“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”.
A frase é do livro “Nada Menos que Tudo”, do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na quarta-feira (26), ele revelou a “O Estado de São Paulo” que a autoridade era o ministro Gilmar Mendes, do STF. Janot disse que, após matar o magistrado, cometeria suicídio.
Segundo Janot, ao encontrar Mendes sozinho na antessala do plenário do Supremo, chegou a sacar a pistola, mas não puxou o gatilho “somente porque a mão invisível do bom senso tocou no meu ombro e disse: não”.
Os dois protagonizaram um longo embate enquanto Janot ocupou o cargo, de 2013 a 2017, com constantes trocas de críticas. Mas o ex-PGR disse ter chegado ao um limite quando Mendes envolveu sua filha numa das pendengas, depois de Janot ter pedido ao Supremo que considerasse o ministro suspeito para julgar um habeas-corpus de Eike Batista.
O argumento era de que a esposa do ministro, Guiomar Mendes, trabalhava em um escritório de advocacia que prestava serviços ao empresário. Em seguida, circulou na imprensa a informação de que a filha de Janot, Letícia Ladeira, defendia a empreiteira OAS – envolvida na Lava Jato – em processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O ex-PGR atribuiu a divulgação da informação a Mendes e, por isso, cogitou matá-lo.
“Confesso que estou algo surpreso. Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer”, escreveu Gilmar Mendes em nota divulgada nesta sexta. E arrematou: “Recomendo que procure ajuda psiquiátrica”.
Ah!. Segundo o Houaiss, algaravia significa linguagem confusa, incompreensível. O que é difícil de entender.