As reformas concebidas na Glasnost e Perestroika propunham conceder autonomia de decisão aos gerentes de empresas estatais, a introdução de mecanismos de mercado na economia e permitir atividades econômicas privadas individuais e de cooperativas.
Em 1986 é aprovada lei sobre a atividade individual e em 1987 nova lei sobre empresa estatal. Os planos centrais do Gosplan não eram mais obrigatórios, e somente parte da produção seria comprada pelo Estado. O restante poderia ser vendido no comércio entre empresas. Era a liquidação da economia planificada.
Em 1988 é aprovada a lei sobre as cooperativas, podendo funcionar como empresas privadas, inaugurando uma nova classe de homens de negócios. Elas deviam ser de pequena escala (reparos residenciais, encanadores, eletricistas, construção civil etc). Mas se tornaram grandes empresas de crédito, de comércio exterior, formando joint ventures com empresas estrangeiras e contratando funcionários não membros da cooperativa (introdução do trabalho assalariado).
As maiores foram criadas pelos gerentes de estatais, que associavam vários de seus funcionários. Compravam os bens produzidos pelas empresas (a preços tabelados), faziam alguma maquiagem e os vendiam a preços livres. Em dezembro de 1989, um mês após a derrubada do Muro de Berlim, já existiam 3 milhões de cooperativados na União Soviética.
Em junho de 1991, Yeltsin foi eleito presidente da Federação Russa. e em dezembro daquele ano ocorreu a dissolução da URSS. Os cooperativados já ultrapassam os 6,2 milhões, mas 90% da economia ainda estava sob controle do Estado, contra 10% sob controle privado.
Mas o golpe de misericórdia na propriedade social estava ainda por vir. Em janeiro de 1992 iniciou-se o plano de transição para a Rússia, assentado em 4 eixos: a) liberação total dos preços; b) abertura comercial e câmbio flutuante; c) maior restrição orçamentária/racionamento do crédito; d) privatização das empresas estatais/introdução de um sistema de direitos de propriedade.
Em outubro 1992 foi constituída uma agência governamental para a privatização (GKI), que fez a introdução dos “vouchers”, papéis que eram vendidos por preço simbólico a todos os russos para participarem de leilões das estatais, sendo que a maior parte foi transferida aos próprios funcionários.
Com a liberação dos preços e a consequente queda dos salários reais, muitos funcionários, para sobreviver, não tiveram outra alternativa que não venderem seus vouchers antes dos leilões por preços baixos para quem tinha dinheiro para comprá-los, justamente os gerentes das empresas estatais enriquecidos nas cooperativas, além dos fundos de investimento e instituições financeiras privadas.
Em 1994, as atividades privadas já respondiam por 47% da economia russa. Em 1995 é introduzido novo esquema de privatização – os chamados empréstimos contra ações. Os fundos de investimento e os bancos emprestavam dinheiro ao Estado por dois anos em troca de ações das maiores estatais exportadoras de comodities.
Como o Estado não quitou os empréstimos, as ações dessas empresas altamente lucrativas passaram para as mãos privadas. Dessa forma, as atividades privadas ascenderam a 70% da economia russa em 1997, com apenas 30% sob controle do Estado.
De 1985 a 1998 a economia russa passou por uma enorme depressão. Nesses 14 anos houve um decréscimo acumulado do PIB da ordem de 30%, período em que a casta burocrática do PCUS e do Estado Soviético se transformou numa nova classe capitalista, se apropriando, “na mão grande”, do que era propriedade social de 280 milhões de soviéticos.
Em julho de 1998 o burocrata Vladimir Putin, ex-agente da KGB, assumiu a chefia do Serviço Federal de Segurança (sucessor da KGB) e em agosto de 1999 foi nomeado primeiro-ministro por Yeltsin. Em dezembro ocorreu a renúncia de Yeltsin e Putin assumiu a presidência interinamente, sendo eleito em maio de 2000 presidente da Federação Russa.
O temor de Lenin de que a Revolução Russa pudesse sucumbir começou a se consumar 60 anos após sua morte. A propriedade social dos meios de produção foi substituída pela propriedade privada, e os burocratas do PCUS tornaram-se os novos donos dessas empresas.
A concentração da renda e da riqueza, como demonstrou Thomas Piketty, alcançou proporções nunca vistas na história da humanidade, e a miséria de centenas de milhões convive com a opulência de um grupelho de bilionários.
No centenário da morte de Lênin, as motivações que embalaram os sonhos de milhões de proletários russos por uma sociedade justa e solidária estão mais do que presentes. O que falta é direção política.