciou o Mensalão e iniciou o processo de desestabilização dos governos petistas, cumpriu dois anos de prisão e contou o que ficou de lição: “precisamos reconhecer nossos erros, nos arrepender deles e pedir perdão a Deus”. Com este espírito, ele veio do Rio de Janeiro para homologar a filiação do novo presidente regional do seu PTB, Alírio Neto. Na platéia uma plêiade de políticos, boa parte deles de olho na cadeira hoje ocupada pelo socialista Rodrigo Rollemberg no Palácio do Buriti.
Investido da função de mestre de cerimônia, o líder maçônico Jafer Torres comandava o uso da palavra. Um a um, foi chamando os líderes para discursar: Paulo Octavio (PP), Alberto Fraga (DEM), Izalci Lucas (PSDB), Jofran Frejat (PR), Tadeu Filippelli (PMDB), Joe Vale (PDT), Valmir Campelo (ministro do Tribunal de Contas da União que mantém relações históricas com o PTB), Eliana Pedrosa (PPS) e, claro, o anfitrião Jeferson e o recém-chegado Alírio.
A pregação da “união em defesa de Brasília” povoou todas as falas. Da mesma forma que cada um tentou demonstrar que seu único interesse é estar na cabeça de chapa no pleito de 2018. Ou seja, a coesão só vale quando significar adesão dos demais aos seus interesses pessoais.
Candidatos de si mesmos ou de seus próprios grupos, eles sabem que o blefe faz parte do jogo. Muitos se posicionam como concorrentes a chefe do Executivo, mas se contentarão com uma vaga de vice, de senador ou mesmo uma boa legenda para as Câmaras dos Deputados e Legislativa. Mas isto, hoje, ninguém admite. Existem, entretanto, aqueles irão até o fim em suas pretensões. E é aí que podem ocorrer os rachas e as defecções.
Palmas para Gim
A maioria dos que compareceram à sede nacional do PTB ficou mesmo como espectador. Jeferson citou vários ausentes como “amigos com A maiúsculo”. Entre estes, o ex-senador e ex-presidente regional da legenda, Gim Argello, condenado a 19 anos e preso em Curitiba por envolvimento no escândalo desbaratado pela operação Lava Jato. Numa espécie de gesto de desagravo, Gim foi o mais aplaudido pela plateia.
Vários presidentes de partidos compareceram. Entre eles, Salvador Bispo, do PR, ao qual é filiado o ex-governador José Roberto Arruda. Legendas menores, como o PRB, o PTN, o PHS e o PMN também marcaram presença.
Dos atuais distritais estavam lá Agaciel Maia (PR), Welligton Luiz (PMDB), Joe Valle (PDT), Rodrigo Delmasso (PTN) e Raimundo Ribeiro (PSDB). Na fila de ex-parlamentares foram vistos Tadeu Roriz, Benício Tavares, José Edmar Cordeiro, Geraldo Naves e Washington Mesquita.
O senador Hélio José (PMDB-DF) e o deputado Benito Gama (PTB-BA) foram “levar um abraço” a Alírio Neto. Sentado ao lado de Roberto Jefferson estava o ex-senador Wilson Santiago (PTB-PB). Ele foi investigado no Ministério da Fazenda, que o acusava de usar “laranjas” na construtora Adrina, que tem dívida milionária com a Receita Federal. Para evitar confisco, Santiago teria repassado o patrimônio para a empresa do filho.
Ausentes
Embora comemorando as “marcantes presenças” entre seus convidados, Alírio Neto lamentou pelo menos duas ausências: a do deputado Rogério Rosso, presidente do PSD local, e a da deputada distrital Liliane Roriz, agora sua correligionária. “Convidei o Rogério. Ele deve ter tido algum problema”. Quanto a Liliane, esquivou-se de comentar a possibilidade de ela sair do PTB devido à sua chegada. “A família Roriz é muito representativa e para nós é uma honra tê-la no PTB. Ela tem potencial para concorrer a qualquer cargo de deputada federal para cima”.
Rollemberg: é muito cedo
A mobilização dos opositores é vista como precoce pelo governador Rodrigo Rollemberg. “É prematuro prever qualquer coisa com relação a 2018”, disse, recentemente, em entrevista ao portal Congresso em Foco. Ao Brasília Capital o secretário de Comunicação Luciano Suassuna responde que o governador tem reiterado ser muito cedo para falar em eleição. “Ele está empenhado em fazer o que é melhor para Brasília”.
Mas Rollemberg vive uma sinuca de bico. Apesar de se dizer favorável ao governo de Michel Temer (PMDB) e gozar de boa relação com o Planalto, precisa dialogar com Filippelli para garantir investimentos para o DF. Como o assessor do presidente da República é um dos principais nomes da oposição, o socialista teme fortalecer o potencial adversário.
“Sempre tive uma boa relação com o Filippelli. Acho que a questão eleitoral vai se colocar só em 2018”, esquivou-se. “O que eu tenho procurado fazer como governador de Brasília é ajudar o presidente Temer a fazer o melhor trabalho possível para retomar o crescimento. A disputa política fica para daqui a dois anos”, concluiu.
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