Qualquer condutor que ousa parar o veículo fora do estacionamento pago do aeroporto de Brasília corre sério risco de ser multado. As principais vítimas são os motoristas de aplicativo de transporte. Eles são unânimes em reclamar do rigor da Polícia Militar nas autuações.
Ao contrário dos taxistas, os motoristas de aplicativos não têm um lugar reservado para embarcar e desembarcar passageiros. Por isso, são obrigados a parar nas áreas de embarque e desembarque destinadas aos carros particulares, onde acabam multados. A infração varia de acordo com o tipo de irregularidade, de leve (R$ 88,38 e três pontos na CNH) a gravíssima (R$ 293,47 e sete pontos).
Uma multa dessas equivale a mais de um dia de trabalho desses profissionais. Muitas vezes, para ganhar o valor bruto das autuações – sem descontar o desgaste do veículo e a despesa com combustível – eles precisam fazer mais de uma dezena de viagens, o que pode representar uma jornada inteira ao volante.
Motorista cadastrada no aplicativo Uber, Aline Arcanjo, de 29 anos, foi multada quatro vezes enquanto esperava passageiros no aeroporto. Isso fez com que ela passasse a evitar corridas para o terminal, mesmo quando o indicador do aplicativo aponta “tarifa dinâmica” – quando o motorista recebe mais para buscar passageiros em determinado lugar.
“Nunca fiquei lá por muito tempo. Só de aguardar no local, se os PMs passarem, multam indiscriminadamente. Desde quando comecei a rodar no aplicativo, há um ano e meio, isso acontece”, disse.
Inframérica não atende a PM
O chefe do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran), coronel Souza Oliveira, garante que não existem militares atuando no aeroporto desde o dia 9 de fevereiro. Eles foram remanejados para o combate a alcoolemia no trânsito e salvamento de vidas durante o carnaval. E não voltarão para o aeroporto.
“Ali só está pacificado, hoje, por conta da Polícia Militar, pois já existiu ameaça de morte, lesão corporal e danos materiais entre taxistas e motoristas de aplicativos. Tivemos casos de agressão mútua, que poderia envolver todos que estavam por lá, em um passado bem recente. Poderia se generalizar”, disse.
O coronel afirmou, ainda, que foi solicitada à Inframérica a sinalização no local para explicar a diferença entre estacionar e parar, publicidade em telas do aeroporto e aumento no tempo de franquia no estacionamento, de 10 para 15 minutos, para melhorar o fluxo. Porém, o pedido não foi atendido.
Concessionária diz que colabora
O Consórcio Inframérica Aeroportos é quem toma conta do Aeroporto Internacional de Brasília e informou que colabora com as forças de segurança e órgãos de trânsito. Segundo ela, as áreas de embarque e desembarque de passageiros devem ser utilizadas apenas para este fim.
Em nota ao Brasília Capital, a Inframerica assegura que “tem realizado negociações com as empresas prestadoras de serviços de transporte individual de passageiros para a contínua melhoria na oferta de tais modais ao público do Aeroporto. Assim que as tratativas estiverem concluídas, as novidades serão devidamente comunicadas a todos os interessados”.
Taxistas apontam desrespeito
Os taxistas não sofrem com o problema, já que possuem uma área própria na plataforma inferior. Para Leudo do Carmo, de 50 anos, que está há 16 anos na praça, os “particulares” são mais desleixados e estacionam em qualquer lugar. “Isso só acontece com quem desembarca o passageiro no lugar errado”, defende.
Maria Luiza, de 58 anos, motorista de táxi há 25 anos, concorda com o colega. “Eles não respeitam a sinalização e não estão nem aí. Uma vez um PM que trabalha no aeroporto disse que os taxistas não dão trabalho. Quem causa problema é o pessoal do Uber.
Sindicato cobra área
O Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transporte Privado Individual por Aplicativos no Distrito Federal (Sindmaap-DF) se articula para buscar melhorias. Em janeiro, a entidade se reuniu com policiais do BPTran. No encontro, o presidente da entidade, Marcelo Rodrigues, atestou que ele próprio foi multado durante uma corrida até o aeroporto.
“Tomei uma multa em dezembro. Se demorar dois minutos a mais, já era. Eles simplesmente autuam, não informam, não orientam. Colocam no registro desde falta de uso de cinto até estacionar em local proibido. Precisamos de uma área para o pessoal dos aplicativos”, afirmou.
O sindicato dispõe de um departamento jurídico para recorrer das multas aplicadas pela PM. Segundo Rodrigues, existem cerca de 20 autuações aguardando recurso.