Pode cair a qualquer momento o general improvisado como Ministro da Saúde. Ao ser empossado pelo presidente sociopata em maio de 2020, o Brasil se deparava há dois meses com uma forte pandemia, que Bolsonaro dizia se tratar de uma gripezinha, mas que já havia contaminado 218 mil pessoas e levado 14,8 mil a óbito.
Passados dez meses, o resultado da gestão do general-ministro foi o aumento do número de infectados para 12 milhões e o de mortos para quase 300 mil. Em 2021 o Brasil ultrapassou os EUA e alcançou a liderança mundial em contaminação e mortes pelo vírus.
Só neste mês de março deverão ser mais de 2 milhões de contaminados e mais de 50 mil mortos. De cada 1.000 habitantes do planeta, somente 27 são brasileiros, mas de cada 1.000 seres humanos que morreram nas últimas duas semanas pelo vírus, nada menos que 230 eram nascidos no Brasil.
Há três ou quatro anos tornou-se comum militantes da extrema direita pedirem intervenção militar no Brasil, três décadas após o fim da melancólica ditadura militar. E não é que a intervenção militar vem ocorrendo progressivamente, pois o pançudo general não é um caso isolado.
Estima-se que sejam, hoje, de 6 mil a 12 mil militares ocupando cargos civis e algumas dezenas de generais inaptos dirigindo ministérios e órgãos do alto escalão, tais como o general Gustavo “Centrão” Heleno, o general Luiz “toma lá, dá cá” Ramos, o general Villas “tuíte” Boas etc.
Todos comandados por um ex-capitão genocida, levando o país para o precipício. Isso está maculando a imagem das FFAA e das centenas de milhares de militares que permanecem em suas funções nos quartéis.
Diz o Artigo 152 da Constituição Federal: “As Forças Armadas (FFAA) são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
O Artigo deveria parar em “à defesa da Pátria”, para não dar margem a interpretações indevidas. Mas não há nada na Constituição Federal que permita que as FFAA intervenham no cenário político do País.
Seu custo para o País não é pequeno: são R$ 120 bilhões anuais, orçamento inchado por privilégios e mordomias. Em dez anos, em valor presente, R$ 1,2 trilhão, suficientes para construir 12 milhões de habitações do MCMV (R$ 600 bilhões) e zerar o déficit habitacional do
Brasil e ainda universalizar o acesso à água potável, esgoto sanitário, coleta de resíduos e drenagem (R$ 480 bilhões), beneficiando 105 milhões de brasileiros E ainda sobrariam R$ 120 bilhões.
Não se está defendendo aqui a extinção das FFAA – isso é uma proposta liberal e antinacional – pois elas são necessárias para a defesa da soberania do País. Mas torna-se necessário repensar a formação de seus quadros, notadamente do oficialato, centrada na arcaica ideologia anticomunista.
Enfim, lugar de militar é no quartel. Não mais se admite generais se sentindo no direito de tutelar a nação, ameaçar o STF e dizer quem pode ser candidato à presidência do país, como tampouco comandar empresas públicas, como a Petrobras, ou ministérios, como o da Saúde. Basta!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia