Pouco mais de um ano após o início da pandemia, os incansáveis profissionais da saúde buscam fôlego em meio ao caos para continuarem salvando vidas. Além do medo da covid-19, à qual estão diariamente expostos, eles enfrentam o esgotamento emocional. Segundo dados da Fiocruz, o dia a dia exaustivo desses trabalhadores afeta a vida pessoal de 95% deles, desde perturbações do sono até falta de apetite.
O levantamento, que ouviu mais de 25 mil profissionais, aponta que, para 15,8%, uma das consequências do excesso de trabalho aliado às condições e ao medo da doença, é a perturbação do sono. Outras alterações comuns observadas são a irritabilidade ou choro frequente (13,6%), a dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%) e a perda de satisfação na carreira. Outros 9,1% têm sensação negativa quanto ao futuro; 8,3% têm ou tiveram pensamentos suicidas e 8,1% apontaram alteração no apetite ou alteração do peso.
“Após um ano de caos sanitário, a pesquisa retrata a realidade daqueles profissionais que atuam na linha de frente, marcados pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental. Trabalham em ambientes de forma extenuante, sobrecarregados para compensar o elevado absenteísmo. O medo da contaminação e da morte iminente acompanham seu dia a dia”, avaliou a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado, em nota divulgada pela Fiocruz.
No Distrito Federal, a constatação da Fiocruz também se aplica. O estresse dos médicos e de outros profissionais de saúde é evidente. No SindMédico-DF, são recorrentes as denúncias de superlotação e, ao mesmo tempo, falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) nas unidades públicas de Saúde. O resultado: trabalhadores com medo, sofrendo pela exaustão, pela sensação de incapacidade (quando não conseguem salvar vidas) e pelo descaso com a área, que é histórico, mas ficou evidenciado com a pandemia.
Nesta semana, os leitos públicos de UTI atingiram 100% da capacidade de ocupação. Registrados no sistema, 390 pacientes aguardavam na fila por uma vaga. Ao mesmo tempo, os administradores dos cemitérios Campo de Esperança afirmaram, na quinta-feira (25), que dois cemitérios estão próximos da capacidade total. Apenas na quarta-feira (24), foram contabilizadas mais 50 mortes devido à covid-19 no DF.
E no meio desse caos não há qualquer dado recente, levantado pela Secretaria de Saúde (SES-DF), sobre o absenteísmo por doença dos servidores da Pasta. A última pesquisa foi feita em 2019. Mais um fato que revela a negligência dirigida à área e aos profissionais da linha de frente durante esta pandemia. Que tenhamos logo vacina para todos e consciência dos nossos atos. Caso contrário, no futuro, temo que haja uma nova pandemia, resultado desta: a da saúde mental.