Júlio Miragaya (*)
Desde as lutas contra a carestia gerada pela política econômica da ditadura militar no fim dos anos 1970, a palavra de ordem do título acima vem embalando passeatas e manifestações Brasil afora. Quem nunca a gritou ou com ela concordou?
Provavelmente, banqueiros, latifundiários, grandes empresários e outros endinheirados, para quem a escassez e preços elevados desses bens e o não provimento pelo Estado desses serviços não fazem a menor diferença. Mas, para a grande maioria do povo brasileiro, têm uma vital importância, pois trata-se da sobrevivência da família e a perspectiva de um futuro melhor.
Pois é precisamente isto que estará em jogo em 2 de outubro próximo. Embates com o STF, voto impresso e auditável, proibição do aborto, motociatas. Tudo não passa de tentativas de um presidente despreparado para desviar a foco do principal: o retumbante fracasso de seu governo em atender as mais elementares demandas do povo.
Sim, o balanço de três anos e meio de desgoverno Bolsonaro é de total fracasso na área econômica: maior inflação desde 1995, juros nas alturas, déficit fiscal e dívida pública recordes.
E na área social, o cenário é igualmente catastrófico: elevada taxa de desemprego e crescente precarização do trabalho; queda da renda dos trabalhadores; a saúde pública vivendo o caos, com ministros da área atuando como cúmplices da pandemia; a educação pública enfrentando, além do mais absoluto abandono, tentativas de militarização das escolas etc etc.
Para coroar o desastre, a propagação da fome, com o povo sendo massacrado por uma cavalar inflação dos itens da cesta básica (arroz, feijão, mandioca, óleo comestível, açúcar, carne etc). A tudo isso se somam aumentos absurdos nos preços do gás de cozinha, energia e combustíveis.
Neste cenário dantesco, enquanto cantores sertanejos bolsonaristas continuam fazendo apologia do agronegócio e sugando o escasso dinheirinho de prefeituras miseráveis e a Paraná Pesquisas – que firmou contrato de R$ 1,62 milhão com o Ministério das Comunicações – divulgando que Bolsonaro está a apenas 6 pontos de Lula, resta ao povo, até 2 de outubro, gritar a plenos pulmões: arroz, feijão, saúde, educação!
Mudanças climáticas e desastres naturais?
A mudança no clima que acontece no planeta Terra, e que se acentuou nos últimos 40/50 anos, não é nada casual ou castigo divino. Ela decorre da desenfreada exploração que o capitalismo executa sobre os recursos naturais, aumentando de forma exponencial o número de desastres naturais em todo o mundo.
E quando este cenário se associa a um total descaso do poder público na prevenção e mitigação desses desastres, o problema assume contornos de tragédia. É o caso das enchentes e deslizamentos de terra no Brasil, que sempre ocorreram e que sempre geraram muitas vítimas – quase sempre pessoas pobres que, sem alternativa de moradia, foram se fixar na beira de rios e em encostas na periferia das grandes cidades – mas que, com Bolsonaro, bate recordes.
A razão é que os recursos destinados pelo governo para obras de contenção de encostas em áreas urbanas caíram de R$ 997,1 milhões em 2012 (Dilma) para R$ 36,6 milhões em 2021. Ou seja, 25 vezes menos. O resultado é que, se em seis anos, de 2013 a 2018 (governos de Dilma e Temer), o número de mortos em decorrência de chuvas somou 496 (média de 83/ano).
Nos três anos e meio de desgoverno Bolsonaro, quadruplicou, somando 1.280 (320/ano), sendo que 470 só neste ano, notadamente na Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Mas, para Bolsonaro, assim como na pandemia, essas centenas de pessoas iriam morrer mesmo!
Faltam 4 meses!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia